Luanda - Na madrugada de terça-feira, 14 de Abril, o Projecto Habitacional Zango recebeu novos habitantes, desta, os ex-moradores da rua do Vindo e do Mata Gato, na Boavista, numa acção enquadrada no processo de requalificação e reordenamento de Luanda.
Doze famílias foi o número adiantado por uma das beneficiárias deste projecto que, à semelhança dos outros realojados, manifestava-se insatisfeita, alegando que as condições das casas não são as esperadas.
Durante a nossa reportagem, vimos alguns moradores a retirarem água de dentro das casas devido a chuva que se abateu caíra anterior. “Deram-nos as casas sem os respectivos acabamentos e com compartimentos inferiores ao prometido”, disse Maria da Gloria, garantindo a O PAÍS que durante o processo de cadastramento e registo das casas prometeram que lhes seriam dadas casas com compartimentos compatíveis com as que tinham.
“As casas que nos deram não são compatíveis com as que deixamos na Boavista. À minha mãe haviam prometido sete casas devido à dimensão da vivenda que tínhamos e pelo número de famílias que habitavam nela.
Deram-nos apenas duas casas em corredor e sem acabamentos, das sete prometidas”, explicou. Segundo ainda os realojados, durante as negociações e cadastramento, aos moradores da Boavista foram prometidas casas com os respectivos acabamentos (tecto falso, ladrilho e louça sanitária).
“A minha mãe é doente, sofre de trombose e esta casa, não está em condições para abriga-la, nem sanita tem. Durante a negociação eles nos prometeram três casas mas só nos deram duas”, lamentou Manuel Gaspar, que afirmou que foram retirados da zona onde viviam pelo facto de o governo estar a ampliar a via adjacente às suas casas.
“Parecia uma brincadeira, dirigiam-nos para o Zango IV e de lá os responsáveis mandaram-nos para o III, postos aqui o responsável mandou-nos de volta para o IV. Aquilo era uma autêntica desordem, eles não sabiam onde nos alojar. O vai-e-vem durou a até à madrugada”, contou.
O cenário no Zango III e IV era o de amontoado de mobílias, roupas e outros pertences estendidos no chão, por terem sido transportados em camiões sem cobertura durante as chuvas que se abateram na noite de segunda-feira.
“Deixaram-nos pendurados desde as oito da manhã até as oito da noite, altura em que chegaram com os camiões e autocarros para nos transportarem ao Zango”, reclamou Maria da Gloria, acrescentando que “chovia bastante durante o percurso e quando cá chegamos, por volta das 23 horas, eles nem sabiam em que casas haveriam de nos realojar porque alguns só possuíam notificação e não tinham a guia”.
Em relação ao tempo de duração das negociações entre os ex-moradores da Boavista e os responsáveis pelo realojamento, aqueles realojados afirmaram que depois de três anos sem nenhum contacto, os fiscais apareceram em suas casas quinta-feira para as enumerar; sexta-feira distribuíram as notificações e segunda-feira começou a mudança. “Foi tudo muito rápido”, reclamaram.
Ana Santa, mãe de quatro filhos, diz que apesar das condições das casas terá que se conformar, porquanto não tem onde ir. O único empecilho, afirma, é a distância, porque os seus filhos estudam na Boavista e não têm como continuar as aulas.
Os moradores do Zango IV mostraram-se ainda mais agastados em relação aos do Zango III, porque as suas casas estão em piores condições. Muitas delas não têm energia eléctrica, as paredes não estão rebocadas ou apresentam-se sem tecto.
“A minha vizinha teve que voltar para a cidade e acolher-se em casa de familiares porque a que lhe foi entregue está sem tecto. Não acho justo; algumas casas têm tecto falso, mosaico, louça sanitária e luz eléctrica, enquanto outras estão sem condições nenhuma, nem o próprio tecto têm”, disse Emília Cândido, realojada no Zango IV.
Emília que trabalha no período da noite no centro da cidade, reclama da distância em relação ao seu local de trabalho, pelo que terá que deixar de trabalhar por não ter como se deslocar frequentemente a Luanda.
“Os meus filhos estudam na escola 1ª Maio, na cidade, fui obrigada a deixa-los em casa de uma irmã porque não tenho meio de levá-los à escola todos os dias”, lamentou.
Os serviços existentes naquela zona encontram-se a alguns metros do Zango III e IV, pelo que os novos ocupantes apelam às entidades de direito a disponibilizarem serviços básicos como escolas, posto médico e um posto policial.
Os populares queixam-se das estruturas das casas que estão a ser feitas pela construtora Odebrecth sem as respectivas vigas e pilares de suporte, porquanto os empreiteiros prometeram fazer os acabamentos (tecto falso, louça sanitária e ladrilho).
"Ninhos de condomínios"
A zona do Talatona, no município da Samba, na parte sul de Luanda, é a que alberga o maior número de condomínios em todo o território nacional. Associados ao nome surgiram os condomínios “Mirantes de Talatona”, “Jardins de Talatona” e “Flores de Talatona”, mas a disseminação fez com que surgissem outros, cada um dos quais com denominações a seu jeito. A Acquasolo, por exemplo, pretendia erguer um com 12 casas, denominado “Bom Vizinho”, e, ao contrário das demais, as casas têm denominação de frutas: manga, sape-sape, ginguenga, loengo, dendém e mamão. A seguir a Samba, estão os municípios do Kilamba Kiaxi e Viana.
Na estrada do Camama estão a ser erguidos os condomínios Ginga Cristina, Ginga Isabel e também o Ginga Shopping. Nas redondezas pode-se divisar igualmente uma das extensões do condomínio Cajueiro.
Depois de Luanda, a tendência virou-se para o interior do país. Há dois anos o grupo Prodoil lançou o projecto de construção de um condomínio nas proximidades do campo petrolífero de Malongo, em Cabinda.
Em Benguela, uma construtora portuguesa também iniciou a construção de um conjunto de habitações nas margens do rio Catumbela. No Lobito há um da Sonangol e mais dois em construção. Na cidade de Benguela há o condomínio Setenco, situado na zona do aeroporto 17 de Setembro, mas apresenta algumas insuficiências, como casas a rachar e o assunto chegou ao tribunal local.
No Huambo também existe um outro projecto, denominado Parque do Lago, cuja primeira pedra terá sido lançada brevemente.
Além do investimento privado, alguns dos condomínios são propriedades das principais empresas existentes no país, com destaque para a petrolífera Sonangol, onde está inserido a cooperativa Cajueiro.
Na senda da petrolífera, que possui o maior número de condomínios, alinharam também a Empresa de Seguros (ENSA), o Banco de Comércio e Indústria (BCI), o Banco Nacional e Porto de Luanda. Entidades como a Polícia Nacional, Conselho de Ministros e Assembleia Nacional, não conseguiram fugir à “sedução imobiliária”.
*Waldney Oliveira
Fonte: O Pais