Luanda - Yannick Afroman é, á semelhança de MCK, dos raros músicos e compositores angolanos que, como soe dizer-se, “chamam as coisas pelos seus próprios nomes”.

Fonte: Club-k.net

De seu nome verdadeiro Manuel Ngombo, Yannick Afroman, natural de Maquela do Zombo na Província do Uíge, é de facto um crítico social. Nas suas composições ele levanta questões polémicas consideradas tabú nos círculos do debate e da crítica social tais como: racismo, desemprego, prostituíção, infidelidade, abuso de confiança, ambição, injustiça, etc.

Querendo ou não e embora confesse não se envolver em questões políticas, tal como afirmou numa das edições do “Angola Fala Só” da emissora norte- americana VOA, este rapper angolano, tem mostrado não estar destraído no tocante a mudança de valores de comportamento social nas hostes da sociedade angolana.

Sua abordagem e tratamento de temas polémicos, reais mas omissos nos debates públicos, fazem dele um artista igualmente polémico adorado por muitos e vaiado por alguns, factos que provam quão real são os mesmos no quotidiano do angolano.

Começando em1989 em Paris(França) fazendo Freestyle, Yannick regressa para Angola em 1995 para uma década depois transformar-se no primeiro artista angolano a lotar o Estádio Municipal dos Coqueiros em Luanda, local onde o famoso grupo antilhano Kassav duas décadas antes, conseguia a mesma proeza. "Mentalidade" e “Terra á Terra”, são apenas 2 de seus álbuns que mais atenção me têm chamado. À semelhança do primeiro, no Terra á Terra, seu mais recente trabalho musical, o artista não foge á regra em termos de conteúdo, abordando os temas acima já referenciados.

Não quero outorgar razão nem retirar mérito á Yannick mas sim me inspirar de seu trabalho para trazer a tona um assunto que enferma o desempenho laboral principalmente na camada jovem, com incidência na restauração, hotelaria e sector bancário.

Visto ser uma assídua frequentadora de restaurantes, hotéis e por questões laborais também de bancos, quase sempre venho constatado que em muitas ocasiões, os aspectos ou a questão racial aparente, está relacionado com a competência e eficiência.

Vou rebater apenas 2 exemplos para ilucidar minha argumentação:

1. Tem sido nos bancos (principalmente nos estatais) e agências de operadoras de telefonia móvel, onde quase sempre, salvo raras excepções, venho constatando tais factos. Ès atendido por alguém mais “clarinho”, para evitar chamar preto ou branco como o Yannick Afroman bem o faz, és sorteado, pois encontras um funcionário ou funcionária simpático, atencioso, respeitoso, paciente e sobretudo competente. Quase sempre tudo ao contrário, salvo ras excepções, quando atendido por alguém mais “escurinho”.

2. Nos restaurantes e hotéis tenho vivido o mesmo fenómeno e muitas vezes até mais crassos, visto que e como bem canta Yannick, a aparente discriminação ou o complexo racial ser ainda pior, que até dá a impressão de que o dinheiro seja mais valioso enquanto nas maõs de alguém mais “clarinho” . O mais recente caso foi por sinal num dos famosos hotéis de Talatona, onde no restaurante apesar de eu ter pedido 15 minutos antes o pequeno almoço a um empregado escurinho, por sinal mais escurinho do que eu, o individuo clarinho que viria 15 minutos mais tarde e que solicitara justamente o mesmo que eu, tosta mista, galão e água, acabaria por ver satisfeito seu pedido primeiro do que eu. Naturalmente não tive preguiça como sempre em tais situações e o sujeitinho recebeu a devida réplica.

Com entrada em breve da união de mercados na região austral do nosso continente, onde sem muita burocracia o humilde moçambicano e o competente sul-africano poderão trabalhar na terra do arrogante e complexado angolano, tenho a certeza que muitos jovens compatriotas meus serão lançados ao desempregeo, caso não mudem su ACTITUDE e MENTALIDADE como Yannick Afroman bem cantou.

Também sou angolana, mas verdade seja dita: somos demais!