Kwanza-Sul - A "péssima" condição social a que estão submetidos muitos dos ex-militares da antiga FAPLA, na província do Kuanza-Sul, está a ser considerada pelos antigos guerrilheiros como tendo atingido níveis críticos de preocupação.

Fonte: NJ
O cenário que se vive é de total insatisfação e, segundo relatos de muitos ex-militares que falaram sob anonimato ao Novo Jornal, poderá a qualquer momento desembocar em manifestações para repudiar as "péssimas condições sociais" em que se encontram mergulhados.

Os subsídios dos combatentes em causa - considerado por eles como uma gota no oceano -, a situação habitacional e a falta de apoio para a formação de associações agrícolas são algumas das queixas apresentadas e que poderão servir de mola impulsionadora para a organização de uma manifestação em toda a província.

Por toda a província observa-se, com alguma frequência, a presença de ex-militares agarrados a trabalhos como a de "reboteiro", moto-taxistas, pescadores e agricultores para poderem sobreviver.

Em número bastante reduzido, encontram-se ainda alfaiates e sapateiros e há até quem se dedique à mendicidade para conseguir levar algum dinheiro à casa para alimentar a família.

Este quadro levou os responsáveis da Associação dos ex-Combatentes das FAPLA e da Associação dos Antigos Guerrilheiros, ambas organizações filantrópicas vocacionadas para a defesa dos interesses dos ex- -militares, a mostrarem o seu descontentamento à rádio local.

O chefe de departamento da Associação dos ex-Combatentes das ex-FAPLA (ASCOFA) no Kuanza-Sul, Alfredo Santos, considerou a situação dos seus associados como "altamente crítica".

A ASCOFA controla 16.168 combatentes das ex-FAPLA. Deste número, cerca de 15.154 efectivos, entre sargentos e soldados, receberam os respectivos subsídios, antes das eleições de 2012. Restam perto de 2 mil que continuam a clamar pela subvenção. Um número reduzido beneficiou de apoios do Instituto de Reintegração Social dos Ex-Militares (IRSEM).

A condição habitacional e a falta de oportunidades para os ex-FAPLA foram afloradas por Alfredo Santos, que aduziu ainda os péssimos e ínfimos subsídios que foram pagos no ano passado aos ex-FAPLA.

"Quanto à situação dos subsídios, a nível do governo prometem que dentro em breve haverá a segunda etapa dos pagamentos. Em termos de condições habitacionais, a situação é mais grave. Temos aí terrenos legalizados pela própria ASCOFA. Fizemos um esforço, temos terrenos na área do Quicombo, para os antigos combatentes, no seu geral, mas até agora as obras nunca iniciaram e não sabemos quando arrancam. Daí a sua crítica condição social, porque os ex-FAPLA vivem mal, alimentam-se mal, falta- -lhes emprego e, na sua maior parte, já são idosos", descreveu.

Mesmo em relação aos que já receberam o subsídio de 55 mil Kwanzas, a associação nota que este valor não é suficiente para resolver o problema dos ex-militares, porque a situação é mais grave.

De acordo com Alfredo Santos o nível de insatisfação é tão grande que só a ASCOFA tem conseguido evitar a violência, dissuadindo os ex-combatentes de enveredarem por acções de revolta ou mesmo por ilegalidades.

O descontentamento de Alfredo Santos é corroborado pelo seu homólogo da Associação dos Antigos Guerrilheiros de Angola. Fernando Mouzinho Paulino adverte que as actuais condições dos ex-militares não dignificam em nada aqueles que deram o máximo de si para que Angola hoje viva uma paz efectiva.

"A situação dos ex-militares no Kuanza-Sul é péssima. Eles lutaram para a independência de Angola, desde 1961 até Dezembro de 1975. Houve um despacho de Sua Excelência o Presidente da República que orientava a criação de condições para os antigos guerrilheiros, mas, infelizmente desde o ano de 2000 que dirigimos documentos à Direcção Nacional da Associação dos Antigos Guerrilheiros e ao Estado Maior General das Forças Armadas Angolanas, mas até hoje não temos nenhuma resposta".

A associação que Fernando Mouzinho Paulino representa está "muito preocupada" uma vez que todos aqueles que lutaram para a independência "estão já na fase de extinção e as respostas nunca chegam".

A insatisfação é geral e muitos dos ex-combatentes já vão dizendo que o arrastar da situação poderá fazer perigar as eleições de 2017.