Luanda - Raúl Danda É o novo vice-presidente da UNITA que continua a ser liderada por Isaías Samakuva. Nesta conversa com OPAÍS, insiste na tese da fraude para o MPLA se manter no poder e garante que Numa e Gato, candidatos vencidos no último congresso, continuarão na direcção do partido.

Fonte: O País
Nomeado na passada Quarta-feira, 09, na sequência do XII Congresso do partido, Raúl Danda faz parte de um triângulo na direcção que integra o secretário-geral Franco Marcolino Nhany (também novo) que, por sua vez, tem como adjunto Rafael Massanga Savimbi.

Neste exclusivo, Danda começa por falar sobre o futuro do partido.

Com a nova direcçao, de que o senhor faz parte, que tipo de UNITA se pode esperar daqui em diante?
Certamente uma UNITA mais interventiva e mais forte. A UNITA, com grande exercício de democracia, mostrou mais uma vez que é a percursora da democracia neste país, e um dos seus lemas é a democracia multipartidária defendida desde a sua fundação, isto porque conseguiu, aos poucos, impor essa ideia aos que achavam que o partido único era suficiente para governar o país. Felizmente, agora toda a gente fala de democracia. Nós temos agora um grande desafio pela frente.

Em 2017 realizar-se-ão eleições gerais. Será que a UNITA, desta vez, conseguirá mais assentos na bancada parlamentar ou mesmo conquistar a victória?
Nós estamos a lutar para vencer em 2017, não lutamos para sair de 32 deputados para 33, se assim fosse não valeria a pena lutar. O resultado eleitoral, tanto o de 1992 e 2008, como o de 2012, não são resultados que reflectem o voto popular, são resultados administrativos. Isto porque, se formos rigorosos em termos daquilo que é a verdade eleitoral, quem estaria no poder hoje não seria o MPLA, seria a UNITA. Portanto, não fora os chineses e outros estrangeiros que andam por aí a fabricar as coisas, não fosse também o desvio propositado de eleitores que forçou uma abstenção de pessoas que tinham que votar em Luanda e de repente viram-se obrigadas a votar em Malange, e, como a pessoa não pode viajar para Malange de uma hora para outra fica sem votar… Se não fosse essa abstenção forçada e friamente calculada, os resultados seriam diferentes. A UNITA e os angolanos estão preparados para mais uma fraude eleitoral.

Alguns populares e analistas defendem que, para maior fortalecimento e democracia do partido, o presidente Isaías Samakuva não deveria ter-se candidatado à presidência do partido no XII Congresso Ordinário que encerrou recentemente. Quer comentar?
Eu julgo que há ausência total da democracia quando a gente não reconhece dos militantes a sua capacidade de escolha. Nós não podemos recusar aos militantes da UNITA a sua capacidade de escolha. Quem escolhe o dirigente da UNITA são os seus próprios militantes e quem escolhe o Presidente da República são todos os cidadãos angolanos. Se olharmos para a história dos partidos políticos, não se pode fazer uma comparação entre um partido político e um Estado, porque o partido político não é poder, é simplesmente um instrumento para se chegar ao poder. Quando se chega ao poder tem que haver limitação. Aqui permite-se que o Presidente da República controle os recursos humanos, os recursos financeiros. Controla todo o património do país e as Forças Armada. Tem de haver limitação para evitar que isso extravase e possa chegar a ditadura como o que acontece em outros países onde pensam que o fulano é o único que pode fazer isso e aquilo. É nos estados onde se faz a limitação dos mandatos, de acordo com a Constituição e com a lei.

Não há na Constituição, nem na Lei dos Partidos Políticos, uma lei a referir que os políticos devem ter limitação de mandatos. Mudar a equipa nessa atura do ‘campeonato’ significa fragilizar o partido. Os militantes da UNITA foram suficientemente visionários para não permitirem isso. Nós na UNITA não somos como os outros partidos onde há apenas um único concorrente e onde as pessoas são obrigadas a escolher: ou eu, ou eu.

Que reacção tiveram os outros concorrentes?
Tivemos dois concorrentes no partido, o general Numa e o general Gato, que lutaram bem e nenhum deles perdeu a eleição no partido, o que aconteceu é que não ganharam, pode parecer a mesma coisa, mas não é, porque jogaram, e mesmo não tendo ganho são duas peças fundamentais para o nosso partido que estão disponíveis, tal como disseram, e nós não dizemos por dizer. Dizemos para cumprir. É preciso acreditar piamente na palavra deles, que é trabalhar na UNITA, para a UNITA, para os angolanos e para Angola como um só corpo, porque todos nós temos o mesmo objectivo.

Acerca do projecto de formação da UNITA, o que é que o partido está a fazer para garantir aos jovens uma formação de qualidade?
A UNITA, de facto, está preocupada com isso. Do ponto vista interno tem faltado recursos para pôr o plano em acção. Do ponto de vista político a UNITA está com muita força em reactivar a escola de formação política porque é extremamente importante. Referente a formação geral, a UNITA está também preocupada com a formação dentro e fora do país e para isso contamos com alguns apoios e com as nossas próprias forças também, a fim de darmos continuidade ao processo de formação. É por isso que estamos a trabalhar para que o país tenha uma educação de qualidade.