Luanda - A dor no meu “nguimbo” surge, quando as reivindicações parecem centrar-se nos objectivos só alcançáveis pelas Sras. Doutoras, Engenheiras ou próximas destes títulos e com todas as habilidades, quando outras, as mais vulneráveis, ficam-se pelo glamour, turismo e espectáculo. Quanto aos direitos e espaços privilegiados para elas, que são bons, não há quem se bata por eles.

Fonte: Ngola Jornal

Março é o terceiro mês do ano no calendário gregoriano, um dos sete meses com 31 dias e inicia com o sol no signo de peixes. Isso por si só, talvez não chamasse a atenção de mortal pensante nenhum, que fosse. O facto é que, parece ser o mês em que mais poesia se produz e mais lindas e criativas palavras se ouvem e lêem, desafiando a capacidade vocabular de uns quantos “discursistas”, ou simpáticos gatinhos?

Entre algumas das razões da marca inspiradora que detém, a mais provável é o Dia Internacional da Mulher ser celebrado em Março. Este dia, foi adoptado pela Organização das Nações Unidas, em Dezembro de 1977, para lembrar as conquistas sociais, políticas e económicas das mulheres. A data é comemorada no dia 8, e a própria ONU a dinamiza, como sucedeu em 2008, com o lançamento da campanha, “As Mulheres Fazem a Notícia”, destinada a chamar a atenção para a igualdade de género no tratamento de notícias na comunicação social mundial.

Na muangolé, os dias 2 e 8 não passaram em branco, foram comemorados com certa pompa, de forma a discutir, chamar atenção e reconhecer a importância e contribuição de todas na sociedade. Realizam-se debates e reuniões, em que se colocou o acento tónico sobre a participação da mulher na vida pública e a conquista de mais espaços nos centros de decisão, o que é a todos os títulos justo.

A dor no meu “nguimbo” surge, quando as reivindicações parecem centrar-se nos objectivos só alcançáveis pelas Sras. Doutoras, Engenheiras ou próximas destes títulos e com todas as habilidades, quando outras, as mais vulneráveis, ficam-se pelo glamour, turismo e espectáculo. Quanto aos direitos e espaços privilegiados para elas, que são bons, não há quem se bata por eles.

Entre os segmentos mais vulneráveis de mulheres, reportamo-nos às com Limitação (“deficiência”) de vária ordem, cuja situação de mobilidade, duplica a sua vulnerabilidade. Quem falou delas?

Se o esforço, que se faz, for para tentar mitigar e, quiçá um dia terminar, com o preconceito seja racial, sexual, político, cultural, linguístico ou económico e a desvalorização da mulher, é suposto que haja inclusão na luta e no usufruto das conquistas cada vez maiores, e que todas estejam representadas lá onde se decide sobre todas.

As Mulheres com limitação motora ou outras estão presentes na sociedade angolana, em todas as idades, etnias, raças e estratos económicos. Entretanto, não raro, ficam à margem até do próprio movimento de mulheres pelos direitos civis e outros. Trata-se de um segmento da sociedade que, quase não contam com acções voltadas para as suas necessidades, por exemplo, nos serviços primários de saúde, que embora privilegiem as mulheres, pouco fazem sobre os aspectos relactivos aos direitos sexuais, reprodutivos, bem como a ausência de sua abordagem pelos profissionais e a dupla vulnerabilidade que as acometem por serem mulheres e terem as limitações que se conhecem.

A dupla vulnerabilidade das mulheres com mobilidade condicionada, independência e inserção no mercado do trabalho, político e centros de decisões, sem as barreiras sociais que as impedem de exercer um papel produtivo, não mereceu, ainda, qualquer atenção das outras, neste Março Mulher, nem dos poetas de ocasião.

Uma abordagem que se impõe prende-se ainda com uma reflexão sobre a violência contra estas mulheres, que sofrem mais do que as outras por terem uma dificuldade ainda maior de defender-se e denunciar seus agressores, que muitas vezes são familiares ou quem supostamente as cuide. Há ainda um grande caminho a percorrer, sobretudo no que diz respeito ao preconceito, mesmo existindo no segmento em referência, casos de sucesso em vários domínios.

Muito foi conquistado pelas mulheres de uma maneira geral, mas não é pouco o que ainda resta para ser modificado. Como a procissão só vai ainda no adro, remetemo-nos na espectativa de, neste Março Mulher, as pintas de saltos altos, incluírem as outras nas suas abordagens, planos e acções, para em Abril aplaudirmos com a devida justiça.

Atenção: “Deficiência é parte do ciclo de vida de qualquer pessoa” e “todos somos corpos temporariamente aptos…”