Luanda -  Queria, à semelhança do debate da semana passada, resumir as respostas de cada convidado. Mas fui traído pelo sinal da Net, que foi muito fraco e não o permitiu. Faço agora uma breve avaliação do desempenho de cada convidado, usando dois critérios: 1) - Linguagem corporal; 2) - Conteúdo do discurso.

Fonte: Facebook

"Mihaela Webba foi, em minha opinião, a pior no debate"

Seguirei a ordem cronológica dos nomes:

1. BRANCO LIMA - Jurista e docente universitário, veio a propósito de Benguela. Talvez por isso, denotou cansaço, sendo o que menos interviu. Mas quando o fez, demonstrou um bom domínio da Ciência Jurídica. Foi dos que mais se posicionou contra o que se pode considerar os excessos e manipulações conceptuais de um dos convidados, manifestando-se visivelmente incomodado. Trouxe uma carga ideológica que situou-o próximo do MPLA, embora moderado. Podia ter participado mais.

2. JORGE VENTURA - Jurista e docente universitário. Assertivo e sereno, foi, em minha opinião o melhor no debate. Independente, situou-se no campo da Sociedade Civil, concordando e discordando com os representantes, tanto do MPLA como da UNITA, conforme a sua visão. Discordou com Mihaella Webba quando esta afirmou o país não ter Constituição e o PR não ser responsabilizado criminalmente e com João Pinto também em mais de uma ocasião. Aliás, foi com ele que o último perdeu a paciência, solicitando a mediação do moderador. Serenamente, esperou que o também Deputado se acalmasse, antes de, calmamente finalizar o seu raciocínio. Foi frontal, assertivo, sereno, educado e elegante. Ganhou mesmo elogios do Mais Velho Onofre dos Santos

3. JOÃO PINTO - Igual a si mesmo, denotou entretanto o à vontade que a sua frequente exposição à media lhe conferiu. Beneficiando de a representante da UNITA ter-se incompatibilizado conceptualmente com todos os outros convidados, deu-se mesmo ao luxo de ser irónico, quase espezinhando em toda a linha a arqui-rival. Técnicamente esteve bem, mais pelos erros crassos da rival, tendo nesta esquebra protagonizado quiçá a melhor defesa do seu partido de sempre. o mérito disso pode ser ter conseguido atrair MW para uma área onde é quase imbatível: os fundamentos teóricos do Direito e na qual esta jurista que já foi considerada «a melhor Constitucionalista do País» revelou uma falta de domínio surpreendente. Caso para dizer. Os dois estudaram juntos em Portugal e conhecem-se academicamente...

4. MIHAELLA WEBBA - Em termos de postura corporal, apresentou-se bem no princípio, invertendo radicalmente a imagem descuidada, quase desmazelada que era a sua marca. Estragou isso à medida que o debate avançava por via de uma gesticulação exagerada e esgares faciais que traíram o nervosismo que gradualmente se ia apossando dela, talvez por ter.se dado conta que estava isolada e na mira dos outros convidados, incluindo Jorge Ventura, que era suposto ser seu aliado putativo. Chegou ao ponto de protagonizar uma «branca» de quase 10 segundos em que, de olhos esbugalhados ficou sem saber o que falar. Cometeu o erro de trazer conceitos construídos por si que acabaram descompostos pelos outros convidados, incluindo Onofre Santos, o que traz dúvidas quanto a sua honestidade intelectual enquanto académica. Ou o seu domínio dos fundamentos do Direito. Terá sido, talvez, a sua pior intervenção pública e, de longe, a pior da UNITA neste Debate, depois das brilhantes participações de Jaka Jamba, Adriano Sapiñala e Adalberto da Costa Júnior. Prestou um serviço duvidoso ao seu partido, ao passar a ideia que esta sociedade está irremediávelmente perdida e que precisa de uma «revolução». Foi, em minha opinião, a pior participação do debate.

5. ONOFRE DOS SANTOS - Sereno, tranquilo e bem humorado, lembrou a muitos o Director Geral das eleições de 1992, de cujo sorriso, as esperanças dos angolanos se realentavam. Tratado por todos como o decano do painel, foi o que mais «obedeceu» aos apelos do moderador para respeitar o tempo. Técnicamente impecável, viu-se três vezes obrigado a «reprovar» a representante da UNITA, primeiro quando, corroborando com João Pinto considerou de «provocação» a sua asserção que «Angola não tem Constituição», depois quando a mesma MW «inventou» o conceito jurídico de «crime contra a Constituição» e finalmente quando esta disse que não havia separação de poderes na Constituição. No entanto, soube sempre fazê-lo com elegância, mesmo quando teve que chamar a dita constitucionalista da UNITA à razão, com um tranquilo «não sou constitucionalista, mas sou Juiz do Tribunal Constitucional» como quem diz «assanhe-se como quiser, mas quem decide de constitucionalidades ou inconstitucionalidades sou eu e os meus colegas»... sem se esquecer de reconhecer com certa humildade que «nós próprios, os Juízes do TC temos grandes discussões sobre a interpretação da Constituição».

POR JUNTO E ATACADO:

1. A TV Zimbo, mais que das outras vezes fez um tremendo serviço público. Não me surpreendia que este Debate valesse ao Francisco Mendes ou o Premio Maboque de Jornalismo (o qual, como é meu direito recomendo a Justino Pinto de Andrade e pares) ou o Prémio Nacional de Jornalismo Luís Fernando). A adição da plateia de 12 pessoas, incluindo estudantes, foi uma experiência muito bem sucedida. Deu mais sabor a um já ajindungado programa.

2. A Representante da UNITA cometeu o já habitual erro de incompatibilizar-se desnecessariamente com tudo e todos e, acabar debaixo de fogo vindo de todos os lados. O desempenho da sua representante foi de tal maneira desastrado que esse partido acabou dando razão àqueles que vão dizendo que tem problemas de inserção na sociedade que se fez enquanto andava nas matas ou no estrangeiro. Que, se um dia for Poder, vai partir tudo e construir à sua moda. Discurso que lhe trouxe, traz ainda e, parece, trar-lhe-á muitos amargos de boca, politicamente falando.

3. O MPLA saiu a ganhar, como sempre mais por descalabro do arqui-rival que por mérito próprio, apesar de este não lhe faltar no aproveitamento dos erros do adversário. Repete-se o aforismo: com uma oposição destas, quase que não precisa de fazer campanha e pode, de esquebra, cometer os erros que quiser.

4. A Sociedade Civil, representada por Jorge Ventura, mostrou-se mais uma vez, a argamassa que tem a capacidade de buscar equilíbrios, fiscalizar os políticos e contribuir na construção da nacionalidade que se quer. Se o MPLA a vai tratando com indiferença, a UNITA não percebe, ou não quer perceber a tremenda mais-valia que uma aliança - ainda que circunstancial - lhe pode trazer.

EM RESUMO

Se fosse para classificar os intervenientes ficariam assim:

1º. Jorge Ventura

2º. Onofre dos Santos

3º. João Pinto

4º. Branco Lima

5º. Mihaella Webba

É CLARO QUE ESTA «AVALIAÇÃO» É APENAS A MINHA OPINIÃO.