Lisboa – As próximas eleições legislativas de Angola, marcadas para 2017, são já a grande preocupação política do país. Para as forças da oposição, o grande objectivo é derrubar o MPLA e José Eduardo dos Santos. Ora, a verdade é que a única força política organizada e com capacidade de mobilização do eleitorado para ganhar eleições é, precisamente, o MPLA.

Fonte: AM
Face ao que a comunicação social, quer nacional, quer internacional, transmite, esta afirmação pode parecer desajustada. Dir-se-á: seguramente alguma força política será capaz de congregar a forte oposição que parece existir no país contra o MPLA e seu presidente e arrebatar-lhes, pela via do voto, o poder.

Analisemos as possibilidades de cada uma destas forças políticas para tão ingente tarefa.

Angola conta várias forças políticas que se opõem ao MPLA, mas de entre elas, quatro de destacam. A União para a Independência Total de Angola (UNITA), Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE), que será Partido Político em Abril de 2016, Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e Partido de Renovação Social (PRS).

Comecemos com uma questão prévia: se é verdade que em Portugal, o chamado “arco da governação” de que se falou por quase quarenta anos, se quebrou para dar lugar a uma aliança política impensável, mesmo e sobretudo pelos que detinham o poder, em Angola o arco é outro, é o do dinheiro.

É o dinheiro que define o poder e determina, não apenas o voto das elites mais visíveis, mas o voto de uma grande maioria dos eleitores, desde que detenham alguma possibilidade de lhe ter acesso. E, na verdade, a sociedade angolana está dividida em camadas sucessivas de grandes, médias e pequenas elites. De fora, ficam os excluídos via informação ou situação geográfica. Todavia, estes últimos, de uma forma geral, se não forem “ conduzidos” não votam.

O dinheiro é o fio condutor de toda a política em Angola, a do poder e também da oposição.

A actual crise política e social existente resulta da falta de dinheiro; as mais altas elites começam a ficar nervosas, porque a renda do petróleo não consegue encontrar substituta, se exceptuarmos os acordos escuros levados a cabo entre o MPLA e a China.

E a oposição, que é alimentada pelos dinheiros distribuídos pelo MPLA, também está perturbada, já que uma eventual chegada ao poder não significaria um mergulho no pote, a ficar vazio.

Olhemos, por exemplo, para o discurso do presidente da UNITA, Samakuva, reeleito recentemente, no XII Congresso com 82,8 por cento dos votos.

Continua a ser o discurso de um órfão, sem metas para apontar, sem saídas para os seus concidadãos. Falta-lhe a força de um líder a sério, tal como foi Savimbi e de quem toda a gente se lembra quando olha para um presidente da UNITA, seja ele quem fôr.

Temos, todavia, que considerar que Savimbi nunca foi presidente de um partido político, mas de uma força militar. Daí o poder de vida e de morte que tinha sobre dezenas (quiçás centenas) de milhar de pessoas.

A UNITA nunca conseguiu fazer a transição e ainda hoje quando fala de uma teórica “ponte” que, segundo Isaías Samakuva, Lucamba Gato fez entre o passado da luta militar e a luta política no parlamento, ninguém acredita na ponte – ninguém lá põe um pé.

Para se afirmar como partido político a sério, aceite por todo o povo de Angola, de Cabinda ao Cunene, da fronteira de Leste ao Oceano Atlântico, a UNITA teria que esquecer o seu desejo de chegar ao pote, lá atrás do arco-íris. Teria que pensar na verdadeira natureza destes muitos povos: agricultores, pastores, pescadores, assalariados, pequenos e médios comerciantes e apontar-lhes um caminho para uma economia alternativa.

Teria que se lembrar das infraestrturas que é urgente reparar, das minas que esperam por dar o seu contributo. E esquecer o que Luanda oferece aos seus dirigentes, ontem a contar as côdeas de pão que sobravam para a sobrevivência, no mato, e hoje, donos de potentes carros, de vistosas vivendas e outras mordomias.

Os dirigentes da UNITA – muitos deles – deveriam procurar nas suas raízes a inspiração para reinventar as mil e uma maneiras de pensar o seu país. Para o pensar coeso e unido de todas as partes que o constituem.

Estas considerações valem para todas as outras forças políticas que vão querer disputar o poder ao MPLA.
É que Angola não é apenas um só povo e uma só nação – isso foi slogan de luta. Angola é constituída por vários povos e diversas nações – o que não quer dizer que não possa existir como Estado único e indivisível. É preciso apontar o caminho certo a todos eles e elas, sem excluir nenhum(a).

Por exemplo, o Partido de Renovação Social (PRS), que se classifica a si mesmo como um partido Chokwé, afastou-se desta luta. Quem o dirige tem em mente as mordomias que o dinheiro dá em Luanda aos deputados e aos detentores de cargos públicos, mesmo que não sejam de cúpula.

Igual raciocínio se pode fazer relativamente à FNLA, que tem os seus militantes bem localizados no Norte e que lhe garantem uns quantos deputados e alguns lugares de poder, sobretudo a nível local.

O caminho a indicar aos povos e nações angolanos não pode, todavia, ser apontado por qualquer pessoa. Por exemplo a CASA-CE tem o presidente errado. Abel Chivukuvuku está, definitivamente, marcado pela guerra; foi membro destacado da UNITA, aliado próximo de Savimbi, que, em vida, o acusou de traição.

O segundo homem, porém, o Almirante Agostinho Mendes de Carvalho é tido por toda a gente como um incorruptível, saiu do MPLA, do comando da Marinha de Guerra de Angola, abandonando mesmo a sua condição de militante, uma condição com forte implatação familiar.

Este homem seria o presidente ideal de um partido que, através do seu prestígio, que lhe vem do facto de ter resistido à corrupção e da sua condição de quadro especialmente capaz, conhecedor do Mundo, seguramente com muitos contactos, teria capacidade para imaginar uma Angola forte na sua diversidade humana e económica, unida na solidariedade entre povos e pessoas, uma verdadeira potência regional, independente de influências nefastas que começam a hipotecar o futuro de um país que, em África, é dos poucos que ainda reune condições para uma independência real.

Por tudo isto, é fácil concluir que as próximas eleições ainda não vão operar transformações significativas em Angola. E a culpa não será do MPLA, mas das suas oposições, sem capacidade para perceberem que não podem continuar a fazer do dinheiro do MPLA – que também lhes chega – o único objectivo de luta.