Lisboa - A comunidade portuguesa em Angola, que por efeito do seu crescimento acelerado se estima ser composta já por c de 100.000 indivíduos, apresenta características que um estudo abalizado sobre o assunto define nos seguintes termos:

- É constituída por dois grupos principais: antigos residentes, muitos procedentes da época colonial, os quais constituem uma massa homogénea em aspectos como mentalidade e cultura; de instalação recente, ou novos, dotados de motivações, maneiras de ser e comportamentos – diferentes entre si e em relação aos antigos.
- Os antigos, em geral tratados como "colonos", gozam de "boa aceitação"; as populações vêm-nos e lidam com eles como parte de uma mesma comunidade; estão integrados e/ou enraizados, partilham dos seus problemas e ajudam a resolvê-los; têm maneiras de ser e estilos de vida comuns.
- Os novos, como são conhecidos, são associados no senso comum a grupos estigmatizados negativamente: os negociantes, vistos como parceiros da elite do regime em negócios objecto de menosprezo; técnicos e mão de obra
 
especializada, considerados arrogantes e despropositados no seu relacionamento com os nacionais, inferindo-se que tal conduta é reflexo de se sentirem apadrinhados pelos regime; outros técnicos, em geral os mais jovens, que não se integram socialmente, vivendo isolados em pequenos grupos baseados na empresa ou de classe.

No regime estão referenciadas posições, não alardeadas, de compreensão e/ou encorajamento em relação à instalação de portugueses – em especial da parte de sectores conotados com o PR; de reserva, também recatada, esta da parte de sectores que dão preferência a brasileiros e chineses – vistos como "mais fáceis de controlar".

As ambiguidades que o discurso das autoridades deixa transparecer na abordagem da questão da obtenção de vistos de entrada por parte de portugueses, é vista como sinal da percepção que o próprio regime tem de que não é a melhor a aceitação interna dos portugueses, em especial devido à sua ligação a negócios menos lícitos.

2 . A aceitação dos novos portugueses entre a população é prejudicada por factores como os seguintes:
- A ideia generalizada de que vêm em estado de necessidade (ideia que os media portugueses, nomeadamente as televisões, ajudam a criar); para resolver problemas pessoais ou para acumular.
- As boas condições de trabalho ou de vida que lhes são oferecidas – mesmo os que se ocupam de ofícios pouco exigentes – uma realidade geradora de sentimentos de preterição e inveja.
- Começaram a ser "confundidos" com os brasileiros e chineses, i.e., que vêm usurpar postos de trabalho elementares, para cujo desempenho os angolanos se consideram à altura; mas são melhor remunerados.

Entre as manifestações de má/menos boa aceitação dos portugueses por parte da população, nomeadamente a urbana, avultam constantes artigos na imprensa independente, em geral depreciativos; proliferação de provocações verbais de rua, em especial de cunho rácico; ocultação deliberada da sua participação em projectos empresariais.

3 .Os mais activos detractores dos novos portugueses que chegam a Angola são angolanos com vivências recentes em Portugal. O seu argumento recorrente é o de que foram então menos considerados ou mal tratados – razão bastante para não serem aplicados tratamentos de favor aos portugueses que agora chegam.

A boa aceitação dos portugueses é igualmente prejudicada pela ideia, corrente em meios da oposição, sociedade civil e em sectores do regime, de que são apoiantes do próprio regime e do status quo. A ideia é alimentada pelo conhecimento de comportamentos considerados subservientes ou de elogio fácil do regime.

Figuras independentes ou da oposição queixam-se de que notam incómodo nas atitudes de empresários portugueses com que circunstancialmente se encontram em público. Num dos últimos artigos do Semanário Angolense alusivo ao tema, 21.Fev, eram feitas acusações como as seguintes:
- As empresas portuguesas não aplicam nada dos grandes lucros obtidos em Angola em projectos sociais.
- Coíbem-se de anunciar na imprensa angolana independente (ao contrário do que fazem empresas de outros países, incluindo brasileiras).

Fonte: AM