Luanda - “São aproximadamente 14-30. Entro no cercado do que julgo chamar-se “Parque da Independência”, onde se têm feito feiras do livro e lançamento de discos. Um porteiro sentado faz-me recuar dizendo que o preço da entrada são 50 kwanzas. Pago e vou sentar-me na esplanada, a uma das mesas, sozinho.

Fonte: Central Angola

Distraído com o telemóvel, tentando escrever uma sms, sou interrompido e vejo-me cercado por vários polícias que me convidam a ir falar com o chefe. Insisto na pergunta do porquê da situação e intimam-me a obedecer.

 

Saio do parque acusado de ter reunido com mais alguém e sou obrigado a entrar num carro celular.

 

Sou levado com mais um cidadão que diz ser Serafim Kapembe Lorenço Simeão e dirigente juvenil da CASA-CE. Reclamava de não ter feito nada e começou a ser batido. Começámos a levar pancada ali.

 

Parando a viatura num local que penso ser uma instalação da PIR foram-nos retiradas as camisas, que os nossos agressores nos embrulharam nas cabeças, à laia de turbante, mas tapando a visão.

 

Fomos empurrados para dentro de um camião debaixo de cacetada com bastões eléctricos.

 

No camião e sem a venda demos encontro com um grupo maior de jovens, onde reconheci Manuel Nito Alves, que me acode dizendo “não batam no doutor”. Ali fui ainda mais surrado e até pisado.

 

Mesmo sendo obrigado a ficar deitado de cara para baixo ouvia os gritos, pancadas e estalidos dos intrumentos de tortura, principalmente ao jovem que implorava por água.

 

Na primeira e na segunda viatura, fui mimoseado por nomes como “branco”, filho da puta, estrangeiro e laton barbudo, no tom mais odioso que se pode imaginar. E foi ainda como “branco” que fui chamado pela última vez e obrigado calçar-me à pressa e a pular do camião. Não sabia onde estava nem se já estava livre. No chão, fui fotografado por agentes da PIR e homens à civil.

 

Levei algum tempo a perceber que não ia entrar numa prisão, mas sim estava abandonado num lugar talvez distante. Perguntei a pessoas que me disseram ser Viana e qual o sentido do táxi de regresso.

 

Fui ver mais tarde os meus pertences na pasta de trabalho que trazia. Parecia não faltar nada, mas encontrei o passaporte do Serafim Simeão, cujo destino ainda é incerto e que anseio estar livre, depois do que já sofreu.

 

Constou-me que os outros foram largados em Cassualala.”