Brasil - Desgastes políticos de uma entidade ( e até pessoa) ou até instituições provocam manifestos, reivindicações e se for preciso mobilizações das organizações sociais ( sindicatos, partidos e outros grupos ).E quando esses desgastes caracterizam o retrato de certas ações do passado que consistiam na tomada de decisões unilaterais e que definiu a trajetória histórica do país nos últimos trinta anos, calar-se é fazer parte ou ao menos contribuir à que o país continue sendo conduzido de maneira desastrosa. Condução que num passado levou a guerra e ao ódio. Também constituem provas de que mudanças precisam ser feitas e realizadas. Mudanças estruturais que a própria sociedade, o Estado Angolano e o MPLA devem ser capazes e estarem preparados para fazerem. Em outras palavras, precisamos ter coragem e firmeza para enfrentar essas mudanças.

As mudanças aqui proclamadas nesse texto estão livres do projeto de ambição e intriguistas que desnorteiam os políticos da oposição Angolana. Nós esperamos também que a mesma esteja livre de toda crítica pejorativa que venha desqualificar propostas e ideias em nome de uma revolução que não existe mais, ou se existe tomou um rumo diferente ou, simplesmente, deixou de cumprir o seu papel. Ou ainda, submeteu-se as forças de classes estranhas, que se tornaram surdas e mudas diante daqueles que mais defenderam e precisavam da própria revolução. Parece que as vozes da Précole mostram em que nível chegamos.

A Précole é um bairro encravado entre os bairros do Rangel, Sambizanga e o Cazenga - ou o bairro da Cuca. Recordo, ainda na era colonial, foi um bairro de classe media onde só moravam os colonos portugueses e alguns nativos sortudos. Em 1974, antes mesmos dos ditos movimentos de libertação nacional desembarcarem em Luanda, diga-se, MPLA, FNLA e UNITA, esses bairros eram as fontes de inspiração de muitos jovens e cidadãos Angolanos para se levarem em diante uma Revolução de verdade ou, minimamente- se assim uns quiserem-, para se expulsarem os colonialistas portugueses. Também foi – e até é, hoje- fonte de inspiração de militância de muitos jovens. Ou seja, eram nesses bairros de Luanda, onde muitos, incondicionalmente, saíram, para militarem nas fileiras do MPLA. Diga-se mesmo, muitos dos que hoje estão aí no poder, na condição de surdos e mudos ( e até cegos) vieram desses bairros. Estes bairros têm a sorte e o destino de ser mesmo a inspiração do que hoje é em parte a literatura Angolana. O que seria da obra de Agostinho Neto, da poesia de Agostinho Neto sem esses bairros; as obras de Luandino Viera, Pepetela e tantos outros por aí. São esses os famosos bairros de pretos, bairros de noites escuras, de longas noites colonial que Agostinho Neto e outros costumavam cantar em suas obras.

A propósito da Précole, Terra Nova e algumas outras localizações onde se instalavam a classe media colonial, esses locais eram tidos como o símbolo da presença colonial nos musseques. Recordo mesmo que a batida ou a presença da policia colonial nos musseques era constante e ostensiva, talvez com o objetivo de dar segurança a turma dos colonos que viviam intricados nos musseques. Assim, pouco antes e depois do 25 de Abril de 1974, se a memória não me trair, foram precisamente os primeiros lugares onde os colonos foram expulsos. Foram nesses lugares onde civis mal armados, mas com toda a coragem necessária aprenderam a enfrentar as forças armadas portuguesas, posteriormente também chamadas por forças tugas. Muitas das armas, na época as famosas G-3 com cano cortado para se fazer mais barulho e despertar atenção e dar susto dos militares do exército português, ninguém até hoje descobriu de onde as mesmas vinham. Os informantes, os boatos e “a vazão de informação, as vezes feita deliberadamente, dos serviços secretos” desses militantes e guerrilheiros urbanos que aprenderam a enfrentar as forças tugas sem mesmo receberem treinos militares de nenhum lugar, diziam que as armas viam do Congo. De certa forma o boato e o mito, sendo verdade ou não, alimentava mais o susto dos colonos portugueses, da polícia portuguesa e até das forças tugas.

