164 milhões sem feitiço

164 milhões pode ser o símbolo do poder, pode ser a mensagem daqueles que vivem mostrando e dizendo a todos: eu tenho, eu posso, eu consigo, eu quero e eu compro. E qual verbo não se encaixaria para esse tipo de pessoa? Todos os  possíveis principalmente quando ninguém poder demonstrar  a verdadeira origem desta quantidade. 164 milhões de dólares é dinheiro perfeito para saciar o luxo de quem tem necessidade  de demonstrar força, poder, de quem precisa zombar da história desse país.Em que cada página da mesma houve uma lição de sacrifícios e lutas. Sacrifício que consistia na renúncia dos prazeres mesquinhos que só os adinheirados sabem protagonizar; esses prazeres são: a prostituição, a corrupção, a vaidade e o  deixa-deixa  para lá, que isso é coisa de gente  rebelde. É dinheiro para quem precisa de glamour e se afastar cada vez mais de quem é pobre, mesmo por que estes são como se fossem purgas que   chateiam  e molestam. Com esse dinheiro quantos não estariam atrás de um vidro fumado, “ eu te vejo mais você não me vê”, enxergando a miséria de longe; sentindo-se distante, escolhido e preferido. Vendo o mendigo  e   o pedinte – entre eles poderia ser uma criança-, que não teve a chance  de ser incluída e contemplada no circuito educacional; porque o pai mutilado de guerra, abandonado por todos os programas-promessas, perdeu o controle da sua criação. 

É dinheiro bom em quantidade suficiente para deixarmos de sermos aquilo que  nem se quer chegamos a ser um dia: angolanos, patriotas  e guerrilheiros. É muito dinheiro que daria, por exemplo, para corromper uma boa quantidade de corruptos, que aí estão; quantas casas populares deixariam de ser construídas, quantas escolas deixariam de ser reformadas; quantos por aí deixariam de ser angolanos para adquirir uma cifra destas; quantas das nossas belas mulheres  se casariam com um estrangeiro para não renunciarem uma  quantidade destas; quantas não deixariam de usar os seus belos  trajes, tipicamente africanos, para se vestirem à moda européia;  com esse dinheiro quantos de nós não sentiria repugnância por aquilo  que é da terra, pobre e nativo ( o angolano preto e trabalhador); quantos num país do terceiro mundo, considerado o mais atrasado, não viveriam como se estivessem num país do  primeiro mundo, em condomínios não necessariamente de luxo; quantos não seriam considerados inteligentes e belos diante de um dinheiro como este; e as nossas mulheres, quantas delas não seriam verdadeiramente belas, poderosas, simpáticas  e até geniais; quantas não seriam confundidas verdadeiramente na sua cor: ah...! ela é uma bela mulata! E quantas não dariam o salto que deixaria  de boca aberta qualquer quitandeira, qualquer estudantezinha( colegial ou não)  sonhadora, qualquer  kinguila, qualquer esposa que depois dos longos anos de guerra teve que aprender a virar-se só para alimentar o ninho na ausência  do soldado; o soldado desconhecido talvez. Tão desconhecido que um dia partiu, e mal faz parte das estatísticas que existem por aí. O salto é aquele, todos já conhecemos, que Diolinda e outras estavam longe de conseguir, mas as Dádivas e as Princesas  por aí têm conseguido com um estalar de dedos. Nem o estalar de dedos do Rei N’gola Kiluange, Mandume, Ekuikui a Rainha N’Zinga M’Bandi conseguiriam tal proeza: a magia da cabeleireira que um dia tornou-se compradora de bancos.


164 milhões de dólares  é dinheiro que não tem kigila ( ou feitiço). Dinheiro com feitiço é dinheiro de pobre, e geralmente nunca chega a essas cifras; é dinheiro que torna o pobre diferente de outros pobres, mas ele continua pobre e assalariado da mesma forma. Com 164 milhões de dólares qualquer um, se quiser, deixa de ser africano; fica longe de tudo. Tem gostos finos e preferencial, dos clássicos, passando pelo cubismo até a famigerada arte  moderna e contemporânea promovida pela turma dos homossexuais que  existem por aí.


Nelo de Carvalho, WWW.a-patria.net

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Fonte Club-k.net