Luanda - No dia marcado para o início do seu julgamento, Henrique Miguel mostrava um certo à-vontade, apesar de estar sentado num banco corrido do tribunal provincial de Luanda, em pose altiva, barba grisalha por fazer, peito ligeiramente inflamado e mãos nos quadris.

Fonte: Club-k.net

http://club-k.net/images/Riquinho%20Cadeia.jpgAo contrário dos demais reclusos que envergavam fardas castanhas, Riquinho foi presente diante do juiz da causa em vestes sociais. Para alguns dos presentes, a roupa que o empresário trajava serviu para reforçar a ideia de que ele tem estado a gozar de alguns privilégios na cadeia.

Aliás, há evidências que apontam no sentido de que o homem tem estado por detrás dos vários ataques que ultimamente têm sido desferidos contra pessoas e instituições do sistema judicial angolano, no pasquim, do qual ele é seu sócio-gerente.

Apesar de transmitir a ideia de uma certa segurança e à-vontade, Riquinho não conseguia, porém, disfarçar a imagem de desconforto de um homem perturbado, a contas com a justiça.

Do alto do seu quase dois metros de altura, o famigerado “empresário do povo” fazia a diferença entre os presentes no tribunal “Ana Joaquina”, não só pela sua imponência, mas também pela forma

rude com que focalizava os presentes, sobretudo fotógrafos de imprensa que procuravam colher dele o melhor retrato, a imagem ideal que espelhasse o verdadeiro estado da sua alma.

Em resposta aos olhares incendiários e ameaçadores do réu e seus familiares, os fotógrafos, longe de se renderem, foram disparando flashes atrás de flashes, uns mais luminosos do que outros.

Cientes do seu papel, eles procuram tirar proveito de uma rara oportunidade oferecida pelas limitações de um homem que, além de “empresário do povo”, “maior promotor de espectáculos em África” e “um dos mais injustiçados militantes do MPLA”, é também sócio-gerente de um jornal, que, paradoxalmente, tem-se afirmado paladino da «liberdade de imprensa» e do «livre exercício do jornalismo»!

Não fosse o contexto, a Riquinho não lhe faltaria, certamente, vontade de pôr fim àquela secção de fotografia, silenciando os profissionais de imagem com “alguns socos”...

À excepção dos familiares que o rodeavam, Riquinho sentia-se um homem só, impotente, abandonado pelo “povo”, que ele dizia ser seu “empresário”, pelos seus camaradas do partido e por vários advogados, que, cada um à sua maneira têm-se recusado em defendê- lo, mesmo diante de promessas de alvíssaras.

Nesse dia, provavelmente, 0 mais aziago na vida de Riquinho, ele que sempre se julgou estar “acima da lei”, não parecia acreditar na desgraça que se abatera sobre si.

Pelo olhar irado, ficou-se com a sensação de que ele estava também revoltado contra o regime político que um dia fez dele um dos seus “cabos eleitorais”, projectou-o através das conhecidas maratonas culturais, verdadeiros antros de bebedeiras colectivas e que, agora, o abandonou, como se um produto descartável se tratasse...

Não será este homem, hoje a contas com a justiça, uma vítima de um regime político, que movido pela ambição desmedida de ganhar eleições, fez de Riquinho uma «peça da sua engrenagem eleitoral»? Ou estaremos diante da “ascensão e queda de um delinquente”, como o caracterizou, em tempos, o sociólogo João Paulo Nganga, quando se referia ao “empresário do povo”?