Lisboa - A visita do Presidente de Angola a Portugal pode ter iniciado um novo tempo na relação entre os dois países e os dois povos. Houve em Portugal, desta vez, poucos resmungos e, em Angola, a aberta expressão de uma grande amizade. Talvez se esteja, finalmente, a considerar, como há muito o fez o escritor angolano Ruy Duarte de Carvalho, a "vantagem de deixar de pensar Angola como uma emanação portuguesa".Portugal e Angola serão apenas "emanações de um processo" e, aliviando os "sentimentos de culpa e de frustração", podem os dois países "explorar juntos tanto o presente como o futuro como o passado comuns"...

Claro que há em Portugal, ainda, quem deseje o pior para Angola, e, em Angola, quem deteste ver desembarcar portugueses em Luanda. O Jornal de Angola, pela pena do seu director, José Ribeiro, ex-assessor de imprensa na Embaixada de Angola em Lisboa, também o diz: "Há, ainda, quem tente envenenar estas relações, cá e lá", mas "os tempos são outros e por mais voltas que se dê ao mapa de relacionamento de cada um, chocamos sempre com as afinidades particulares entre Angol e Portugal".

No fundo, é provável, como se refere noutro editorial do Jorna 'de Angola, que se esteja a destacar "o valor da intimidade". Angola e Portugal são "mais amigos do que parceiros" e quando "a intimidade das relações humanas entra nos negócios políticos, diplomáticos e económicos, todos têm a ganhar".

É, portanto, neste novo e muito estimulante cenário que Portugal e Angola podem fazer o seu caminho e entrelaçar interesses, mas "estando juntos" também na exploração do que está para lá do actual e risonho horizonte económico-financeiro. Faltou, porventura, uma pausa nos negócios para falar às bases afectivas dos dois países. A economia foi quase tudo na visita, com resultados "espectaculares", como salientou o próprio José Eduardo dos Santos, traduzidos na criação de "mais um banco", de acordo com o irónico comentário de Manuel Vicente, presidente da Sonangol, e um conjunto de instrumentos de apoio às exportações portuguesas. Do mar de economia emergiu, como ilha, apenas o protocolo firmado para a deslocação de professores portugueses para Angola. Que Portugal os seleccione com rigor e percebam os professores a responsabilidade que os acompanha, no ensino, na formação dos seus colegas angolanos e na valorização da língua portuguesa.

Também se falou da complexa, mas decisiva, questão dos vistos, com a promessa de soluções. O problema é sério, complica interesses angolanos e portugueses mas Angola não pode fixar-se apenas no campo do trabalho. A nova imagem do país construir-se-á sobretudo pelos olhos de quem, seduzido para conhecer Angola, se deslumbre nas suas paisagens físicas e humanas. E para que isso aconteça é preciso que haja flexibilidade, rapidez e simpatia na emissão dos vistos.*

UM PAÍS CHEIO DE OPORTUNIDADES A APROVEITAR
Já vivem hoje cerca de 80 mil portugueses em Angola. As sombras coloniais passaram.

De parte a parte, parecem cada vez mais afastados os traumas desencadeados em Portugal e Angola pela guerra colonial que se estendeu de 1961 a 1974 - e que se prolongaram por alguns anos após a Independência da República Popular de Angolana 11 de Novembro de 1975. As desconfianças mútuas foram também alimentadas pela sangrenta guerra civil entre o MPLA e a UNITA que só terminou cem a morte do líder desta organização, Jonas Savimbi, que mantinha conhecidos adeptos em Lisboa. Hoje, em Angola, o tempo é finalmente de paz e de prosperidade. E o país volta a ser olhado pelos portugueses como um vasto campo de oportunidades, potenciado pela actual crise económica na Europa. Hoje já vivem cerca de 80 mil portugueses em Angola. E a tendência é para que este número aumente.


* David Borges
Fonte: Diario de Noticias