Lisboa - A classe dirigente angolana faz uma gestão "inteligente e estratégica na maneira como tem gerido a ajuda dos vários países", considerou  à Lusa a investigadora portuguesa radicada na África do Sul Ana Cristina Alves.

Fonte: Lusa

"Em África, uma das grandes dificuldades é a coordenação das ajudas internacionais recebidas, porque não há capacidade institucional para gerir as ajudas de modo estratégico, com exceção de Angola, que é inteligente e estratégica na maneira como tem gerido a ajuda internacional que recebe de vários países", disse à Lusa a investigadora sénior no Instituto de Relações Internacionais da África do Sul (SAIIA) da Wits University.


Angola, aliás, é uma exceção no âmbito do continente africano, considera a investigadora portuguesa, porque "é um país que não gosta de receber ajuda, prefere estabelecer uma relação igualitária, privilegiando o apoio técnico". Isto explica-se, acrescenta-se, porque "Angola não precisa tanto, na medida em que já é um país de rendimento médio, e o engajamento [dos parceiros internacionais, nomeadamente da China e Japão] é mais comercial e de criação de infraestruturas - a China está muito presente aí, há chineses por todo o lado em Angola, nas áreas mais remotas há chineses a fazerem uma estrada ou um caminho de ferro".

A 'batalha' pelos recursos naturais de África saltou novamente para as páginas dos jornais internacionais depois das declarações do porta-voz do primeiro-ministro japonês, que deixou implícito que uma das razões para o forte envolvimento da China no continente africano prendia-se com os benfícios diretos entregues aos governantes africanos, na forma de casas ou palácios presidenciais.

Questionada sobre a diferença entre o tipo de ajuda fornecido por estes dois países asiáticos aos africanos, nomeadamente Angola e Moçambique, Ana Cristina Alves respondeu que "o Japão não tem grande significado, a China tem uma presença muito maior nesses dois países e, em geral no continente".

Nem sempre foi assim, no entanto: "o Japão tinha mais influência e projetos na década de 90, mas atualmente a China ultrapassa qualquer medida, e apesar de haver projetos japoneses em Moçambique, como o Prosavana, nada se compara ao volume de ajuda e de comércio entre África e a China".

A própria comparação das verbas, diz, acaba por não ser exquível, "porque a ajuda chinesa em Moçambique não é dada da mesma forma, é mais sob a forma de empréstimos para as infraestruturas, como o formato do Centro de Desenvolvimento e Demonstração Agrícola, e a negociação de uma zona económica especial com os chineses".

África, diz, tem uma importância crescente para os dois países, mas o reverso também é importante: "a China e o Japão são muito importantes para África, principalmente num contexto atual em que as companhias ocidentais petrolífera, nomeadamente as canadianas e norte-americanas, estão gradualmente a desinvestir no continente para investirem na revolução do xisto, e por isso obviamente a Ásia e os mercados emergentes vão ter uma importância acrescida para África, uma vez que serão os únicos disponíveis para investir no continente".

A dependência, conclui, "é mútua".