Investimentos de 1 bilhão de dólares  mal explicados pela Sonangol

Estou no Brasil há 16 anos, conheço a USP ( Universidade de São Paulo)  há 6 anos. E os professores brasileiros da faculdade de geologia e minas têm se assustado com o potencial angolano no que diz respeito à extração de diamantes. Como conseqüência da sua profissão parece que eles conhecem tão bem esse país chamado Angola, mesmo nunca estando no país que muitos deles “admiram.”  Eles dizem categoricamente:  “vosso país é a barca que qualquer marinheiro gostaria de viajar ou navegar. Sentenciando, é rico. Com os diamantes que vocês extraem ao ano daria para tirar toda a população da fome, investir em educação, saúde e quem sabe numa indústria poderosa”.


É verdade que a guerra andou  atrapalhando, mas também se usou a mesma para escancaradamente chegarmos a esse nível. Não temos nem se quer um hospital Nacional de qualidade e com bons profissionais onde as pessoas poderiam tratar-se. A prova disso, é que  quando alguém tem um problema grave tem que sair fora do país,  se tiver dinheiro, mesmo que o diagnostico seja tomar uma simples aspirina. No ensino superior não temos uma faculdade respeitável, mesmo a nível nacional. Como por exemplo, uma faculdade de educação em boas condições que fosse  capaz  de formar professores para o ensino médio e fundamental. Uma faculdade desse tipo para qualquer governo, mesmo no terceiro mundo, tem  um orçamento modesto, é  das mais baratas possível, mas Angola carece disso. As que existem por aí formam professores em péssimas  qualidades e em pouca quantidade. Resumindo, depois  de trinta e três anos de independência, Angola, vergonhosamente, ainda tem que mandar gente no exterior para adquirirem  títulos de professores licenciados em qualquer das matérias ou disciplinas para o ensino.


Está mais do que provado  que a classe política que existe por aí sente medo,  é distante  e não valoriza  a evolução acadêmica  que supostamente um país como Angola deveria trilhar, e tem obrigação de traçar uma  trajetória nesse caminho. Nesse sentido temos um ambiente acadêmico nacional pobre ( se existe), não valorizado, e os que aí estão dariam tudo para cair fora do país e conseguir novas oportunidades se fosse necessário. A  expressão:“ enquanto uns sobem cada vez mais ( os filhos daqueles que podem ou os herdeiros) outros ( dos que não podem) descem  cada vez mais”, até parece que a independência nacional foi conquistada , simplesmente, com o esforço daqueles  e para aqueles. Deixou de ser  simples piada para ser  um verdadeiro problema político e ideológico, um verdadeiro instrumento de guerra para a luta de classe que existe na sociedade Angolana. E o pior é que aqueles ( os que podem) respondem cinicamente e sem escrúpulos de que é inveja. Onde está, e vem,  tanto sacrifício destes( os que podem) para se provar  que aqueles  que não podem têm inveja ( ou qual a diferença   daqueles com relação a  estes em qualidades e potencial humano)?  Acusar os pobres de invejoso é uma tremenda declaração de guerra que só a burguesia nos inícios da  Revolução Francesa tinha coragem de fazer  aos milhões de trabalhadores pobres  que viviam nos ao redores de Paris e Londres ou nas grandes cidades européias. Até nisso,  a nossa burguesia está atrasada.


O que afinal deixa de ser utopia? É a perdida de  1 bilhão de dólares  pela Sonangol por investimento que mal o Governo sabe explicar à sociedade de como esse dinheiro foi investido? Não adianta, simplesmente, dizer  que é como conseqüência da crise e que todo mundo está perdendo. Primeiro, é que os famintos que existem nesse país não têm culpa da crise  que está aí. Segundo, qualquer  que seja a intenção de quem andou aplicando esse dinheiro e fazendo malabarismos financeiros o mesmo deveria, por obrigação e dever, explicar-se diante a sociedade, explicar tim-tim  por  tim-tim como esse dinheiro sumiu. Estamos cansados, simplesmente, de receber notícias sem explicações tratando a cada cidadão como se fossem uns débeis mentais.


 Um bilhão de dólar é dinheiro suficiente que daria para ser investido em outros programas, educação, melhorando a dita faculdade de  educação ou a de medicina, não estaria tão mal assim. É dinheiro nosso, do povo que deveria ser bem protegido, é dinheiro das nossas mães, nossas tias, que andaram abrindo suas pernas para parirem seus filhos, aqueles que eram enviados para fazer a  guerra e hoje fazer a existência possível dessa ordem que existe por aí beneficiando só “aqueles que podem”.  Por isso, não se trata de reclamar  por reclamar. Trata-se de conscientizar  as pessoas do que o dinheiro mal investido, e às vezes arrombado dos cofres públicos, é sagrado, é público  e quem manipula o mesmo tem que prestar contas.


* Nelo de Carvalho,
Fonte:
WWW.blog.comunidades.net/nelo e WWW.a-patria.net