Luanda - A falta de dólares na banca angolana está a impedir levantamentos imediatos ao balcão e já fez disparar a cotação da moeda norte-americana nas tradicionais 'kinguilas' de Luanda, que já têm dificuldades em satisfazer a procura.

Fonte: Público
bna1.jpg - 31.27 KBEm causa está a acentuada redução das receitas angolanas com o petróleo, face à quebra da cotação do barril no mercado internacional, que por sua vez fez reduzir a entrada de divisas, desvalorizando fortemente o kwanza, a moeda nacional.

Consultas feitas pela Lusa em alguns bancos de Luanda nos últimos dias resultam na praticamente generalizada impossibilidade de fazer levantamentos de dólares ao balcão, no imediato.

"São indicações do Banco Nacional de Angola. Fazem-se reservas de divisas, para levantar nos próximos dias, mas não é garantido que seja autorizado o levantamento do montante total pedido", explicou à Lusa o gerente de um balcão de uma das instituições bancárias angolanas, sob reserva.

A situação afecta empresas, que vêem dificultados pagamentos em divisas, ou clientes que pretendem viajar para o exterior e que nem com os comprovativos das deslocações conseguem fazer levantamentos.

Tal como a Lusa constatou na capital angolana, a situação tem levado os clientes a recorrerem ao mercado informal das 'kinguilas', mulheres que em plena rua trocam divisas por kwanzas e vice-versa.

Enquanto a taxa de câmbio oficial, publicada pelo Banco Nacional de Angola, fixa actualmente a compra de cada dólar pelo cliente - quando se consegue realizar - em 103,8 kwanzas (86 cêntimos de euro) e a venda em 102,8 kwanzas (85 cêntimos de euro), na rua esses valores dispararam nas últimas semanas.

Uma rápida consulta feita nos mercados informais de Luanda confirma que comprar às 'kinguilas' de rua custa mais de 120 kwanzas (1 euro) por cada dólar. Também para quem quer vendar dólares a taxa informal praticada é substancialmente superior à oficial, dada a procura para compra, e oscila entre os 110 e os 113 kwanzas (94 cêntimos de euro) por cada dólar. Embora sem se identificarem, dada a vulnerabilidade deste negócio, estas vendedoras são unânimes em garantir que os preços vão disparar nos próximos dias, face à contínua escassez de moeda.

Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África subsaariana, tendo o crude garantido 76 por cento das receitas fiscais de Angola em 2013. O Governo angolano projectou para 2015 a exportação de cada barril de petróleo a um valor médio de 81 dólares - referência para calcular a previsão de receitas fiscais -, mas os preços no mercado internacional rondam os 50 dólares. Por este motivo está já a ser preparada a revisão do Orçamento Geral do Estado para este ano.