Lisboa - O Bloco de Esquerda anunciou que não vai estar presente na cerimónia de hoje (10) no Parlamento com o Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos, “face às divergências com o Governo angolano”.

Questionado pela Lusa, o gabinete de imprensa dos bloquistas afirmou que o partido não se vai fazer representar no encontro de Eduardo dos Santos com o Presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, e os partidos com assento parlamentar, por estar em desacordo com o Governo angolano “no que diz respeito aos direitos humanos, à liberdade de imprensa e à própria concepção de democracia”.

José Eduardo dos Santos chegou hoje a Portugal para uma visita de Estado, amanhã e depois, a convite do Presidente da República, Cavaco Silva, e terá encontros como primeiro-ministro, José Sócrates, com a CPLP e, às 16h00 de amanhã, com o presidente da Assembleia da República, uma reunião para a qual foram convidados representantes de todos os partidos com assento parlamentar.

Questionado pela Lusa sobre a visita do presidente angolano, o BE já tinha manifestado fortes críticas, com o deputado Fernando Rosas a considerar que José Eduardo dos Santos “não é bem-vindo a Portugal”, acusando-o de comandar “um regime oligárquico, assente na corrupção e com chocantes desigualdades sociais”.

Apesar das recentes eleições presidenciais, o historiador bloquista considerou que, “infelizmente, a democracia em Angola está por realizar”.

“O Estado Português deve ter relações com Angola, mas não pode desconhecer o que se passa neste país, nem muito menos aproveitar-se dele, assumindo uma visão exclusivamente pragmática com ausência de valores”, declarou ainda Fernando Rosas.


PS e PSD fazem rasgados elogios a José Eduardo dos Santos


Os dois maiores partidos portugueses, PS e PSD, fazem rasgados elogios ao perfil político do presidente angolano, José Eduardo dos Santos, que terça-feira inicia uma visita de Estado de dois dias a Portugal.
A visão que os responsáveis políticos portugueses têm do chefe de Estado de Angola não varia em função das tradicionais fronteiras entre direita e esquerda, e muitas vezes dentro de um mesmo partido há ideias contraditórias sobre José Eduardo dos Santos.

As direcções do PS e do PSD apoiam abertamente a linha de actuação política de José Eduardo dos Santos, embora ambos tenham correntes minoritárias críticas (caso de João Soares entre os socialistas).

O PCP também tem elogiado a actuação do líder do MPLA, enquanto o CDS-PP se demarca desse apoio, mas salienta a importância do actual quadro de relações económicas entre Portugal e Angola.

Só o Bloco de Esquerda se mostra abertamente contra o poder político angolano, bem como contra o grupo de «negociantes» em Portugal que tem relações com esse mesmo poder de Luanda.

O secretário nacional do PS para as Relações Internacionais, José Lello, considera que José Eduardo dos Santos é actualmente «o motor de um processo de crescente credibilidade que Angola está a ganhar no panorama internacional».

«José Eduardo dos Santos é também o motor do processo de desenvolvimento de Angola», país que se está a reconstruir «a um ritmo verdadeiramente extraordinário», aponta o secretário nacional do PS para as Relações Internacionais.

José Lello frisa ainda que «é preciso ter bem presente que Angola tem neste momento seis milhões de alunos em todos os níveis de ensino» e destaca, por outro lado, a importância de o presidente angolano estar a chamar «para lugares de responsabilidade jovens quadros com elevado potencial para criar um novo sistema de gestão no país».

Idêntica ideia sobre o Presidente de Angola tem o ex-ministro e actual responsável pelas relações externas do PSD, José Luís Arnaut, que define José Eduardo dos Santos como «um chefe de Estado eleito democraticamente, que soube compreender bem a realidade política angolana e africana».

«José Eduardo dos Santos é um líder com um projecto e com uma nova ambição para Angola. Penso que tem conseguido colocar Angola entre os principais players africanos. É uma pessoa que respeito muito como político, que tem um projecto e uma ambição», afirma José Luís Arnaut.

José Luís Arnaut salienta igualmente a «excelente relação de confiança» entre os chefes de Estado de Portugal, Cavaco Silva, e de Angola.

«A visita de Estado que José Eduardo dos Santos fará a Portugal a partir de terça-feira será seguramente muito importante dos pontos de vista político e diplomático. Todos sabemos a crescente importância que Angola tem no contexto africano e na própria Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP)», observa o ex-ministro dos governos de Durão Barroso e de Pedro Santana Lopes.

Rui Gomes da Silva, ex-ministro do Governo de Pedro Santana Lopes, que há 20 anos juntamente com João Soares e Nogueira de Brito sobreviveu a um acidente de avião depois de visitar a Jamba, então o quartel general da UNITA, não faz elogios ao chefe de Estado angolano, mas reconhece que a liderança política neste país passa por ele.

«Apesar de nunca ter estado em Luanda, considero que a realidade actual de Angola é muito diferente daquela que encontrei há 20 anos, quando havia dois líderes e uma guerra civil. Em termos políticos, Angola, com José Eduardo dos Santos a presidente, ganhou com a aproximação progressiva que fez aos Estados Unidos. Embora ande devagar, penso que o regime angolano tem caminhado para uma democracia», sustenta Rui Gomes da Silva.

Mais do que as apreciações que se façam sobre José Eduardo dos Santos, Rui Gomes da Silva acredita que o ponto importante é o das relações «Estado a Estado», porque Angola «é hoje o destino de muitos milhares de portugueses, que vão procurar neste país emprego e riqueza».

Tal como Rui Gomes da Silva, também o ex-líder parlamentar do CDS-PP Telmo Correia coloca ênfase nas relações económicas entre Portugal e Angola, argumentando que «é preciso distinguir os relacionamentos pessoais das relações entre dois Estados».

Para Telmo Correia, «as circunstâncias dramáticas que levaram à paz em Angola [a morte do antigo líder da UNITA Jonas Savimbi] justificavam já uma maior consolidação da democracia neste país».

«Angola tem ainda algumas limitações ao nível da sua democracia. Ter um Parlamento que se vai perpetuando não faz muito sentido», aponta o democrata-cristão, para quem Portugal pode ter neste campo político «um papel decisivo, actuando em nome do interesse mútuo e não com certos complexos coloniais».

Telmo Correia considera no entanto que as relações económicas entre Portugal e Angola «vão ser cada vez mais importantes», dando como exemplo a quantidade de investimentos nacionais no mercado angolano.

«A sociedade civil portuguesa foi rapidamente e em força para Angola e é o próprio Estado Português quem está atrasado», refere o deputado centrista.

Já o deputado do Bloco de Esquerda Fernando Rosas diz que José Eduardo dos Santos «não é bem-vindo a Portugal», acusando-o de comandar «um regime oligárquico, assente na corrupção e com chocantes desigualdades sociais».

Apesar das recentes eleições presidenciais, o historiador bloquista considera que, «infelizmente, a democracia em Angola está por realizar».

«O Estado Português deve ter relações com Angola, mas não pode desconhecer o que se passa neste país, nem muito menos aproveitar-se dele, assumindo uma exclusivamente pragmática com ausência de valores», declarou ainda Fernando Rosas.

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