ImageLuanda -  A paz trouxe inúmeras conquistas sociais que estão visíveis no nosso quotidiano. E a velocidade com que Angola caminha para o crescimento económico e a normalidade democrática está seguramente entre os mais importantes triunfos conquistados na época de paz.

As mudanças registadas são muitas e visíveis, porque melhoraram substancialmente o quotidiano e transformaram o país para melhor. Desse universo de benefícios e vitórias é sempre bom falar, até porque há vozes que persistem em ignorar o sucesso e confundir os fins com fantasias.

A prioridade nestes sete anos de paz foi para a reconstrução das infra-estruturas destruídas pela guerra. Angola teve de reabilitar tudo o que durante décadas se degradou, porque, antes, não havia possibilidade material nem humana de conservação e manutenção. Sejamos realistas. Na vida há sempre níveis de valores e nas sociedades são imprescindíveis os calendários de prioridades.

A reconstrução das consciências também é urgente, mas leva mais tempo, é mais difícil e exige de todos uma nova mentalidade e espírito aberto. Se fosse possível restaurar as consciências desmobilizadas e resgatar a honra hipotecada à infâmia com o investimento estrangeiro, Angola seria em poucos anos o paraíso na Terra. Mas isso não é possível. A consciência lava-se com nova mentalidade, com o espírito aberto à ciência e ao progresso, com atitudes construtivas, com modéstia e sobretudo com vontade de progredir com respeito pelo outro e nunca pisando tudo e todos para chegar à meta antes de mais ninguém.

O respeito pelo outro só é possível se formos capazes de percorrer um caminho que começa em nós próprios e depois se projecta não apenas no próximo mas sobretudo no longínquo. Respeitar e amar o próximo é fácil. Muito difícil é respeitar e amar os que nos são tão distantes que deles tudo desconhecemos, excepto que são seres humanos como nós.

Infelizmente, sete anos depois da paz, neste aspecto estamos a dar passos curtos e titubeantes. Há muita falta de respeito pelo outro. Surgem de todos os lados atitudes que revelam falta de respeito por quem tem ideias diferentes das nossas, opções políticas diversas, percursos de vida diferentes.

A tendência de apetência pelo pensamento único, visível numa imprensa que prima pela irresponsabilidade e por líderes de opinião que lançam na fogueira da intolerância quem não está alinhado com as suas verdades, mas que não dão provas de serem eles um exemplo, é inquietante.

O seleccionador nacional Mabi de Almeida é ofendido de forma grosseira, apelidado de ignorante. Justino Fernandes enxovalhado. E falo do futebol porque é a forma mais directa de chamar a atenção para o problema. Podia falar da forma insultuosa como são tratados as angolanas e os angolanos que não partilham connosco da mesma orientação sexual, dos quais se diz que defluem das raízes do mal. Ou do silêncio que esmagou as declarações da directora do Instituto nacional de Luta Contra a Sida, que veio a público defender os programas nacionais que assentam no uso do preservativo e explicar porque razão não temos taxas tão assustadoras de prevalência da Sida.

A reconstrução das consciências passa por uma postura responsável dos órgãos de informação que, ao contrário do que afirmam os nossos órgãos de auto-regulação, tem problemas evidentes e gravíssimos de quebras da ética e da deontologia profissional. Atropelos permanentes ao dever de cuidado. Campanhas que são autênticos linchamentos de pessoas ou instituições na praça pública, onde nem sequer escapa a figura do Chefe de Estado, semanalmente vilipendiado, injuriado e caluniado.

Ninguém acredita que a falta de ética que desemboca na baixeza moral acontece por acaso. A imoralidade tem sempre beneficiários e a intriga, a mentira e a calúnia são mercadorias de um negócio obscuro. É preciso respeitar, com urgência, os direitos de personalidade. Para que a honra não seja uma palavra sem sentido.

Fonte: Jornal de Angola