Correio da Manhã – O que significa para a Igreja angolana a visita do Papa Bento XVI no próximo mês de Março?

Dom Filomeno Vieira Dias – A oportunidade de pensarmos com o sucessor de Pedro os caminhos da nossa Igreja e da nossa terra. Esta visita é ainda o reconhecimento do esforço e empenho da Igreja angolana na evangelização, com os seus mártires, os seus frutos e a sua esperança; o reconhecimento do seu empenho na reconciliação e democratização do país.

– Como classifica as relações entre a Igreja e o Estado angolano?

– Boas, sem serem extraordinárias. São relações normais, em que se vai percebendo cada vez mais o lugar da Igreja na sociedade e como parte da vida angolana. Não tem faltado o diálogo aos mais diferentes níveis e sobre as mais variadas questões. Há uma bela colaboração no domínio da educação, da saúde e da reinserção social.

– Que papel assume a Igreja angolana no combate às desigualdades sociais num País em que o fosso entre ricos e pobres está a crescer?

– Antes de mais, recordando a todos os angolanos o dever da solidariedade e aos governantes a grave responsabilidade moral e legal da boa governação e da defesa do bem comum, tutelando os direitos dos menos favorecidos, os órfãos e as viúvas, que não são poucos nesta terra. Este é sem dúvida um dos grandes desafios: o combate à pobreza, a recta distribuição da renda nacional, o tomar consciência de que o bem público não é pessoal, nem familiar. Entretanto, não ficamos em meros sermões. São muitas as iniciativas concretas da Cáritas, da Comissão Justiça e Paz e dos movimentos laicais destinados a apoiar as populações menos favorecidas. Se as desigualdades são grandes, é injusto, pois todos têm o direito a viver dignamente e, em segundo lugar, ao manter-se a situação alimenta-se um viveiro de futuros problemas.

– Que mudanças espera que traga a visita de Bento XVI a Angola?

– Os olhares de todo o Mundo durante estes dias (20 a 23 de Março) estarão voltados para Angola, e Angola, espero, estará voltada para o Papa, para a sua mensagem. Espero que seja escutado com respeito, mas sobretudo que a sua mensagem que tocará os vários domínios da vida humana seja acolhida, nós dizemos em teologia: recepcionada, isto é, posta em prática, que possa ser uma fonte de inspiração para novos caminhos eclesiais e para renovados empenhos sociais.

PERFIL
Dom Filomeno do nascimento Vieira Dias tem 49 anos e é natural de Luanda. Foi ordenado sacerdote em 30 de Outubro de 1983. Em Roma, licenciou-se em Filosofia na Universidade Gregoriana e doutorou-se em Teologia na Universidade Lateranense. Estudou também Jornalismo em Paris. Foi ordenado bispo em Luanda a 11 de Janeiro de 2004, foi reitor do seminário maior de Luanda e vice-reitor da Universidade Católica de Angola. Foi nomeado bispo de Cabinda em 2005.

Fonte: Correio da Manhã