Luanda - Sou Sedrick de Carvalho. Uso esta página do site O GOLO, do qual sou director, porque não tenho outra onde programar a publicação desta nota, pelo que me desculpo já dado o aproveitamento. E estão a ler esta nota porque certamente já estou de regresso aos calabouços da DITADURA.

Fonte: OGOLO

Às masmorras da ditadura havemos de voltar

No dia 3 de Julho ouvi o Presidente da República José Eduardo dos Santos comparar-nos com os mortos no dia 27 de Maio de 1977, ou seja, dizendo que somos semelhantes ao Nito Alves, José Van-dúnem, e tantos outros barbaramente assassinados, pois "não [queriam] perder tempo com julgamentos" na altura.

Naquele dia percebi que estávamos condenados, ou mortos até. Imaginava que nunca mais veria a minha família. Mas então a sociedade angolana e a comunidade internacional se mobilizou e exigiu a nossa libertação incondicional. Protestos múltiplos aconteceram e ainda hoje mesmo estão a acontecer aqui, no país, em Portugal e em outros países, depois de em Moçambique ter ocorrido na quinta-feira um concerto com mais de trinta artistas denominado "Liberdade para os presos políticos de Angola".

A exigência surtiu efeito. Voltamos às nossas casas. Continuávamos presos, mas em casa, pelo menos. Três meses se passaram. Três meses com a família. Aproveitei ao máximo. Foi muito bom!


Infelizmente estamos de volta às masmorras. E só estamos porque o Presidente da República não iria admitir o contrário depois de ter aberto o peito e a boca para nos comparar com os assassinados em 77.


É muito simples. Desde o pronunciamento sobre a nossa prisão estúpida, ilegal e injusta que os procuradores e juízes (que não valem muita coisa) se viram perante uma tarefa hercúlea de satisfazer o discurso de JES. Coitado do juiz Januário que tanto se esforçou para nos condenar e agradar ao chefe. Coitada da procuradora que até teve de se disfarçar com uma peruca só porque tinha de agradar ao seu chefe. E conseguiram. Por isso voltamos. Mas eles são também tão criminosos quanto quem lhes manda. Mas não quero me alongar aqui.

Quero, sim, agradecer todos aqueles que gritaram alto "Liberdade Já". Muito obrigado!

Regressamos às cadeias consciente de que para os povos serem libertados e usufruirem a sua liberdade é necessário estarmos dispostos a enfrentar o ditador e a ditadura, o corrupto e a corrupção, nem que tenhamos como consequências o que estamos a viver agora. A história dos povos desenvolvidos está recheada de pessoas como nós. É só pensarmos que muitos angolanos foram presos para libertar Angola do colonialismo. Agora é o momento de sermos presos para libertar Angola da DITADURA.


Ao terminar, encorajo as angolanas e angolanos a ir à busca da LIBERDADE. Esta não será dada mas conquistada. Lembremo-nos sempre que a SOBERANIA pertence ao POVO. Mostremos que somos donos da SOBERANIA!


OBRIGADO PELO APOIO!