Lubango - A recente condenação, da parte do Tribunal de Luanda dos 17 jovens, mandando-os sem dó nem piedade à cadeia, representa uma mensagem de ódio, desdém e desespero.

Fonte: Facebook

Depoimento do padre Jacinto Wacussanga

Fiquei estupefacto pelo facto de o seu humano estar a repetir os mesmos erros, sabendo que nesse andar da carruagem, está-se a e empurrar a sociedade para um beco sem saída.

Aliás, a perseguição atroz a que os jovens activistas foram alvo somente revela que o país e´, em geral uma prisão a céu aberto.


Senão vejamos:

1. Em qualquer canto de Angola, se descobrirem que és membro de partido da oposição ou tens parentes, sofres uma ostracização humilhante.

2. Bastou seres activista cívico (especialmente distante das urbes, onde a opacidade e o isolamento completam o quadro), para seres apascentado como cabra, ou melhor, monitorado como fera à solta;

3. Mesmo alguns dos membros do partido no poder, o afã de conseguirem a tão espinhosa promoção, correm atrás de ti como se de um troféu se tratasse para poderem subir na vida, cada um deles apresentando relatórios espúrios;

4. Outros mais comedidos se afastam de tua companhia, alegando constituíres perigo para as suas vidas e sua imagem;

Outro ponto que esta condenação representa é o facto de se tentar ludibriar a tragédia em que o regime mergulhou o país. Acabei de ver agora um vídeo que é viral nas redes sociais, sobre de uma lado, a Luanda de elite, com magníficas torres, avenidas largas, jardins viçosos, e doutro, a miséria da morgue Maria Pia, onde corpos sem espaço nas gavetas juncam o chão, os parentes arranjam um pouco de água e sabão a lavarem os seus cadáveres. Ainda assim, a Morgue de Luanda é parte pequena da grande tragédia nacional, onde muitos morrem sem assistência. Quase todos os centros médicos e postos de saúde espalhados pelo interior não têm medicamento. Às vezes falta um simples paracetamol...

Os nossos comentaristas quando se referem ao colapso do sistema de saúde, os exemplos que aduzem são primariamente dos centros hospitalares de Luanda (o que é compreensível). No entanto, no interior o quadro não é menos dramático do que se passa nas urbes. A tia Twendeni, do grupo Hakavona da Taka trouxe esta manhã o neto, para eu o levar ao Lubango, pois no Centro Médico do Chiange (dizem eles) não há medicamentos para tratar da ferida do neto.Mas o problema maior é que o sistema de saúde, tal como a maior parte dos nossos serviços, perdeu a dimensão da sua humanidade.

Não existem planos viáveis que ao promover a diversificação da economia, atacam a pobreza.O assalto às terras continua o seu curso. Um grupo de grandes empresários e com lugares no Conselho de Ministro quer escorraçar as populações algures no município do Kuroka, envolvendo mais de 36 aldeias, com minorias cuja cultura e riqueza étnica é singular; Himbas, Tyavikwas, Hakavona, Hereros...

Os preços disparam todos os dias e a chuva desapareceu sem que o ciclo da maturação das colheitas terminasse.

Por outro lado, em função do descaso do nosso Governo quanto às preocupações das comunidades, da mentira reiterada e tornada verdade, da ausência de um pingo de compreensão e compaixão diante de tanto desespero, o povo está a despertar mais cedo.

Todo o mundo sabe (e pelo facto de eu estar associado ao processo dos 17 jovens) que se tratou de um julgamento forjado para humilhar os jovens.

A reiterada acumulação de problemas atraiu para muitos países o terrorismo insurgente, a instabilidade e os conflitos que hoje se conhecem.

Não vejo o regime ter sensibilidade e capacidade de previsão do futuro, pois a democracia e a cidadania se constrói com o respeito restrito à visão da diversidade de opiniões.

O julgamento, foi, sem dúvidas forjado e seu veredicto fabricado para se humilhar os nossos jovens aos quais estou ligado.

Na proximidade do dia 4 de Abril, não só foram humilhados os jovens condenados injustamente, mas tal mandou uma mensagem a todo o povo: aquele que lutar pelos seus ideais vai ser igualmente humilhado.

No entanto, já começam a aparecer os sinais de ruptura e de queda do regime. Deus não está surdo aos nossos rogos! Pai por favor, salvai-nos que perecemos!

*Jacinto Wacussanga "Pio"