Luanda - Será doença, frieza , inocência ou compulsão pela mentira? Os assistentes da mais recente sessão do julgamento de Judith da Silva, acusada do assinado de uma amiga e de forçar um aborto à amante do seu marido, não queriam acreditar da reacção da ré quando colocada frente a frente com o cidadão português que, na fase de instrução processual, ela acusou de ser o autor do assassinato de Bárbara de Sá Nogueira. Em pleno tribunal, ela deu o dito pelo não dito, deixando perplexo, inclusive, Fernando Jorge Falei de Oliveira, o tal cidadão português.

*Mariano Brás
Fonte: A Capital

“Nunca vi uma pessoa tão fria como a ré”

Fernando Jorge Falei Oliveira, cidadão português, que foi, inclusive, treinador da selecção angolana de Hóquei em Patins, constitui-se num dos principais declarantes ouvidos na audiência da última quinta-feira, 08. Na sequência do julgamento de Judith Maria da Graça, ele foi chamado para declarar sobre o incidente que, no início das investigações sobre o desaparecimento de Bárbara de Sá Nogueira, o levou a ser apontado como o mandante do crime.

A acusação proveio, inicialmente, de Judith, a amiga e suposta amante da vítima, que reforçou a incriminação à Fernando Falei como sendo a pessoa que a persuadiu a ocultar o cadáver, algures onde foi encontrado, na zona do Kikuxi, em Luanda, deveras próximo do emprego actual de Fernando Falei de Oliveira, um dos responsáveis do espaço turístico Dream Space.


Ao ser ouvido pelo juiz Sebastião Luís Manuel, o português disse que, dois anos depois do sucedido, ainda tem dificuldades para entender como o seu nome foi arrolado no processo. Afinal, segundo disse, sequer conhecia a ré Judith, tão pouco a vítima Bárbara. Num belo dia, conforme contou, “foram três carros da Polícia ao meu local de serviço buscar-me, quando cheguei na esquadra, encontrei esta senhora que começou a fazer-me acusações absurdas, dizendo que tinha sido eu a matar a vítima, porque, segundo ela, era minha amante”, frisou.


Ele acresceu que, perante a Polícia, Judith ainda o acusou de manter encontros regulares com a malograda no Hotel Trópico e, noutras vezes, no Banco Millennium Angola, onde a vítima laborava. Mais uma vez e bastante firme como foi, de resto, ao longo das suas declarações, Fernando disse estar “em Angola há 9 anos e nunca frequentou tal banco, assim como, em relação ao Hotel Trópico, não o frequenta há cinco ou seis anos”.


Fernando disse que, por causa de tal situação, perdeu benesses no serviço, teve sérios problemas no seu lar e, até agora, se mostra espantando com o que disse. A dado momento, disse que, em toda a sua vida, “nunca vi uma pessoa tão fria como a ré”, ressalvando “que tenho uma longa experiencia”.

Alegando ter sido vítima de “uma pura mentira” da ré, aquele declarante jurou de pés juntos que nunca, antes do incidente, se tinha encontrado com Judith, assim como nunca foi amante da malograda Bárbara. Em sua defesa, ele referiu que no dia do assassinato da mesma ele encontrava-se há cinco dias na sua terra natal e, por esse facto, não poderia ser ele a matar a vítima.

Foi então que, para tirar tudo à limpo, o juiz Sebastião Luís Manuel colocou frente a frente Judith e Fernando Oliveira. Dirigindo-se à Judith, o juiz questionou: “ré Judith, então a senhora não disse que foi este cidadão quem matou a Bárbara?”. Judith, já de pé, respondeu: “senhor juiz, em momento algum disse que foi este senhor quem a matou, mas sim que o carro que o senhor que matou a Bárbara conduzia, era igual à viatura deste senhor”.

Perante a sua resposta, o juiz voltou a perguntar ao declarante se é verdade que a ré, na altura que foram colocados frente a frente na DNIC, não o havia acusado, ao que Fernando respondeu: “ela me disse perante os polícias e mais outras pessoas que quem matou a vítima foi este branco e, na altura, o único branco na sala era eu”. E mais: “quando ela disse isso, pedi para que ela me dissesse de onde é que me conhecia, pelo que ela baixou a cara e disse que não poderia dizer mais nada”, referiu Fernando Oliveira que se disse bastante agastado com a situação e que o que mais quer é que o caso termine de uma vez.


António da Silva, irmão mais novo de Judith, também foi ouvido por aquele tribunal, tendo dito que, três dias depois do desaparecimento de Bárbara, ela teria confessado à sua esposa que sabia onde estava o corpo da amiga, dizendo que ela tinha sido morta por um branco de nacionalidade portuguesa.


Disse também que, quando soube dos factos, a primeira coisa que fez foi ajoelhar e a chorar porque conhecia a vítima ao longo de 20 anos, que ela m participava de convívios familiares e que era uma espécie de amiga da família da Silva.


Por outro lado, o juiz leu um trecho das declarações que António da Silva prestou à DNIC na fase processual, onde acusa a sua própria irmã de egoísta e de ser capaz de fazer tudo por dinheiro. Depois de ouvir e questionado sobre se confirmava o que constava daquelas declarações por si assinadas, por uns minutos se manteve em silêncio. Quando ganhou fôlego, respondeu: “não me recordo de ter dito isso, ou melhor, eu não disse isso”.


Já Carlos Cândido, cunhado de Judith, também ouvido na condição de declarante, referiu que quando foi ao encontro de Judith em companhia de Atos Sá Nogueira, o esposo da malograda, a ré terá dito à Atos que, por ele ter colocado um dispositivo de localização no telefone da esposa e por a ter mandado perseguir, ela teve um acidente.


Ao longo da conversa do trio, Atos teria dito que levantava a possibilidade do desaparecido da esposa ter sido motivado por um negócio mal parado de compra de um terreno, mas logo descartou tal possibilidade, desabafando que, pelo que ouviu de Judith, ela apenas aparentava ser inocente.


Naquele mesmo dia, foram também ouvidos Lucete Sá Nogueira, a primogénita da malograda, que começou por dizer que conhecia Judith por intermédio da sua mãe, mas realçou que a mesma era amiga ocasional. “Ela não fazia parte das grandes amizade da minha mãe”.


Já Djamila Belo, amiga e colega há mais de 13 anos da malograda, disse que não conhecia Judith, assim como não sabia de qualquer negócio em que Bárbara estivesse envolvida e que a poderia levar à morte. Questionada se alguma vez a malograda lhe terá falado sobre a relação dela, ela respondeu afirmativamente, opinando que era uma relação feliz, onde existiam problemas como em qualquer outra.