Nesse conflito urbano com o tempo surgiu um evento que intrigou os cidadãos, em particular os do Bairro Rangel, lá bem próximo da Comissão do Rangel. Entre a línea férrea ( o caminho de ferro) que separava esse mesmo bairro e o do Cazenga, mas antes mesmo de atravessar a línea onde passa o comboio;uma vala, longa e extensa, que devia ter um quilometro de comprimento, foi feita pelas forças armadas portuguesas, com tratores do próprio exercito português. Ficou intrigado na mente da população o porquê desta vala aberta em tempos de conflitos. A resposta inequívoca e longe de ser mentira, acredita-se que as forças tugas estavam prevenindo-se de um suposto massacre que eles mesmo deveriam executar como vingança ou ainda para provocar temor e terror as populações dessas regiões. Sabe-se que o massacre ou a vingança nunca se chegou a realizar. A mesma vala foi fechada um ano mais tarde quando já Angola tinha se tornado independente. Até hoje na verdade ninguém conseguiu uma explicação formal e verídica do o porquê que a mesma vala foi aberta. Mas parece que a população pela força dos fatos e dos eventos andou descobrindo que o objetivo da mesma vala só podia ser um futuro túmulo comum de pessoas que podiam ser vítimas de um massacre. Essa, por exemplo, é uma das provas que para se libertar esse país e expulsar os colonos portugueses, todos nós sem exceção, sofremos e corremos os riscos que todos os heróis desses país andaram correndo. E não só os chamados combatentes ou heróis dos 14 anos de luta. Essas são possivelmente algumas das histórias que à muitos por aí lhes fica difícil enxergar. Porque também alegariam que hoje as forças dos fatos são outras: a democracia burguesa apoderou-se até de suas mentes.

Mas se é assim, numa democracia burguesa pelo menos existe alternativa de poder. Com relação a essa alternativa que assusta à muitos que estão no poder , não se trata de uma alternativa para se trocar o que é amargo por aquilo que é podre, a que vem dos círculos opositores que geralmente tem o espectro do revanchismo e das vinganças muitas vezes proclamadas em seus discursos. Mesmo quando não são ditas de maneira clara e explícita. Trata-se de buscar uma alternativa dentro do próprio MPLA, uma alternativa que ajude a dar esperança a milhões de seres humanos. Já que vivemos numa sociedade onde o parentesco, a amizade e o clientelismo ( o puxa-saquismo, ou a bajulação) já é a assumidamente pela sociedade, as instituições e até pelo próprio Estado como o fator necessário para não se sentir marginalizado socialmente, diga-se, longe do poder, dos benefícios sociais e das riquezas que esse país produz. Então precisamos buscar mecanismos ou pôr em funcionamento procedimentos que evitassem os desgastes social e que possivelmente provocariam instabilidade política.

Somos de opinião que a indefinição temporal e a persistência da mais alta estância no poder e na direção do país que vai além do último escrutínio eleitoral realizado pode provocar um desgaste social. É um mito e um erro acreditar que a permanecia do mesmo tem dado segurança e estabilidade política ao país. Um erro, um mito e perigoso! Aparentemente, sim, parece que existe certa estabilidade. Mas a pergunta é, até quando durará essa sensação de estabilidade política e social nas circunstâncias em que o país está sendo governado. Será que existe mesmo estabilidade política e social? Ou será que os camaradas preferem fingir que tudo vai bem? Não se trata aqui de pensar num retorno de um passado violento. Parece que as coisas caminham de tal forma que está possibilidade só se encaixa na mentalidade de pessoas delirantes, perversas e muito mal intencionadas. Mas atrasos social e econômicos também podem ser provocados por instabilidade política e mau funcionamento das instituições como consequência dessas possíveis instabilidades. Não basta dizer ou pensarmos que com a paz é mais do que suficiente para se tirar um país do atraso. É preciso mais do que um longo período de paz e das boas e simples intenções que aí existem.

Para aqueles que argumentam ao contrário, a favor do Camarada Presidente, já que acreditam que assim estão mantendo o statu e os privilégios socioeconômicos conquistado durante esses anos. Precisamos recordar, em primeiro lugar, que não estamos na China onde existe uma economia de mercado exitosa e um Partido Comunista, fieis aos seus princípios, em frente do Estado. Em Angola não temos isso. Além disso, temos um Estado corrupto com quase uma centenas de partidos da oposição, onde os seus líderes vivem procurando brechas para se enquadrar no mesmo esquema de corrupção. Ou seja, politicamente vivemos num regime pluripartidista e economicamente numa economia de mercado, onde roubar, favorecer parentes e penalizar adversários políticos pelas suas ideias e propostas deixou de ser crime. A situação é tão irritante e escandalosa que num país visivelmente problemático da para notar o papel péssimo do jornalismo privado de alguns meios que vão surgindo. Descobriu-se que muitos deles já não tem nem a função de defender o Estado ou até as péssimas instituições que fazem parte do país e da nação. Mas notamos que têm a função de elogiar quando se sabe que não existe nada a ser elogiado. Num tom triste e não muito otimista para certas pessoas o presente, pelo menos para nação, é preocupante mesmo vivendo em clima de paz. A paz é como se fosse aquele tape necessário que sala da nossa casa às vezes precisa, mas não se mantém a sala limpa só com o tapete, é preciso algo mais do que um tapete.

