A decência política, só com dificuldade consegue conviver com arautos da desgraça que identificam num copo de água translúcida o enorme drama do aquecimento global e a escassez hídrica. Quem tiver água corrente na torneira terá que morrer à sede por solidariedade extemporânea com o drama de antípodas regiões do planeta onde rareia água? Por amor de Deus!

Mais de 81 por cento do eleitorado angolano, de forma lapidar, foi peremptório ao conferir ao MPLA mandato para gerir as questões nacionais a nível legislativo e governamental. Das duas uma, ou 81 por cento dos adultos nacionais são estúpidos e irresponsáveis ou exprimiram com grande clareza, voluntarismo e sem margem de dúvida a sua escolha política. Haverá dúvida quanto à tendência de voto na futura eleição presidencial em que José Eduardo dos Santo é candidato sem adversários capazes de surpreender? É óbvio, por razões objectivas e subjectivas, que actualmente em Angola o MPLA é a base e José Eduardo dos Santos o factor decisivo. Alguém terá coragem de negar, face aos 81 por cento, que o MPLA é do povo e que o povo é maioritariamente do MPLA? Cruzar armas eleitorais contra o herdeiro de Agostinho Neto seria, no mínimo, suicídio político com previsíveis mazelas internas em partidos que hoje só sobrevivem à custa de subsídios do Estado e aparentam alguma descapitalização de massa militante ou apenas simpatizante.

Sendo óbvio que José Eduardo dos Santos não tem adversário à altura numa nova disputa eleitoral, porquê montar um circo de vaidades ou de simulações políticas e demagógicas sem qualquer sentido de realidade, sobretudo se pensarmos nos elevados custos financeiros a gastar com a organização de escrutínios? Que suicida político se arriscaria a mais uma humilhação democrática nas urnas, que líder político-partidário, no seu perfeito juízo e depois da vitória arrasadora do MPLA em 5 de Setembro, pode conceber com realismo a disputa da Presidência da República contra JES?

Os angolanos vão precisar desse dinheiro para fins sociais e de desenvolvimento do país e não parece fazer sentido gastá-lo em despesas correntes com uma eleição com desfecho mais do que previsível? Os líderes da oposicao, até por questão de bom senso, deveriam assumir as suas limitações em termos de eleitorado. Mais de 81 por cento dos eleitores, na prática, já votaram em José Eduardo dos Santos nas legislativas de 5 de Setembro. Os outros, os cremados na implacável fogueira da democracia, precisam de repensar estratégias, inventariar novas ideias e descobrir caminhos de alternativa para futuras eleições. Porque por agora, se expuserem o pescoço à cimitarra da democracia eleitoral, serão decapitados pela sabedoria popular, que pelos vistos continua a achar que o MPLA é o povo e que o povo é o MPLA.

Quanto custa em termos financeiros organizar um acto eleitoral em todo o território nacional, num tempo em que o preço do petróleo se degrada dia após dia e a recessão económica mundial, embora com efeitos menos perversos em Angola, aconselham à contenção financeira? Valerá a pena jogar fora tanto dinheiro em nome de vaidades individuais de gente que troca dez minutos de visibilidade pública pessoal por uma espécie de circo político cujo interveniente principal, a sociedade, elege com toda a certeza JES?

Em política a desonestidade paga-se, mais tarde ou cedo. As legislativas de 5 de Setembro já castigaram a falta de imaginação, de projecto e antigas maldades de certa oposição. O Parlamento nacional tem absoluta capacidade de decidir com base em 81 por cento de representatividade, podendo deliberar sobre a escolha do próximo líder nacional. JES será a escolha natural porque quem manda é o povo e o povo votou com arrasadora determinação no MPLA e o MPLA é liderado por José Eduardo dos Santos.

Fonte: JA