Luanda - Uma pesquisa desenvolvida por alunos do 5ª ano de medicina da Universidade Agostinho Neto sobre a venda de carnes no mercado dos Congoleses, apresenta dados alarmantes nas condições de comercialização, conservação e de acondicionamento.

Fonte: O País
Diogenes AADIC.jpg - 47.42 KBO presidente da Associação Angolana dos Direitos do Consumidor (AADIC), Diógenes de Oliveira, disse que o combate à comercialização de bens no mercado informal não depende somente dos órgãos que defendem os direitos do consumidor, mas também do cidadão.

O responsável da AADIC afirmou que, sendo esta uma força activa para o progresso da sociedade angolana, é dever de todos envidar esforços para erradicar este fenómeno, alertando que se deve levar em consideração que só com o esforço de todos será possível acabar com a venda de carne no mercado informal.

“Quem alimenta este mercado são os consumidores, se formos responsáveis e deixar de comprar os alimentos nestes locais, verão que os comerciantes irão banir este tipo de comércio, porque não terão consumidores ou clientes”, salientou o presidente.

Ele sublinhou a necessidade dos cidadãos terem em mente o tipo de mercado existente em Angola, onde 70% dos consumidores recorrem ao mercado informal, onde se encontram estes produtos a serem comercializados abundantemente.

Diógenes de Oliveira explicou que se deve ter em conta que existem balizas e esta não é apenas questão da fiscalização é uma questão de consciência de todos os consumidores.

O presidente explicou que a AADIC tem trabalhado com o Instituto Nacional de Defesa do Consumidor (INADEC), com os órgãos de fiscalização do Ministério do Comércio e da Saúde e outras instituições do Estado que tenham como responsabilidade a protecção dos direitos do consumidor.

Acrescenta que é preciso considerar que a lei de defesa vigora há apenas 13 anos, e trata-se de um processo de incutir responsabilidades aos cidadãos sobre as leis de defesa do consumidor, e como as mesmas os protege, o que passa por um processo de formação e informação aos cidadãos.

“Não adianta informar sem que o consumidor esteja primeiramente formado e educado, e que este é um projecto que a AADIC tem em curso, o consumo tem que ser feito consoante os padrões estabelecidos por lei ”, esclareceu. Diógenes de Oliveira relatou que os alimentos devem ser comprados em locais com elevado padrão de higiene, tendo estes passado por exames laboratoriais.

Caso os produtos acarretem algum dano ao cidadão deverão ser penalizados os autores das vendas, o que não acontece quando os alimentos são comprados no mercado informal. “A população deve dirigir-se à AADIC, ou ao INADEC ao se deparar com uma situação do género, onde poderão arranjar solução de qualquer problema que advenha dentro da relação de consumo, dentro dos parâmetros da lei do consumidor”, rematou.

Já o presidente da Associação dos Estudantes da Faculdade de Medicina (AEFM), Hilário Cassule, disse que a pesquisa surgiu no âmbito do coloquio de medicina legal, que foi inserido no processo de investigação científica sobre as condições no processo de comercialização de carne no mercado dos congoleses.

Hilário Cassule, relatou que segundo os dados obtidos neste estudo, a comercialização destes produtos é feita próximo de lugares sem condições mínimas de higiene e em contacto permanente com o lixo, águas paradas, moscas e poeira, e que tais práticas divergem das normas que regulam os direitos do consumidor, porque põe em perigo a saúde pública.

O responsável declarou que o estudo que foi apresentado, demonstra que as carnes deviam ser conservadas numa temperatura exacta e separadas de outros produtos. “Podemos ver que as vendedeiras têm contacto com o dinheiro ao mesmo tempo que têm com os alimentos, não há uma barreira entre estes aspectos relacionados à higiene no local de trabalho” sublinhou, Hilário Cassule, acrescentou que o fenômeno deve-se à falta de serviços de inspecção e fiscalização do ministério da saúde.

Segundo o presidente da AEFM, o objectivo desta pesquisa é a de ajudar as instituições a identificar possíveis problemas e soluções e com base nessa investigação, o responsável diz acreditar que o INADEC irá fazer um estudo minucioso do mesmo e levar em consideração as recomendações feitas no estudo deste fenómeno e tomar precauções em colaboração com os serviços de inspecção.

“A investigação foi entregue à direcção do INADEC, e vê a iniciativa como uma forma que os estudantes encontraram para ajudar a sociedade nos diversos problemas que vem enfrentando” explicou.

