Luanda - É exactamente neste ponto em que se encontram muitos dos decisores ao nível mundial. E, como não podia deixar de ser, a super-potência mundial [Estados Unidos da América] carrega a maior percentagem no que tange aos atropelos dos limites universalmente definidos, isto na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Exemplos? Há inúmeros! O mais recente é o escândalo internacional denunciado pelo ex-analista da National Secutity Agency (NSA), Edward Snowden, dando conta de que a administração Obama tem levado a cabo um programa de espionagem em todo o mundo, a partir das instalações da Central Intelligence Agency (CIA). O programa até tem um nome bonito - Prism – e serve para efectuar escutas em qualquer parte do universo.

Fonte: Club-k.net

Passar dos limites, neste caso, trata-se da clara violação do artigo 12o da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), que diz: “Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a proteção da lei.”

Cito apenas este exemplo, embora poderia continuar a fazê-lo, mas o facto que me levou a escrever sobre os atropelos aos limites por parte dos decisores é a carnificina que se tem registado nos últimos tempos em vários países, dos quais destaco a Nigéria, a Ucrânia e, talvez o mais grave, pois estão plenamente identificados os responsáveis e fáceis de localizá-los, a Faixa de Gaza.

O conflito de índole religiosa desencadeado pelo grupo terrorista Boko Haram (que significa  ́educação ocidental é proibida ́), já vitimou, segundo fonte oficial nigeriana, 10 mil pessoas nos últimos cinco anos.

Um dos mais recentes atentados do grupo que diz pautar-se pela sharia é o sequestro de mais de 200 adolescentes, apenas do sexo feminino, posteriormente apresentadas como convertidas ao islão, vestidas de burcas inclusive.

Após a reivindicação desta acção, surgiram informações de que o grupo radical estava ser ajudado por individualidades próximas ao presidente nigeriano Goodluck Jonathan.

A denúncia feita pela Amnistia Internacional de que os militares nigerianos tinham sido avisados sobre o ataque à escola onde estavam as raparigas talvez sirva como argumento para tal suspeita. Na altura, as forças armadas daquele país demoraram mais de cinco horas para atuarem.

Vários países disponibilizaram-se em apoiar o governo nigeriano no resgate das adolescentes e à captura dos rebeldes. Forças militares de diversos pontos do mundo foram mobilizadas numa campanha que visava unicamente repor a paz naquela localidade. Dezenas de aviões, helicópteros, tropas e todo o aparato necessário. Mas nada de nada aconteceu.

Defendo, e assumo, que deve se fazer recurso a medidas extremas, drásticas mesmo, quando se trata de combater organizações radicais como o Boko Haram. E é aqui onde vai a minha crítica para os decisores. Há informações segundo a qual o Boko Haram tem como reduto a floresta Sambisa. As tropas locais, apoiadas por forças estrangeiras, vasculharam a “região próxima” à floresta em busca das sequestradas.

Só a “região próxima” porquê? O que falta para entrar na floresta, senhores decisores? Também têm medo, tal como oiço muitos agentes da Polícia Nacional dizer por aqui?

A meu ver, a acção poderia começar por colocar um cerco em toda extensão da floresta. Ninguém sai e ninguém entra. Simples. Em seguida é transportar aqueles aparelhos super sofisticados de investigação que apresentam nas séries CSIs para aquela zona e... tufas. Senhores decisores, ao não esgotarem as opções de buscas vocês estão apenas a fazer uma coisa: a passar dos limites.

São vidas humanas. Filhas e cidadãs do mundo. Mas nada se faz. E os decisores estão constantemente a montar estratégias. Mas de algo podemos ter certeza: se fossem jovens americanas, francesas, inglesas ou alemãs, já estariam em liberdade, e os atores no corredor do morte (não defendo a pena de morte).

O conflito ucraniano entre as forças «rebeldes» pró-russas e o governo local liderado por Petro Poroshenko, presidente daquele país recém-eleito, é outro exemplo de como os decisores, ao nível mundial, estão a passar dos limites.

