Parece que a possibilidade de uma vida melhor para todos compatriotas incomoda a muitos. Os acontecimentos das últimas semanas, é melhor que sejam esquecidas. Foi um festival de baixaria, de rancor e de pouca vergonha. É o surgimento de mais uma pequena nuvem de horror no horizonte e que prestes irá fustigar a todos nós, novamente?

Sentemos, em círculo, e confabulemos um pouco. Afinal de contas, Angola é país que pertence a quem? Quais as pessoas que têm a exclusividade de mandar neste imenso país? Nós temos angolanos de primeira categoria, que receberam a procuração divina para que façam do país aquilo que bem entendem e angolanos de segunda categoria que nasceram só para obedecer e bater palmas aos da primeira categoria? Por que uns podem governar e outros não podem? Que escolas que alguns passaram que lhes fizeram ser mais inteligentes e mais capazes que os outros? Existe, em Angola, um local mais privilegiados que faz de seus filhos príncipes e princesas? Nós temos que passar essas e outras questões a limpo, para que fique tudo claro. Ou nos firmamos como uma nação ou fazemos o balanço. Pronto!.

Todos aqueles que acompanham as notícias de Angola, devem ter ficados horrorizados com festivais de editoriais repugnantes que certos órgãos oficiais vomitaram. Foi uma verdadeira guerra entre Sansão e Golias. A imprensa oficial apontou sua artilharia pesada contra o presidente do maior partido da oposição. Essa gente quer o quê? É bom que eu deixe bem claro. Eu não conheço Samakuva, mas defenderia qualquer um que estivesse no seu lugar.

Tudo aconteceu porque Samakuva, que se encontrava em Portugal, falou o óbvio. Ele afirmou que havia corrupção em Angola e reafirmou a sua posição em relação à defesa da democracia e o respeito às instituições. Disse mais. Ele afirmou que não iria governar autoritariamente e deixou bem claro que não levaria acabo nenhuma política de caças às bruxas. Isso é boa notícia.

Difícil é entender a reação da TV e Rádio que emitiram editorias deprimentes. Não prestaram nenhum serviço de qualidade ao povo angolano. O homem ainda não ganhou. A imprensa oficial, através dos editoriais, pede para que Samakuva apresentasse provas da corrupção em Angola, como se a corrupção de Angola emitisse nota fiscal nessas operações. Há formas indiretas de prová-las.

Refresquemos um pouco as nossas memórias. Em seu artigo intitulado “Corrupção faz «vítimas», Gustavo Costa escreveu: “O Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, convocou há dias uma reunião do seu «staff» para discutir uma questão que toda a gente conhece: a corrupção que se instalou no Futungo de Belas, o palácio presidencial. No encontro, o Presidente pôs a nu o envolvimento de altos funcionários do seu Gabinete em esquemas de corrupção que atentam contra os seus próprios interesses pessoais.”  Aí, quem tem que apresentar as provas?

Ainda sobre corrupção, um dos artigos publicados no jornal “Correio Braziliense”, de 24 de abril de 2001, estampou o título: “Corrupção. Escândalo em Angola: Presidente favorece filha”. Continuemos mais. Numas das entrevistas que concedeu à rádio Voz da América, foi perguntado ao presidente em exercício de Angola como seria resolvido o problema da corrupção. Ele respondeu: “O problema da corrupção nenhum Estado resolveu. O senhor pode indicar um Estado do mundo que não tenha problemas de corrupção? Há aí uma organização que normalmente publica uma ordem de precedência sobre a corrupção em diferentes partes do mundo. Portanto, há corrupção em todo o lado. O nosso Governo realiza o que pode para combater a corrupção, este mal”.  Afinal, há ou não há corrupção? Paremos por aqui.

Samakuva foi, também, duramente criticado, por alertar sobre o perigo da realização das eleições em dois dias. Os porta-vozes do MPLA acreditam que o país de dimensões como o nosso tinha mesmo que realizar as eleições em dois dias. Que preguiça!. Aliás, os oniscientes órgãos de informação já confirmaram, praticamente, que será decretado o feriado no dia 5, sexta-feira de setembro. Afinal de contas quem fez o editorial, o jornal ou o Futungo? Esses homens só dão bandeira! Isso mais parece duas crianças que passaram o dia a sós e aprontaram alguma coisa. A mais velha pede para a mais nova não contar nada. Assim que os pais chegam, a mais nova começa com dizendo: eu falar!. O mais velho dá uma olhada ao mais novo. A mãe que é muito esperta diz logo: pode contar. O quê foi?

