Luanda - A notícia caiu, como uma válvula de escape! Na sexta feira dia 28 de Novembro, pelas 12 horas, estava eu a fazer, como habitualmente, uma leitura higiénica na Biblioteca Municipal de Luanda, quando um amigo me interpelou dizendo: “Epa, o Michel Laban morreu? A minha primeira reacção foi ficar, alguns segundos, inactivo e, logo a seguir, pedi-lhe o Jornal de Angola, daquele dia e deparei-me com a noticia que tinha como lide “ Morreu catedrático Michel Laban, estudioso da literatura lusófona”. Tanto eu, como o meu amigo, Beléco dos Santos, tínhamos uma relação de simpatia e respeito pelo malogrado e a sua morte não nos podia deixar indeferentes.
Na verdade, eu já sabia do estado de saúde dele, uma informação que me foi dada pelo Bonavena, que de resto teve uma relação de proximidade com Laban, e com a Christine Messiant, que por vias de circunstância também já não faz parte deste mundo. Tanto Christine Messiant, quanto Michel Laban estiveram pela última vez em Angola, em 2004, por altura do lançamento do livro de Viriato da Cruz, “ Cartas de Pequim”, em companhia da Monique que foi a destinatária das “Cartas de Pequim” do poeta das “venida de alcatrão”..
O meu primeiro contacto com Michel Laban, foi em Dezembro de 1997, por altura do primeiro Encontro Internacional da Literatura Angolana, em que estiveram cá a participar uma plêiade de especialistas de alto quilate da literatura africana, realizado pela UEA, para comemorar o 22º aniversário daquela agremiação cultural.
Voltei a vê-lo em Abril de 2003, na Biblioteca Nacional, na Jornada do Livro Infantil, realizada por aquela instituição, altura em que Michel Laban dissertou sobre o papel do Ambaquista, tema que deu lugar a algumas interpretações diagonais por parte de alguns dos presentes.
Logo depois, pude entrevista-lo para o ouvir sobre suas virtudes de razão em relação a polémica em torno da autoria do slogan: “Vamos Descobrir Angola!”. Na grande entrevista que Michel Laban fez a Mário Pinto de Andrade, entre 1984 e 1987, este “intelectual emprestado à política”, atribuiu a autoria da frase e a iniciativa do movimento a Viriato da Cruz.
O terceiro encontro foi já em 2004, por altura do lançamento do livro” Cartas de Pequim”. Nessa altura, conversamos longamente sobre o percurso político e intelectual de Viriato da Cruz e Laban manifestou a admiração que tinha por ele, apesar de não o ter conhecido pessoalmente, mas o contacto com a sua obra foi-lhe suficiente para chegar aquela conclusão.
Michel Laban é autor do livro “Angola: encontro com os seus escritores”, uma obra-prima que se consubstancia em entrevistas com os principais escritores da nossa praça e dá as mais ricas referências da história da nossa literatura.
Laban sempre que viesse a Luanda, visitava a Igreja da Nossa Senhora do Carmo, muito por influência do Luandino Vieira, de “ Nós os do Makulusso”. De resto foi a obra do autor de “Luuanda” que lhe serviu de pretexto para a sua tese de doutoramento. Outra grande influência, para o impelir a visitar religiosamente a Igreja do Carmo foram as obras de Arnaldo Santos, o também conhecido escritor do Kinaxixi, para além da referência que foi feita da Igreja do Carmo pelo próprio Mário Pinto de Andrade na longa entrevista supramencionada. A Biblioteca Municipal de Luanda e a Igreja do Carmo eram assim as suas mais belas recordações de Luanda.
Aquele académico esteve, nos últimos dias da sua vida a trabalhar num dicionário dos desvios da linguagem utilizadas na literatura angolana que segundo ele havia de lhe consumir algum labor mais. Michel Laban foi, seguramente, o mais intrépido arauto da literatura de expressão portuguesa nas terras da Torre Eiffel! Pelo muito que fez pela nossa literatura e pela amizade que lhe tínhamos, desejo paz à sua alma.
Vida eterna ao amigo Michel Laban!
Fonte: AGORA