É possível notar que a incompetência e o desleixo e até a insensibilidade na mais alta instância do poder está comprovado. Eu concordo que até é injusto julgar o homem pelos seus atos do presente, já que afinal se lhe atribuiu ao longos dos anos tanto poder e confiança, ao ponto de que o mesmo, possivelmente , até sem querer por força do hábito e das circunstâncias tenha se transformado num sujeito mimado em que ninguém possa criticar o mesmo. A pergunta é, a nação deve continuar a lidar com isso? E por quanto tempo? Não chegou mesmo à hora de revermos nossos conceitos sobre liderança, vitaliciedade e alternativa de poder?

Uma discussão sobre isso no seio do MPLA é necessária sem revanchismo e sem nenhum tipo de revisionismo. Uma discussão em que quem está hoje ainda no poder continue, sim, sendo visto como o herói que a pátria sempre precisou, mas que agora o caminho a ser traçado pela nação é diferente daquele passado que elevou a apoteose ou ao Olimpio muitos dos heróis que a história encarregou-se de criar ao longo desse tempo. Sem vaidades, rancores, ódios e sem aquelas batalhas onde quase todo mundo sai ferido e no final ninguém ganha, a alternância pelo poder é necessário. E que essa alternância não pode ser vista como algo a beneficiar entidades privilegiadas e individuas do sistema político Angolano. Por isso mesmo, e ainda, não concordamos com aquele viés em que alguns militantes por aí num ar de conformismo e talvez de impotência habituaram-se a dizer nos últimos tempos: de que o Camarada Presidente só vai governar mais uma vez, durante quatro anos ou cinco, e já!

A pergunta que sobra aqui é: Governar mais uma vez em nome de quem? Para satisfazer a quem, ou arrumar a casa para quem? Existem certezas e convicções de que a nação terá algum benefício com isso? Ou isso só será para ajudar o Camarada Presidente e os comparsas? Nós acreditamos que a conquista da Paz pela nação o Camarada Presidente teve papel fundamental, mas nenhuma paz no mundo ( e em particular no contexto angolano) mantém-se só com o desejo de um homem. A paz em Angola existe por um conjunto de fatores e homens que ajudaram a contribuir na conquista da manutenção da mesma. É a esses homens, milhares e até milhões, que também devemos mostrar e dar perspectiva que a paz valeu e continuará a valer por mais de mil anos. E isso se faz apaziguando espíritos, descentralizando poderes, distribuindo riquezas, ou seja, tornando a democracia um verdadeiro instrumento de possibilidades e sonhos a serem realizados. E diminuindo assim o desgaste social que a mutabilidade, a arrogância de tantos anos de poder, a insensibilidade e até a corrupção que se tornou incontornável têm provocado na vida de cada um dos cidadãos.
Além disso, uma alternativa bem concebida e vinda do seio o MPLA seria mesmo um jogo político perfeito para neutralizar a nossa oposição, seria o golpe de misericórdia para que a mesma continue a esperar bem sentadinha por longos anos. Sem, claro, e nunca, deixar de escutar a mesma pelos quatro cantos do país. As vozes da Précole constituem o reflexo daquilo que se tem dito: numa democracia não devemos dar as costas à ninguém. Principalmente quando o desconforto e as reclamações estão enquadradas naquilo que norteiam e sustentam os objetivos de qualquer estado: as leis e a própria constituição. Ou seja, no incumprimento dessas leis. Não devemos dar costas até aqueles que em nome de preservar princípios e manter coerência foram ou são vistos como os submissos de um regime em que manter o apoio ao Estado, ao Governo e as instituições é –ou era- o trunfo de se manter com êxito uma revolução. Uma revolução onde os seus maiores líderes, por vários dos motivos que não indicaremos aqui, deixaram de cumprir o seu verdadeiro papel ou missão. Uma revolução onde depois de trinta anos o passado é visto por muitos com a pergunta de que se valeu a pena por tudo aquilo que passamos. É claro que nada justifica esse arrependimento. Mas para isso as vozes da Précole e outras por aí que existem e ainda podem surgir devem ser o sinal de que a trajetória tomada de navegar sem fazer o uso dos sentidos da audição e da visão enfraquecem o regime democrático.

