Luanda - A unidade de estudos da revista Economist considera que a emissão de dívida pública de Angola pode ajudar a diversificar a economia, mas aumenta o endividamento e pode trazer problemas se o preço do petróleo não subir.

Fonte: Lusa
"O financiamento nos mercados de capitais vai potencialmente ajudar a abrir a economia, que antes era muito fechada, e aumentar a transparência em termos de gestão das finanças públicas, mas os títulos de dívida aumentam o endividamento do país, numa altura em que Angola já acrescentou cerca de 10 mil milhões de dólares à dívida externa este ano (60% vindo da China), e pode trazer problemas se a médio prazo o preço do petróleo se mantiver baixo e se o Governo falhar o objetivo de diversificação da economia", diz a Economist Intelligence Unit (EIU).

De acordo com uma nota enviada aos investidores pela unidade de estudos económicos da revista britânica The Economist, a que a Lusa teve acesso, a taxa de juro de 9,5 por cento ao ano exigida pelos investidores para comprarem dívida pública angolana em dólares a 10 anos "é mais alta que os títulos da Nigéria e da África do Sul, e é quase o dobro da taxa de juro média de 5,1% dos títulos de dívida pública dos mercados emergentes".

A 5 de novembro, depois de um conjunto de reuniões nos Estados Unidos e na Europa, Angola conseguiu financiar-se em 1,5 mil milhões de dólares nos mercados internacionais a 9,5% ao ano, o que equivale a dizer que na próxima década, só em juros, Angola terá de pagar quase 150 milhões de dólares por ano, ou seja, no final do prazo terão saído dos cofres angolanos o dobro das verbas que entraram agora.

"A taxa de juro reflete o facto de que apesar de Angola ter um potencial económico substancial por causa das suas grandes reservas de petróleo, a queda no preço do petróleo nos mercados internacionais teve um impacto significativo na economia", explicam os analistas da EIU, concretizando que "os preços mais baixos implicam uma descida nas receitas do país, que depende do petróleo para metade do PIB, e que já teve de cortar, consequentemente, na despesa pública".

Sobre o destino dos 1,5 mil milhões de dólares angariados nos mercados internacionais a 5 deste mês, a EIU cita o ministro das Finanças, Armando Manuel, dizendo que deverão apoiar o desenvolvimento económico a longo prazo, mas argumenta que "a probabilidade é que os fundos sejam usados para garantir a liquidez do Governo e permitir a continuação dos programas de despesa, como a construção de estradas e centrais de energia, que são muito necessárias".