100% dos pobres angolanos não
estão contemplados nos 10% do Banco BPI
O capitalismo mostrou e tem mostrado que o Estado só logra estar perto dos mercados, quando o mesmo age como um autêntico ladrão, falsário, promovedor e facilitador da corrupção. Usurpador daquilo que é público para pôr em mãos de pouca gente. E fica longe do mesmo quando esses falsários e ladrões transformam-se em gênios e empreendedores que com as suas atitudes e discursos não perdem a oportunidade para mostrar e demonstrar que o pobre, é pobre, simplesmente porque é incompetente. Até no nosso país, onde todos um dia eram pobres, e só o colono ostentava riquezas, já se vislumbra esse discurso racista e reacionário: do pobre-pobre e incompetente, do pobre fracassado e preguiçoso, do pobre que é desprezado por ser nativo (preto e angolano) no momento da seleção para se preencher as vagas de empregos tão prometidas por aí.
Os 10% do Banco BPI têm algo de irônico, mesmo sendo riqueza social distribuída de maneira individual, não deixa de ter o sacrifício de quem andou proclamando por uma distribuição mais social de tal riqueza e sucumbindo em campos de batalha por esta proclamação. Os 10% do BPI não deixa de ter o esforço daqueles que um dia de tanto sacrifício e até mesmo mutilados tiveram que fazer um tremendo esforço para içarem a bandeira no dia da nossa independência; é basta a ver o esforço do Comandante Imperial naquela foto histórica, ao lado do pioneiro, depois de 14 anos de luta armada içando a bandeira no dia da Independência. A ironia pode ter várias faces: a face de quem um dia aplaudiu os regimes marxistas mais não concordava, adaptação que para muitos no passado não se exigia tanto esforço. O esforço foi manter uma guerra em nome de toda a nação para no fim estarmos e voltarmos, sempre, no mesmo patamar e ponto: onde o que é dito privado e individual fica longe do social. Aqueles vêem a estes ( o social) como uma intromissão e inveja de quem é pobre.
A outra face da ironia são os anticomunistas que andaram fazendo declaradamente a guerra e que hoje transformaram-se em críticos de tal roubalheira. A esses devemos dizer: não há nada a ser criticado. Já que todo bom empreendedor necessita minimamente de uma propriedade. Ainda que essa propriedade seja um roubo, e como todas em gerais são. E todo bom anticomunista ao estilo de Jonas Savimbi –é um exemplo de anticomunista- deve ser um adorador da propriedade privada.
Assim, o roubo, e a maneira escancarada de exibicionismo daquele que um dia foi tão pobre e humilde como o povo que aí está é parte dessa ideologia (burguesa) que se tem defendido e se optou como meio de relacionamento social. Eles diriam: viva a burguesia, viva os novos tempos onde não se exigem princípios nem o ideal cavalheiresco a estilo Guevarista ou Quixoteano!
E diante de tanta pobreza, miséria e a falta de sensibilidade, encenando-se com tanta riqueza de um lado e para uma minoria, porque não continuar a glorificar o Capitalismo. Assim: Viva o Capitalismo! E que a esperança seja ao menos lançada na próxima reencarnação. Se ainda sobrar um comunista por aí, ou pelo menos alguém que não mude tão rapidamente de princípios em tão pouco tempo. Se ainda existirem heróis de Kifangono e do Kuito Kuanavale.
Feliz Natal e ano Novo para os pobres desse país e que cem por cento deles não estão contemplados nos 10% do Banco BPI.
* Nelo de Carvalho
Fonte: WWW.a-patria.net / WWW.blog.comunidades.net/nelo