Em meios qualificados do regime prepondera a convicção de que a promoção de “Nandó” é parte de uma dinâmica destinada a posicioná-lo como substituto, no futuro, de José Eduardo dos Santos (JES), actual presidente de Angola.

Segundo o «África Monitor» não está suficientemente estabelecida a natureza da relação que existiu entre a ascensão de FPDS “Nandó” e a exoneração de Fernando Miala e, por arrastamento, de figuras com ele conotadas no sector da segurança – SINFO e SIE – e da UGP-Unidade da Guarda Presidencial.

Conjecturas mais consideradas:

Segundo o «África Monitor», F. Miala foi afastado por deslealdade, incluindo prácticas présediciosas e o presidente angolano, agindo por força de tal emergência, tratou de se apoiar em “Nandó” como forma de compensar o vácuo e os desequilíbrios internos que o afastamento de F. Miala provocou.
Miala foi afastado no seguimento de cálculos políticos que impunham a sua neutralização como forma de criar condições elementares para FPDS “Nandó” subir, refere o «Africa Monitor» para mais adiante acrescentar que as acusações de deslealdade foram movidas contra Miala, apenas serviram de pretexto à medida. Refere aquela publicação portuguesa que entre FPDS “Nandó” e F. Miala existiu sempre um relacionamento reciprocamente desconfiado e tenso, de que José Eduardo dos Santos tirava proveito no sentido de os controlar e conter.
Conforme as conjunturas atravessadas, a rivalidade entre os dois regista ganhos e perdas por parte de ambos. No caso de a presente ascensão de FPDS “Nandó” ter ocorrido, de facto, num clima de autêntica pressão e ameaça sobre Eduardo dos Santos aquando dos acontecimentos  que levaram a um clima de pré-golpe de Estado que fez com que o presidente de Angola se mantivesse afastado do país por longo período, fica por determinar a intenção final da mesma e respectiva lógica.

Hipóteses consideradas:
 - Uma medida circunstancial de gestão política e pessoal (por parte de JES-José Eduardo dos Santos), da crise F. Miala e suas sequelas.
 - Uma medida de fundo tendente a identificar FPDS “Nandó” como futuro substituto de JES. O facto mais concludente do reforço da posição de FPDS “Nandó” foi a nomeação de Sebastião Martins para o cargo de vice-ministro do Interior – na prática, director do SINFO. Martins tem antigas e sólidas ligações ao actual primeiro-ministro “Nandó”, com o qual partilha sentimentos de inimizade para com Miala e conhece o SINFO e seus meandros. Em meios do MPLA e do regime geralmente bem posicionados é atribuída maior verosimilhança a análises de acordo com as quais a presente afirmação política de FPDS “Nandó” é parte de um processo congeminado por Eduardo dos Santos para o projectar como seu substituto na presidência.

Razões indeferidas da decisão de JES

Como razões para se explicar a decisão de Eduardo dos Santos, o «África Monitor» indexa as seguintes:
- A noção interior de que a inexistência de um “delfim”, num regime de vincada extracção pessoal, muito centralizado, é uma debilidade propiciadora de riscos múltiplos, em especial num quadro de emergência;
- Um “delfim” com imagem e aceitação consolidadas, eleva o grau de previsibilidade de evolução política do país e isso infunde mais confiança – interna e externamente;
- A pressão decorrente dos problemas de saúde por que passou em 2006;
- Está recomposto dos mesmos, a ponto de ter já retomado as suas antigas rotinas anteriores, mas é um facto verificado que passou por apuros (chegou a desfalecer, após a administração de uma injecção de iodo; teve de ser sujeito a recobro de urgência).

O actual Presidente da Assembléia Nacional  “Nandó”, que indevidamente se apresenta como parente de JES – apenas apelido comum – é uma figura tida como controversa. Os seus adversários descrevem-no como pouco culto, ávido de prosperidade material e honrarias, ambicioso (um desvio na voragem do qual tem sacrificado amizades) e por vezes insensato.

Para Eduardo dos Santos e para os interesses e expectativas que este julga dever acautelar, no presente e no futuro, FPDS “Nandó” apresenta mais vantagens que desvantagens como seu substituto, segundo o «África Monitor»»: - Guarda-lhe respeito e obediência – em parte devido à nítida ascendência pessoal e política que tem sobre ele;
- está seguro de que não o renegará nem se distanciará dele, sobretudo se o proteger e lhe facilitar o caminho.
- Domina o sector da segurança e tem mentalidade notoriamente securitária – por efeito acumulado de funções típicas que desempenhou e de cursos que frequentou na antiga URSS, Cuba e, ultimamente, em Israel;
- A estabilidade do regime depende em larga escala do factor segurança.
- É astuto na escolha das suas alianças e apoios; implacável no tratamento dos seus inimigos.
 - É um quimbundu de Luanda, com distintivos traços crioulos.

A amizade pessoal entre FPDS “Nandó” e JES está patente em evidências como a escolha daquele, por influência directa deste, para padrinho de casamento da filha, Tchizé Santos. As visitas privadas que trocam, inclusivé nas fazendas que ambos têm no Calulo – Belo Horizointe e Cabuta. Também a mentalidade securitária de FPDS “Nandó”, vista como causa da falta de sensatez que também exibe, tem estado presente em episódios que levaram JES a admoestá-lo – uma particularidade demonstrativa do ascendente, considerado quase paternal, que tem sobre ele.

Ainda o aparato excessivo de que se rodeia nas suas viagens ao interior; agora já não, mas antes chegava a mandar despachar equipas avançadas de reconhecimento – um privilégio apenas do PR. O trânsito nas ruas e estradas por onde deve passar nas suas deslocações é literalmente impedido. O cerimonial protocolar que “Nandó” exige à partida e à chegada no aeroporto de Luanda (actualmente restringido por determinação de JES) é outro factor que retrata uma confiança mútua que faz dele delfim de Dos Santos.

Futuro de Eduardo dos Santos

O outlook corrente relação ao futuro político de JES e da sua vida pública é a de que pretende candidatar-se a mais um mandato, não mais. Quer ser claramente eleito e cumprir o mesmo integralmente ou até onde eventuais razões de força maior (saúde) ou a sua própria vontade o consentirem. JES encara a sua eleição como fonte de uma legitimidade política e eleitoral de que sempre esteve desprovido e sem a qual não admite retirar-se. Dá a entender em ambientes recatados que só por tal razão está disposto a candidatar-se, concorrendo com candidatos que define como pessoas de outra geração.

Fonte: África Monitor (Junho de 2006)