Dizer abertamente, olhos nos olhos, aos representantes de grande parte daqueles, que acusam o nosso país em particular, o seu governo, os seus principais dirigentes, de má governação, corrupção, falta de transparência na gestão da causa pública, enfim, de todas as insuficiências, em todos os sentidos, que se queiram apontar, incompetência e todos os males reunidos, possíveis e impossíveis à face da terra, mesmo perante as evidências últimas, não foi apenas um acto de coragem. Foi sobretudo, um gesto de grande dignidade, uma atitude necessária, imperiosa, da responsabilidade e consciência de um homem, que se pronunciou em nome de todo um povo, para todos os povos, que se relacionam política e economicamente com a República de Angola, representados ou não na cerimónia. Não se tratava pois, de uma mensagem a amigos, a companheiros, aos que conhecem e analisam, fria mas sinceramente, as nossas dificuldades e sucessos, que são maiores ou menores do que os seus.

 Esses não precisam de ouvir, que a crise, que nestes tempos condiciona o mundo inteiro, como outras já vividas, “não são uma sina dos pobres, que a falta de boa governação e transparência, assim como a corrupção, não são uma insuficiência exclusiva dos países menos desenvolvidos”.

Esses sabem-no tão bem como nós, ou até melhor, porque têm maior experiência, mais anos de paz e há muito, que não são obrigados a sofrer situações terrivelmente devastadoras como aquelas, que nos foram impostas.

O apelo a uma nova postura, que exclua o egoísmo e torne mais democráticas as relações internacionais, mais justas e equitativas; o apelo ao diálogo e concertação de interesses, deixando de lado tantos motivos de mágoa e de conflitos, as causas inconfessáveis, que fizeram tantas vezes, da voz mandada de uns raros, a base única das acusações, contra um Estado e o seu povo, foi um momento de grande elevação política, foi o retrato de Angola, consciente de si mesma e do que representa.

Na Emanha, Huambo, entre aqueles rochedos enormes, como castelos de tempo e da eternidade, o povo diz: “Kapaswi okwoko, olondunge viswapo!”, para referir: “onde não cabe um braço, cabe a inteligência”! No sobado do Mussinda, adiante, usam mais: “Cilongisa onjala, lomwe okucilongisa”! – “A necessidade é mãe da invenção”.

 Acreditando, como acredito, na inteligência e compreensão comum dos povos, estou certo, que até a loucura, que tomou conta das divergências de fé e outras, que ditam o império da morte, em tantas partes do mundo saberão inventar as respostas às suas necessidades de vida. Também acredito assim, sinceramente, no eco do breve discurso de Angola.

Fonte: Jornal de Angola