Luanda - O  palhaço, teima em manter-se no centro do guião do tirano. Para um desconto, diríamos que sendo acéfalo, sem noção de dignidade humana, só está a ser manipulado. Coitadito! Ah, não. Há quem diga que não pode ser coitado, porque deixa-se manipular livremente. Mas esta tese, levanta outra questão. A noção de liberdade pressupõe possuir capacidade inteligível. Se é acéfalo, então, não pensa, logo, não sabe o que é a liberdade! Captada esta inferência silogística, permite compreender e precaver-se de qualquer comportamento que foge da norma, vindo do juizeco.


Fonte: Folha 8

 

Na sessão de sete de Março, em que os réus exibiram palhaços com autorretratos, nas suas camisolas, gerou um impacto inesperado. Inesperado pela simplicidade da acção, apesar da sua enorme carga simbólica.


Diante da resiliência, que expressa grande força de espirito dos arguidos, no uso do “soft power”, o farrapo humano, nas vestes de juizeco, decidiu coloca-los fora da audiência. Isto inflacionou o acto de resistência e desafio político…


O poder, tenta agir numa lógica de control mais ou menos absoluto da situação. É mera aparência. Há indicadores de sobra, de que está agir, na lógica ilógica do acaso. Porque não consegue perceber que o livro, “Ferramentas para Destruir o Ditador e Evitar Nova Ditadura — Filosofia Política para Libertação de Angola”, está a ser aplicado pelos réus. Por incrível que pareça, os ideólogos do regime, ainda não perceberam que mesmo presos, os réus estão à aplicar as técnicas à risca, desde Junho de 2015. Aliás, a condição de presos, viabiliza perfeitamente a aplicação da filosofia de luta não violenta. Captaram enorme simpatia internacional e nacional. Para a expansão e aplicação de uma filosofia, não há nada melhor que ter adeptos. Isto aconteceu porque a prisão permite maior publicidade gratuita, jamais concedida à uma filosofia de luta contra um tirano!


Pelo que li no livro, a primeira fase de luta não violenta contra a ditadura, deve consciencializar o povo sobre a opressão; levá-lo a questionar as injustiças, e fazer com que os potenciais cidadãos, desacreditem completamente as instituições e por arrasto a comunidade internacional saiba e siga na mesma incredulidade. Desde Junho de 2015, os ativistas conseguiram tudo isto! Fizeram com que todo o país soubesse que há um ditador e um MPLA que são as razões centrais dos problemas de Angola. Hoje, não há lugar deste país, onde não se debate às claras, e com ódio, a situação do país, focando-se na necessidade de arrancar o MPLA e o déspota do poder.


Os autorretratos em palhaço, mais uma vez demonstram a aplicação em consciência, das técnicas da filosofia referida. No dia sete, aplicaram a técnica nº 7: “(…) caricaturas e símbolos”. Se lembrarmos as greves de fome e jejum (técnica nº,159 e 102),  gestão mediática dos seus rostos com cabelo enorme, declarações formais enviadas da prisão para a midia (técnicas nºs 1 à 6). Tudo isto, está no livro. Os miúdos estão ganhar dez à zero contra o regime, que apesar de ter armas, militares, dinheiro do saque, mas sem inteligência, está a levar no focinho, pelo poder da racionalidade pluriversal e inteligência conectiva.


O processo deu a conhecer o livro e as técnicas, com uma rapidez à velocidade da luz. Rapidamente, os seus adeptos começaram a usar: oração e culto (tec. nº 20), vigília (tec. nº 34), assembleias de protestos (tec. nº47), reuniões de protestos (tec. nº 48), etc.


Em virtude do prazer de manter-se no centro temporário, do filme autoritário, o juizito, continua a seguir o guião à risca, protagonizando mais três acções que facilitam a aplicação da luta não violenta:

I) Convocou ilegalmente os membros do “Governo Facebook”.  Parte influente do tal governo, rejeitou abandonar o facebook, reclamando que de lá nunca deviam ter saído, estamos bem aqui, por isso, não iremos ao tribunal carnavalesco sem qualquer elevação ao nosso nível! Ante à este boicote com dignidade histórica, o imbecil metamorfoseou os declarantes em arguidos. Consequência: rebaixamento e descredibilidade total da corte. Mais uma contribuição dada à teleologia da luta… Os réus, usando do estatuto adquirido, apelaram ao boicote. Entre os resistentes à depor, está David Mendes, sobre o qual, voltar-se-á no fim deste texto.

II) Na sessão de catorze de Março, reservada ao início das alegações, sendo um dos advogados de defesa, David Mendes, fez-se presente. Na realidade, aquela ocasião, no guião do déspota e seus farrapos humanos manipuláveis, estava reservada para afastar o advogado de cena.


O juizeco, ordenou-lhe a retirar-se do local reservado para os advogados, exigindo-o a depor na condição de declarante. Ao que Mendes rejeitou, com base numa série de fundamentos legais. Reflita numa lógica razoável: Se ele já foi constituído arguido por não ter comparecido como declarante (mesmo sendo uma acusação ilegal, claro), é certo que deverá esperar o momento para ser julgado. Não?!


Mendes, exigiu ao juizito, que apresentasse fundamentos de direito, que justificassem as suas exigências. Confrontado com o muro retórico de Mendes, o imberbe autodenunciou-se e pôs mais uma vez a máquina duplamente nua. Não disse nada que todos racionais não saibam. Disse o que vem a seguir: “Não estamos aqui para discutir questões de direito, ilustre advogado”. Ao que Mendes respondeu: “A justiça angolana está doente”, e continuou, “por favor, coloque isto em acta”.


Mas se o tribunal não debate direito, debate o quê? Ainda há quem duvida que estamos diante de um “processo transcendental”!!