Gostaria também de comentar um dos artigos do Deputado João de Melos onde o mesmo comenta o discurso de fim de ano do Presidente,sobre as mentalidades imediatistas. Lamento em dizer que as palavras do Presidente não constituem novidades nenhuma para ninguém.E nem pode ser visto como chamada de atenção ou conselho para aqueles que estão na periferia ou simplesmente longe do poder. E parafraseando o nosso Povo, “esse é o câncer que estamos com ele”. A novidade mesmo, e o que pode parecer um ato de pessoas esquecida, é ver o presidente a falar de um assunto tão conhecido até entre as nossas crianças do ensino de base ou fundamental, querendo recalcar aquilo que também elas condenam. Além disso, o mesmo artigo num ato de pouca coragem e de maneira tangencial da um enfoque generalizado de como são os nossos atuais dirigentes; livrando sempre ou preservando e enaltecendo constantemente e de maneira repetitiva a boa imagem e duvidosas qualidades do camarada presidente; ele sempre absolvido perante o abandalhamento e a anarquia em que se encontra o Estado e Administração Pública; até com os atos que dependem da ação direta do mesmo e que muitas vezes são jogados de baixo do tapete e encobertos.Exemplo: é o Ministro ladrão que deveria ser denunciado e processado e não foi. E a propósito desse ladrão ministro, provocar o Ministério Público ou o Procurador Geral da República não é só função do Presidente da República; também é função de quem é ou já foi deputado da Assembléia Legislativa. Aí notamos que o autor do artigo foi cínico, um cinismo que caracteriza a mentalidade imediatista e velha daqueles que mais próximo estão do poder. A prova do cinismo é quando chama a todos de burros e comunistas. Ficamos sem saber, com a quantidade de adjetivos enumerados, verdadeiramente a quem queria criticar. Com certeza já soubemos que os mesmos adjetivos não recaem sobre o camarada presidente; ele o intocável, o incriticável e que talvez nunca foi comunista e muito menos burro. Burro com certeza já soubemos que não é. E comunista idem, nunca foi mesmo. E o comunismo ( ou socialismo) entre os angolanos só foi uma tentativa fracassada. Pena que todas estas intenções foram descobertas muito tarde e a troca de tanto sangue, com o sacrifício de dois milhões de mortos e o engano igualmente de outros milhões. E só para terminar esse parágrafo, como bom jornalista e que até foi premiado e político gostaríamos de saber a opinião do Senhor sobre o ex-ministro José Pedro de Morais.

O mais engraçado e ridículo é quando trata a geração sucessora, aqueles que estão entre os 35 e 45 anos de idade, igualmente como corruptos e os culpados até da desgraça do país.

Senhor João de Melo fique sabendo que a nossa geração na história de Angola é a mais vitoriosa de todas as gerações e não só no contexto angolano, talvez de todo continente africano. Nós combatemos e morremos nos campos de batalhas, combatendo os racistas sul-africanos, e a propósito, ao lado de um exército comunista, aqueles que a bem pouco tempo, no seu artigo, o Senhor pejorou e desrespeitou. Nós mantemos até hoje a independência de Angola, a integridade e a união da nação; nessa fase de reconstrução nacional além de sermos humilhados, abandonados e sermos trocados pelos antigos colonizadores temos enfrentado o pão que o diabo amassou; muitos de nós vivemos exilados e desterrados e sem o mínimo de reconhecimento das autoridades Angolanas ou dos seus representantes no estrangeiros. E o senhor ainda acha isso pouco!? Humilha todo mundo e venera o príncipe. É tanto o favor que ele deve ao Senhor? Se é assim, isso é um problema pessoal entre devedor e credor, não se pode fazer uso do patrimônio público espiritual ou até econômico para se pagar uma dívida que tem caráter individual. Isso, sim, é ter uma mentalidade imediatista e corrupta!

Com relação a sermos corruptos não é qualquer jovem na faixa dos 35 anos aos 45 que pode dar-se o luxo de comprar bancos em Portugal. Não é tampouco qualquer pé rapado que tem interesses e direitos na TPA 2, a famosa TPA do papai.

*Nelo de Carvalho
WWW.blog.comunidades.net/nelo
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Fonte: Club-k.net