O Brasil, que é infinitamente maior que Angola, realiza as eleições num só dia e 95% dos votos são conhecidos até 4 horas depois que a última urna é fechada. Ou seja, todos vão dormir sabendo já quem foi o vencedor. Esse sistema já foi usado em outros países. Em Angola querem que os resultados sejam divulgados até 15 dias? Só se levarem as urnas para o Dombe Grande! Por que Angola, que consome muitos produtos brasileiros, como telenovelas, não utiliza esse mesmo sistema , principalmente nas capitais das províncias? Ou seja, cerca de 80% dos votos de Angola seriam conhecidos até 21 horas do mesmo dia e os outros podem ser cozinhados pelos dias que quiserem.

Eu percebo que o discurso da UNITA mudou. Todos na vida têm o direito de mudar, principalmente quando é para melhor. Diz o velho pensamento: “triste não é aquele que muda de idéias, mas aquele que não tem idéias para mudar”. O MPLA, infelizmente, não prega mudanças, apenas a mesmice.

Por isso o discurso da oposição incomoda a elite dominante, que já, muito provável, estão com os mesmos discursos prontos desde 1992. Acredito que a idéia deles seria só mudar onde estava Savimbi botar Samakuva. Agora se deram conta de que as cordas estão desafinadas. Imagine que esteja escrito: Unamos-nos porque se Savimbi ganhar irá nos perseguir. Quando substituem por Samakuva, já não funciona. Ou seja, eles estão a entrar em parafuso porque são obrigados a preparar outros discursos para fazerem face à nova ordem. O que confunde as pessoas, é que, em vez de trabalharem, puxarem um pouco pelas caiximónias, preferem diabolizar os adversários. Cruz Credo! Gente, vamos trabalhar um pouco! Vamos acabar com essa preguiça mental!.

Ainda, há poucos dias que ocorreu aquele furo jornalístico: a revelação do plano secreto de denegrir a UNITA e alguns de seus dirigentes. Tal plano seria executado por Kundi Paihama, Bento Bento, Kwata Kanawa e Dino Matross (repito, isso não combina com a formação nem com a história de Dino Matross. Ele se rebaixaria muito se abraçasse essa idéia maluca). Se esse documento é verdadeiro ou falso, aguardemos. Esperemos para vermos se haverá cumprimento integral de tal plano. Coincidência ou não, algumas coisas já começaram a ocorrer: denegrir a imagem de Isaías Samakuva, fazer uma onda propagandística contra a UNITA e expulsar de ONG.

Dino Matross, que eu admiro muito, deve seguir o exemplo de Caetano de Souza, o presidente da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), também formado em Direito, há poucos dias solicitou a utilização de uma linguagem de paz e unidade. Falou bonito. Segundo ele: “o processo eleitoral põe as pessoas e partidos políticos num estado de tensão psicológica muito forte (até agora só o MPLA ficou infectado). Por isso, qualquer palavra inconveniente ou mal pensada, de forma a pretender um dividendo político, que pareça oportuno explorar, ou até de forma leviana, pode dar lugar a um conflito”. No final, como arremate, ele afirmou que os partidos políticos e jornalistas devem, nos seus discursos, comícios ou escritos, evitar publicitar opiniões susceptíveis de criar um conflito.  O presidente da Assembléia Nacional, o histórico Roberto de Almeida foi ao encontro a esse pensamento quando aconselhou aos jornalistas a “rimarem pelo rigor, objetividade e ISENÇÃO, e integridade, a fim de prestarem um serviço de qualidade ao povo angolano”.

O presidente da CNE deveria também sugerir aos políticos para não ficarem pedindo votos massivos aos fiéis de igrejas, nas igrejas, principalmente se forem políticos de partidos maduros. O voto pede-se na rua, em casa e nos comícios. Partido é partido. Igreja é igreja. Igreja é lugar sagrado. Lá é lugar dos oprimidos. É lugar de pessoas que procuram aliviar seus fardos, que os políticos os fazem levar. Fora, os políticos pisam neles. Agora vão à Igreja, lá aparece de novo o político. Oh gente, pô... vamos devagar!. Deixemos o povo respirar um pouco. Pior que isso é quando um líder religioso usa o púlpito, para exortar aos fiéis a votarem nesse ou naquele partido. Líderes religiosos deveriam incentivar a seus membros para que participem ativamente do processo eleitoral. Todos nós temos o livre arbítrio e deve ser usado “livremente”. Cada um sabe aquilo que é bom para ele.

Finalmente, lutemos por um país melhor. Angola é muito grande. Sejamos mais objetivos: queremos paz e trabalhemos por ela. Somos todos irmãos: homens ou mulheres, brancos ou negros, do norte ou do sul, do MPLA ou da oposição. Nota zero para a imprensa oficial, imprensa marron, pelo papelão a que me referi. Abaixo a bajulação. Esses homens precisam entender que não é só da bajulação que vive o homem. Creio que Caetano de Souza foi bastante claro e feliz. Que pena que só temos um Caetano! Acredito que o Senhor Caetano já garantiu seu lugar no céu. Precisamos de mais discursos equilibrados como esse.

* Feliciano J.R. Cangüe
Fonte:
http://www.cangue.blogspot.com