Talhos

Ainda durante o simpósio, foram debatidos temas relacionado com a escassez de talhos na cidade de Luanda e a segurança medicamentosa, cujo encontro foi presenciado por entidades ligadas ao INADEC, Inspecção Geral da Saúde e farmácias.

Hilário Cassule, apelou a sociedade a adoptar regras alimentares saudáveis e a comprar os alimentos em particular as carnes, em locais próprios para se evitar patologias de intoxicação alimentar derivados da má conservação. “Apesar de os órgãos de estado terem responsabilidade acrescida, também cabe aos cidadãos velarem pela saúde pública”, afirmou a fonte que está em carteira o programa de sensibilização às vendedeiras de carnes e não só, aconselhando-as sobre como devem conservar os produtos e evitar os riscos que correm os seus consumidores.

Doenças gastrointestinais

Segundo Hilário Cassule, existem várias patologias do fórum gastrointestinal que pode ocorrer do ponto de vista de uma intoxicação alimentar e parte destas estão na base de um elevado índice das mortes registadas. “As doenças diarreicas agudas (DDA), a febre tifóide, pode provocar também com uma peritonite, são no entanto, várias manifestações gastrointestinais que podem decorrer dessa intoxicação e quando graves podem levar a morte” aconselhou.

Reacção dos estudantes

Osvaldo Lueto, disse que por haver maior propagação de bactérias nos lugares sem condições higiénicas, faz com que o índice de doenças gastrointestinais se prolifere, por isso é importante que tais lugares devem ser fiscalizados.

Segundo ele este é um problema que deve ser levado em consideração, aconselhando a inspecção dos alimentos que são vendidos nestes locais. “Acho que devem ser inspeccionados a forma como são vendidos os alimentos, por se tratar de uma questão social” sublinhou. Para Hamilton Ngola outro estudante, explicou que controlar a venda anárquica tem sido difícil, e educar as vendedeiras ensinando-as como cuidar os alimentos e usar métodos de higiene, seria um modo eficaz.

“Para minimizarmos as doenças relacionadas ao tema em questão”. Por sua vez, Teresa Morais, relatou que o facto de a carne estar exposta ao sol, causa sérios problemas à saúde que podem levar à morte, afirmou.

Para a futura médica a melhor opção é comprar-se as carnes em supermercados e talhos, locais onde há maior controlo e higiene na conservação destes produtos perecíveis.

Vendedeiras

Domingas Ferraz vendedeira explicou que as carnes são adquiridas nos armazéns de venda de frescos de onde compram a grosso, para posteriormente serem comercializados a retalho nos mercados informais. “Temos as nossas próprias arcas onde guardamos as carnes e colocamos nas casas de processo onde pagamos mensalmente, uma parte é retirada e posta em tabuleiros para serem levados ao mercado onde vendemos a retalho, o que sobrar volta na arca” revelou.

Anacleta António vendedeira no mercado congolenses diz que enxotar as moscas que pousam sobre as carnes e tapando o tabuleiro com saco são os métodos que diz usar para proteger as carnes que vende. “Até nos supermercados encontramos moscas’. ‘‘É normal’, ironiza, insistindo que os alimentos são tapados e não constituem perigo para o seu consumo”.

Comercio.jpg - 38.38 KBConsumidor

Hélder Matias considera ser um perigo à saúde quanto ao consumo das carnes comercializadas nos mercados informais, mas julga os preços razoáveis que facilitam o bolso do cidadão comum. Apesar dos preços baixos, ou ao alcance da maior parte dos consumidores, Hélder Matias reconhece o perigo que representa para a saúde alimentar-se de carnes vendidas nestes locais.

Marieta João aconselha aos consumidores a comprarem as carnes e os seus alimentos no geral, em supermercados por serem estes lugares apropriados para a compra de carnes, devido a forma como são conservados. “Os alimentos aqui no mercado são vendidos à beira da estrada, exposto a poeira, lixo e moscas, e tudo isso causa doenças, a melhor opção é comprar principalmente as carnes em locais onde sabemos existir melhor controlo sobre os alimentos como nos supermercados” sugeriu.

INADEC apoia a causa

A engenheira alimentar do departamento de Estudos Alimentares do INADEC, Welwitchia Marcolino, enalteceu o estudo desenvolvido pelos estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto.

A responsável do INADEC disse que “é de louvar que os estudantes do Ensino Superior, enquanto actores sociais, tenham a capacidade de se preocupar com as condições de comercialização de produtos perecíveis, como é o caso da carne”, acrescentando que devem ser criadas mais iniciativas como estas.

Welwitchia Marcolino disse que é importante que se reforce cada vez mais as campanhas de sensibilização, informação e educação para o consumo saudável.