Luanda - Aos 15 anos de idade quando aceitei a doutrina de Jesus Cristo na minha vida através da Igreja Católica, tive a oportunidade de conhecer Dom Luís Maria Perez de Onraita, enquanto ainda padre na Igreja de Nossa Senhora das Graças, na Precol-Rangel. Dele recebi algumas catequeses e ensinamentos que hoje constituem o alicerce da minha vida ética e da minha formação intelectual.

Fonte: Club-k.net

Pelos diversos serviços pastorais que presto na Igreja, tive a oportunidade de, não poucas vezes, rezar e conviver com ele e com o seu irmão, Padre Carlos.

Luís Maria chegou em Angola 1958 para trabalhar em missões em Malanje e posteriormente veio para Luanda. Mas, foi em Luanda e na Paróquia citada acima que eu e outros jovens acompanhamos e beneficiamos da sua ação evangelizadora e pastoral.

Luiz Maria era dos homens que gravaram em sua vida o axioma de Terêncio segundo o qual «Homo sum; humani nil a me alienum puto», isto é, «Sou humano, nada do que é humano me é estranho ou indiferente». Ou ainda as palavras de Jesus: « Eu sou o bom Pastor, o bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas» (João 10, 11). Era um homem afável, sempre sorridente, sereno mas também rigoroso na vivência do princípios morais e evangélicos.

Como pároco da Precol, Luíz Maria prestou serviço pastoral que contribuíram para a educação espiritual, moral, bíblica e intelectual (formação integral) de muitas gerações de jovens da Precol, do Rangel, Cazenga e arredores do Sambizanga. Lembro-me, só a título de exemplo, do Zé Bragança (Padre) e do seu irmão Mário Bragança (economista), da Madre Mariazinha, do Francisco Felipe (Engenheiro), do Correia (Professor e Assistente Social), do Dilson (compositor musical), do Pedro Romão e do Altino Canjengo (juristas), do Menezes Sumbanguia (Politólogo), do tio Lourenço Neto e sua esposa, tia Belita (professores), do Valter Cristóvão (jornalista), da Adelina Inácio e da Maria Eugénia (jornalistas), do Melo ( Diplomata), do Beto Cassua (homem do Teatro), do irmão Agostinho (Legionário e professor), dos kotas Ricardo (economista), Paulito (oficial da polícia), do Paixão (jurista), do Pedro Macedo (juiz de direito), do Manuel Ventura (Artista Plástico), do Xavier Squeira (Arquiteto), das professoras Paula e Valentina, dos professores António de Jesus (in memoriam) e Dom Frank, e dos catequistas Agostinho Ventura, Panzo, Kwanza, Rosalino, Costa e Isaac, cujos exemplos de vida ainda são referências na sociedade e na Igreja, sobretudo, nos municípios do Rangel, Cazenga e no bairro da Precol.

Para além deste aspeto, fiquei igualmente marcado pela obra social empreendida por Dom Luiz Maria e seu irmão Carlos, entre os quais a construção de centros de saúde, centros de formação e, em alguns casos, casas de acolhimento para pessoas carentes que acorriam aos serviços das Cáritas na Precol, no Cazenga e, obviamente, em Malange.

Arcebispo de Malanje.jpg - 42.52 KBPara nós que acreditamos na vida além túmulo, a morte de Dom Luiz Maria deixou-nos um duplo sinal: Fé e Esperança. Ele internou no Hospital nas vésperas ou proximidade da quarta-feira de cinzas, dia que para os católicos, começa o longo período de preparação para a Páscoa, e partiu para a casa do Pai na tarde de Sexta-feira Santa, quando celebrávamos a Paixão e Morte de Jesus Cristo, Nosso Senhor.

É um motivo de Fé porque quem como Dom Luiz Maria acredita em Jesus Cristo e vive ao serviço dos irmãos e da irmãs, pela misericórdia de Deus, poderá ter o seu lugar no Ceu, não morrerá, mas viverá eternamente. A morte não é dor, não é o fim, mas sim uma passagem para a outra vida, onde já se vive a Igreja Celestial.

A Fé na ressurreição de Cristo é o fundamento da Fé Cristã e da doação ao próximo. Como ensinou S. Paulo: « Se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vazia, e vazia também a vossa fé». (1Cor 15, 14).

É motivo de Esperança porque, cada vez, que morre um irmão em Cristo, devemos acreditar que a qualquer momento o Senhor nos chamará e um dia também reinaremos com Ele. Enquanto Igreja peregrinante, somos chamados a manter viva a nossa fé e oração para um dia vivermos os novos Céus e nova Terra. Dito de outro modo, a nossa Esperança está em Jesus, pois Ele nos disse: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente”. (João 11.25-26).


Por esta razão, este momento é mais de fé e de esperança, e não, humanamente falando, de dor e tristeza. É também um momento de eterna gratidão.


Twasakidila, Luíz Maria! Que sua alma descanse em Paz na morada do Senhor!

António Ventura