Comecei com o Barack. Folheei, folheei e nada. Então lembrei-me que na nossa tribo não há nenhum nome parecido com Barack, portanto fora com ele.  Hussein. Bem, nunca fomos islâmicos excepto pelo facto de termos tido vizinhos que eram Muçulmanos e a quem chamávamos de “Homens Encapuçados” (os seus p**s pareciam que tinham capuzes).

Não, não havia sangue muçulmano correndo nas veias do nosso clã. O meu pai tinha sido protestante, mas abandonou essa igreja junto com o seu nome de batismo quando aderiu a Igreja do Santo Copito, para glória do deus Baco.

Hussein? Hussein? Onde é que ouvi esse nome antes? Yes!! O meu avô-padrasto!! O seu nome era Abdullah! Isso mesmo! Era o lado muçulmano da família, não acham? Só que o avô-padrasto morreu sem deixar descendência, o que corta qualquer relação familiar, mesmo distante com Hussein. Mas fixe, fico com Obama mesmo.

Yá cambas, Obama é um nome Camaronês com tudo o que isso implica. Deixa-me ver, Oba...? Bem, tive um primo chamado Obang. É muito parecido, não é? Só que isso foi há muito tempo, lá na África Oriental. E daí? Se não me engano, Obama tem sangue Luo (Nyongoma Kogelo), sabem onde fica isso? Nas margens do lago Ukerewe. Assim tenho montes de hemoglobina Luo no meu sangue. É isso mesmo!! Podemos ser primos!!

Sacudi os restos do maruvo do fundo da cabaça e dando mais um golo, mastiguei o último gomo da cola. Não estava muito seguro do meu parentesco com Obama. O que acontecia comigo era o mesmo que acontecia com muitos outros Africanos.

Segundo Joseph Warungu, editor Chefe do programa “Focus on África” da BBC, os Africanos devem estar “atirando genes para dentro da equação Obama”, para retirar soluções do tipo “Obama é meu primo”, “andei na escola com um amigo do tio do Obama”, e wá wé, wá wé. Para os Africanos tudo gira á volta do parentesco e por boas razões: Somos todos irmãos e irmãs espirituais

E Obama certamente que sabe disso. A única sorte dele é estar a milhas, lá nos states, onde o parentesco termina na porta da rua. Se ele estivesse em África, podem ter a certeza que centenas de parentes teriam já acampado nos jardins da Casa Branca, enquanto que outros teriam mandado milhares de cartas de apresentação explicando o grau de parentesco com o presidente. Homem de sorte esse Obama.

Audácia da Esperança:

Se por um lado o homem negro não confia nele próprio e se denigre por ser negro, não tem força moral, sofre de kwashiorkor cultural, sente-se inadequado e inferior, por outro lado a força cultural de Obama e a sua audácia para mudar as coisas, valem a pena de serem imitadas.

É tempo de Mudança!! A audácia de Obama é simplesmente irresistível. Mas sendo a África o que é, não vai copiar a visão de Obama para mudar as coisas e se renovar. Eu sei disso porque quando me sentei para falar com pessoas que considerava inteligentes, a impressão que eu tive era de que todas pensavam “Obama é nosso!!”.

O que elas tentavam dizer era “mais ajuda!”. Olhem só, essa coisa de sermos pedintes é o que nos atrasa. Parece que fomos programados apenas para esticar a mão e pedir, pedir, pedir e pedir!!

Deixem-me dizer uma coisa. Para além de ser Americano de facto e por convicção, Obama deixou de ser um indivíduo no dia em que foi eleito presidente dos EUA. Ele agora é a própria América, e não presidente para a África. De qualquer modo, tornou-se presidente porque o povo Americano garantiu-lhe um meio ambiente adequado.

América é grande e tudo nela é grande! A terra é grande, o povo é grande, eles têm grandes cérebros, grandes casas, grandes carros e grandes estradas. Podem apostar que tudo na América é o maior do mundo. Portanto, os problemas da América também são os maiores do mundo e Obama herdou uma boa parte deles.

Sabem, é que George W. Bush teve um tempo dos diabos para fazer “defecadas” pelo mundo fora. Deixou montes de caganitos espalhados e Obama tem toneladas de limpezas para fazer – consertar as finanças derretidas, cuidar três frentes de batalha em três guerras. E os rapazes da coca na Colômbia e Afeganistão? E o demônio do Irão? Com todos esses problemas a preencherem o menu presidencial, o engajamento de Obama com a África será como a sobremesa: opcional. É claro que ele também pode delegar poderes, né?

Existe uma coisa em que parecemos todos de acordo. Obama, apesar de absorvido com os problemas gigantes da América, deveria persuadir os seus tios delinqüentes Africanos a se retiram, com honra, para os seus quimbos. Refiro-me aos eternos líderes da África sub-Sariana.

Não sei se sabem. Os líderes Africanos são as criaturas mais temidas nessa terra de Deus. Eles já foram acusados, em certas ocasiões, de transformar os seus próprios países em verdadeiros caos e Obama sabe disso. Os jovens em África têem protestado e chorado pela forma como as elites governantes os subjugam e desmoralizam. Duvido se Obama gosta de ouvir isso. Deixem-me dar-vos a lista dos carrascos:

Jose Eduardo dos Santos, de Angola, tomou o poder em 21 de Setembro de 1979; Blaise Compaore, do Burkina Faso, tomou o poder em 1987 após o assassinato de Thomas Sankara (Snkara tinha liderado um golpe de estado em 1984); Paul Biya, dos Camarões, tomou o poder após a resignação de Ahmadou Ahidjo em 1982; Denis Sassou-Nguesso, da Republica, do Congo governou de 1979 a 1992 e retirou-se após derrota eleitoral. Retornou ao poder em 1997 com a ajuda dos Angolanos.

Teodoro Obiang Nguema, da Guiné, chegou ao poder em 1979 após golpe de estado. O seu governo é considerado dos maiores violadores dos direitos Humanos em África.

Omar Bongo, do Gabão, foi para a presidência em Dezembro de 1967, após a morte do seu predecessor. É um intimidador nato. Omar al-Bashir, do Sudão, governa o país desde o golpe militar de 1989 e o Rei Mswati III, da Swazilândia, é o último monarca absoluto da África e governa o país desde 1986. Yoweri Kaguta Museveni, do Uganda, liderou uma insurreição para a tomada do poder em 1986. Planeja concorrer a um novo mandato em 2011.

E depois é claro, há o velho Robert Mugabe, do Zimbabwe, que lidera o país desde 1980, data da independência. Não nos esqueçamos de Yahya Jammeh, da Gâmbia, que derrubou Dawda Jawara em 1994 com ajuda dos auto-proclamados  "soldados pela diferença". Esse aí quebrou todas as promessas que fez, de combater a corrupção, restaurar a democracia e o estado de direito, fazer a prestação de contas com transparência. Substituiu tudo isso pela promoção da pobreza e repressão política.

Por favor, Obama, se não puderes fazer mais nada pela Mãe África, pelo menos convence os teus tios a abraçarem mudanças de forma pacífica. E para nós os Africanos a mensagem é que depois da euforia, vamos todos para as nossas lavras cultivar e, por favor, deixemos de pedir esmolas!

Tradução: Cornélio Augusto.
Fonte:  Blogafrica.com