A autodeterminação dos povos de pertencer ou não a determinado Estado é um direito consagrado no artigo 1o do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos como no Pacto Internacional sobre Direitos Económicos, Sociais e Culturais, e ainda na Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu artigo 15o. Aliás, defendo que quem não pode mudar um país, pode mudar de país.

Na esteira dos direitos, o cidadão tem direito ainda de defender-se quando veja os seus direitos violados, pelo que é legítimo um povo fazer guerra contra os violadores dos seus direitos. Mas este é outro tema que abordarei nos próximos tempos.

A questão agora cinge-se no facto de pelo menos 356 pessoas, segundo uma contagem feita por observadores da Organização das Nações Unidas no último mês, já terem sido mortos no conflito que assola Ucrânia desde o fim de 2013 até a presente data. E agora o número aumentou com a morte de 298 pessoas que estavam a bordo do avião MH17.

Chefes, quem são os responsáveis por este derramamento de sangue? Onde estão? Como podem ser responsabilizados? O que pode ser feito para terminar com esse banho de sangue? É tão difícil assim responder?

Não acho que seja. O que deve ser difícil é a falta de vontade em assumir que as guerras favorecem os decisores, pois são eles, maioritariamente, os proprietários das empresas que fabricam e fornecem os armamentos às partes envolvidas no conflito. E como lucram bem, então não importa responder as questões que acima apontei. «Matem-se», dizem eles. Isso é passar dos limites, meus senhores.

E a situação agrava-se mais ainda quando instituições religiosas, supostamente defensoras da paz mundial, são acionistas de fábricas de armas. Em 2012 foi denunciado que o IOR (Instituto para Obras de Religião), pertencente à igreja Católica, mais conhecido por Banco do Vaticano, é o terceiro maior acionista da maior indústria de armas no mundo, a Pietro Beretta Ltda., antecedido pela Holding SpA Beretta e Gussali Ugo Beretta.

Por fim, os limites já estão mais que ultrapassados na terceira guerra em cinco anos entre a Palestina e Israel. Duzentos e setenta é o total dos mortos na Faixa de Gaza desde o início da terceira etapa da “guerra santa”.

Mas assim quando a ONU apresenta estes números pensa: «Ainda não se compara às mortes do Rwanda, ou em Hiroshima e Nagasaki?». Ou pensam: «Calma, esse número ainda não supera o 27 de Maio de 1977 em Angola?».

“No bairro de Shijyaya, na cidade de Gaza, dezenas de famílias procuram abrigo numa escola da agência da ONU para os refugiados. As Nações Unidas estimam que, desde que arrancou a ofensiva terrestre, o número de deslocados aumentou de 22 mil para mais de 40 mil”, publicou o Euronews.

Chefes, um aspecto muito importante a ter-se em conta nas questões de segurança internacional é o facto de que os conflitos que ocorrem em qualquer parte do mundo, quando não controlado, podem afectar outros países, pois instala o  ́caos ́ e agiganta o opressor.

Israel, muito sobre a alçada dos Estados Unidos da América, vem esbulhado violentamente a Palestina, pois acha ser o único e legítimo dono daquela terra [esse pacto entre Esaú e Jacó não é aqui chamado].

Os embargos económicos são uma forma muito forte de pressão quando se trata de parar uma invasão bélica dos níveis que estamos a ser acostumados a ver nos últimos tempos. A única que vimos ser efectivada, embora com alguma reticência, foi à Federação Russa, e claro só porque tratava-se duma expansão do território russo, o que estrategicamente não é bom para países como EUA, Alemanha, Inglaterra e França.

 

Embarguem Israel. Embarguem os EUA... A maior economia do mundo. Esse será difícil.

Mas pelo menos está lançado o repto. Isto porque vocês, decisores, já passaram dos limites mesmo.