Luanda - No sábado, dia 28 de Novembro, muitos jovens, com inscrições nas camisolas brancas “justiça sem pressão”, voltaram a fazer das “suas” nas ruas da nossa cidade capital, chegando mesmo a provocar o caos na circulação rodoviária.

Fonte: Club-k.net

Os rapazes, que conduziam motorizadas percorreram várias ruas de Luanda, deixando muitas pessoas boquiabertas devido a forma ruidosa e autoritária como eles estavam a empurrar os carros para a berma da estrada. Como se estivessem em plena campanha eleitoral, eles cometeram muitos abusos ante o olhar silencioso, para não dizer cúmplice dos agentes policiais que se encontravam nas ruas por onde passou o longo cortejo das motos das várias marcas.

 

Estranhamente, a polícia não interveio, não esboçou o mínimo gesto que fosse para contrapor às investidas dos jovens arruaceiros, ao contrário do que tem acontecido com as manifestações de protesto ou vigílias pacíficas como as que recentemente tiveram lugar em Luanda. Os agentes policiais nem sequer se deram ao trabalho de perguntar aos jovens manifestantes, ou melhor dito musculados, se tinham comunicado às autoridades de direito as suas intenções de realizar a referida manifestação, conforme estipula a Lei do Direito à Manifestação e Reunião.

 

Apesar do carácter ilegal da manifestação, a polícia desta vez não saiu à rua para “repor a legalidade”, usando, como já se tornou hábito em manifestações do “contra”, as suas forças especiais, canhões de água, cães, cavalos e demais meios que tem à mão de semear. Curiosa é também a forma como este grupo de jovens ­ que engloba no seio uns tantos Kaenches, desempregados, etc ­ surgiu entre nós. Eles apareceram pela primeira vez no julgamento dos Revu ́s. Este grupo, que pelo soubemos goza da simpatia do MPLA estava mesmo pronto a confrontar­se nesse dia com pessoas ou grupos que estivessem a favor dos jovens que estão a ser julgados no tribunal do bairro Benfica. Se o objectivo da criação deste grupo foi o de promover as contra-­manifestações, estamos diante de uma grave ilegalidade, já a lei não prevê a realização contra a realização de contra­ manifestações, mas, sim, de manifestações, podendo elas ser de protesto ou de apoio. Quer dizer que esse grupo de jovens tem o direito de se manifestar, mas deve também respeitar o direito dos outros.


A lei defende que as manifestações devem ser suficientemente separadas uma da outra, para se evitar os caos, a desordem e as lutas entre os manifestantes. Por isso é que a lei exige que as manifestações devem ser antes comunicadas para a indicação do lugar da sua realização, do horário, assim como o trajecto a seguir pelos manifestantes. Diz também a lei que a polícia tem por obrigação proteger os manifestantes de interferências externas, evitando que eles sejam molestados ou agredidos. Apesar de a lei ser clara nesse sentido, o que temos vindo a observar é que as autoridades polícias têm protegido uns e reprimindo outros, quando a mesma polícia não age em conivência com os conhecidos Kaenches. Com este comportamento, a polícia tem usado o critério dos “dois e duas medidas”, o que não é bom para a nossa jovem democracia e o Estado de direito que pretendemos construir. Como as coisas estão, não admira que um dia desses esses jovens venham a desenvolver acções mais violentas contra as pessoas que se queiram manifestar contra as políticas do governo ou, por exemplo, reivindicar os seus salários em atraso.