África: Acelerar a economia e redução da pobreza

Americanos de todas as raças e idades, manifestaram uma genuína satisfação e um profundo orgulho, por esta conquista que é ao fim ao cabo, reflexo do progresso que fizeram como nação, assente na sua diversidade. O mundo partilhou a emoção de um acto que parece ter aberto novas perspectivas para tantos que marcham combalidos pelas ruas das suas vilas ou cidades, vencidos pela forca do desespero. “Yes we can” é um slogan que transcendeu as fronteiras americanas e passou a ser pertença de todos que, na comunidade internacional, acreditam nele como força motriz.


O Obama, negro Americano, já faz parte dos anais da história. O Obama, presidente, tem um caminho por desbravar e uma historia por fazer, cujo sucesso dependerá da sua capacidade de liderar e das circunstâncias envolventes. O facto de Obama ser filho de pai Queniano, criou naturalmente expectativas sem precedentes, sobre os benefícios que a África poderá lograr da sua administração enquanto os governantes esperam maior cooperação, os governados, sobretudo em países onde persiste a ditadura, esperam da administração Obama, a promoção do respeito pela vida, dos direitos humanos, e da utilização responsável dos recursos naturais.


Durante um seminário sobre as relações US/África, organizado recentemente pelo "American Entreprise Institute", um amigo meu disse, “não te esqueças que Obama será presidente dos Estados Unidos da América”. Nesta advertência parecia estar a essência do problema. Obama foi eleito para promover e defender os interesses do povo Americano, que nem sempre serão coincidentes com os interesses dos povos Africanos. Assume a liderança do país num período de crise económica internacional com uma gravidade particular para o mercado de emprego, e numa altura em que a luta contra o terrorismo e as guerras do Iraque e Afeganistão, continuam a ocupar as atenções do executivo. Esta situação, ditará uma hierarquia de prioridades que poderá relegar as expectativas dos governados, no continente Africano, em segundo plano . Dito isto, há factores que sustentam a esperança de estarmos diante de uma ligeira viragem na política Americana para o continente Africano:
 
•        No seu discurso de empoçamento, Obama disse, “...para aqueles que se agarram ao poder através da corrupção, do engano e da eliminação da oposição…estais do lado errado da historia...estender-vos-emos ajuda se estiverdes dispostos a abrir a mão (abandonar a governação musculada).”
•        Os peritos Africanos que integram a equipa Obama, definem os objectivos da sua política como sendo, acelerar a integração do continente Africano na economia global; reforçar a paz e a segurança dos Estados Africanos; aprofundar as relações com governos, instituições e NGOs, comprometidas com a democracia, a boa governação e a redução da pobreza em África
•        Obama tem conhecimento pessoal da vida no continente o que cria maior sensibilidade e compreensão dos problemas. Dizia alguém, que será o primeiro presidente Americano em posição de indicar países Africanos com as respectivas capitais.
•        A administração Obama vai procurar dar mais ênfase ao aprofundamento de políticas bilaterais em detrimento de uma “política Africana”. Vai acabar gradualmente a tendência de olhar para África como um grande país. Neste quadro, a procura e a oferta ditarão as iniciativas.
•        O combate ao terrorismo será conduzido através da ênfase ao combate a pobreza e a promoção da estabilidade politica, em sincronia com programas do AFRICOM.
•        O AFRICOM e suas actividades, serão objecto de maior consulta com os países Africanos a fim de elevar o diálogo sobre segurança colectiva e objectivos a alcançar no quadro da paz, segurança e estabilidade. E também intenção da Administração Obama transferir o comando do AFRICOM para território Americano, tornando-o independente do EUCOM.
•        A administração Obama procurara maior concertação com o governo chinês no que diz respeito as respectivas politicas Africanas. O objectivo e de cultivar a complementaridade no quadro de uma “competição saudável”
 
Alguns casos específicos:
 
•         No Sudao - aumentar a pressão sobre o governo de Khartoum no sentido de parar o conflito e permitir evolução da força de paz da ONU.
•         Na RDC- apoiar a forca de manutenção de paz da ONU, MONUC e impor metas mensuráveis ao processo “tripartido +” (DRC, Rwanda , Burrundi e Uganda ) de forma a garantir o progresso e a segurança
•         No Zimbabwe - exigir que o acordo de partilha de poder evolva tão cedo quanto possível, de um governo controlado por Mugabe para um que reflicta as eleições de Marco 29. Exigir ainda que Mugabe permita a reabertura das actividades das ONGs para socorrer a milhões de cidadãos com bens alimentares e medicamentosos.
 

Em termos de intenções, estes enunciados reflectem maior equilíbrio político, o que seria construtivo para o continente se forem, de facto, aplicados. Porem, como todas outras administrações, esta ira cedo descobrir que nem sempre os ideias convergem com os interesses. A prossecução de uns ou de outros, em circunstâncias dadas, determinara a diferença entre esta Administração e as outras. Do lado Africano, os líderes têm a oportunidade de proceder reformas democráticas e implementar políticas inclusivas de desenvolvimento socio-economico, não para impressionar outrem mas, para dinamizar as economias dos seus países, no interesse dos seus povos respectivos. Políticas de investimento e práticas de negócios que não facilitam cidadãos nacionais, tão pouco facilitam investidores estrangeiros, criando uma situação de apatia.


Consequentemente, países que tiverem governos transparentes e que prestem contas ao povo, sociedades capazes de respeitar todos os seus cidadãos e oferece-los igualdade de oportunidades, estarão em melhores condições de explorar os benefícios da globalização, integrar a economia global e influenciar políticas de cooperação mutuamente benéficas, que caracterizam o século XXI. Em conclusão, o empoçamento histórico de Obama, em si só, não será suficiente para trazer benefícios a cooperação bilateral com países Africanos que não se adaptarem politica e economicamente aos novos tempos.
 

* Domingos Jardo Muekalia
Fonte: Club-k