Cidade do Cabo - Cheguei a África do Sul, com Nelson Mandela ainda no poder. Acompanhei os processos  políticos e eleitorais que marcaram a era do pos-Apartheid, desde a sucessão de Mandela em 1999 ate os dias de hoje. Naquela altura as pessoas votavam em ANC porque denotavam divida moral por ter lutado contra o fim do anterior regime. Votaram em 1999 em  Mbeki porque para muitos era a opção de Mandela. Tornaram a vota-lo em 2004 porque sentiam-se comprometidos com o ANC.

O  cenário político hoje é diferente. Um novo fenómeno marcou as eleições desta semana. O surgimento do COPE, que é um  partido formado, em finais de 2008, por decidentes do ANC, leais a Thabo Mbeki . As eleições desta semana foi  a extensão da disputa de Polokwane entre os seguidores de Jacob Zuma e de Thabo Mbeki. Foi a batalha eleitoral do ANC contra o “ANC”, travestido em COPE.

Jacob Zuma, é o candidato natural do ANC. É um líder populista que sobreviveu a processos judicias. Para contrapor a imagem de Zuma afectada por acusações de corrupção e violação, o COPE colocou de parte,  o seu Presidente Mosiuoa Lekota (Ex Ministro da Defesa de Mbeki) e o seu vice Mbhazima Shilowa (Ex Governador de Gauteng) e apresentou  como  candidato a Presidência da Republica,  o Doutor Mvume Dandala, reverendo que em 1998 celebrou o casamento de Mandela e Graça Machel. Dandala tem credencias sobre a sua verticalidade na liderança da Igreja Metodista na Africa Austral. 

 Os analistas repetem que se o COPE conseguir pelo menos 7% dos votos será um bom indicador. Outros dizem que  seria a melhor oposição ao ANC por conhecer bem o partido no poder, de onde os seus membros militaram. A campanha do COPE foi ironicamente ajudada pelos partidos da oposição que desencadeiam uma campanha contra a corrupção. A  Aliança Democrática vulgo DA  colocou cartazes nas ruas com a frase “Stop Zuma”.

Uma semana antes das eleições,  uma responsável do Instituto sul africano de Estudos e Segurança,  Paula Roque  dizia-me que estava preocupada pelo facto de o COPE e o ANC terem andado a realizar os seus comícios próximos um aos outros. No seu ver eram um risco para eventuais  richas entre as duas partes.

Esta disputa é uma tendência que se vêem verificando desde ou antes do  nascimento  do COPE. Na primeira semana de Outubro de 2008, antes da fundação do COPE,  cerca de 2000 pessoas assistiram um encontro que Mosio Lekota teve com os militantes (zangados) do ANC na província de Eastern Cape. A cerca de 10 km de distancia do local , o vice Presidente do ANC,  Kgalema Montlanthe realizava igualmente uma reunião partidária que  tinha juntado 300 pessoas. Prosseguiu-se mais encontros desta natureza por algumas províncias. A leitura dos analistas na África do Sul, na altura, era de que se estava diante de uma demonstração clara de descontentamento dentro do ANC  sobretudo o registo de  vários membros das bases estavam renunciar o partido nesta província.

Na quarta-feira, circulou na província de Eastern Cape, SMS  convidando os leitores para o funeral dos separistas que haviam se juntado ao COPE. A mensagem cujo texto estava  escrito em isiXhosa, começou com as palavras: "membro da comunidade, você está convidado para o funeral de serviço de um bebé pequeno (apenas de quatro meses de idade) COPE, ou Shikota, que será realizado na Assembleia mais próxima, em 22 Abril de 2009. "No final do serviço funebre,   todas as outras crianças vão voltar para a casa grande - o ANC".

O teor da SMS evidenciava um sinal claro que a  preocupação do ANC, nessas eleições era o COPE. Eastern Cape é um dos maiores celeiros tradicionais do ANC apesar do nascimento nesta localidade  do COPE e as suas alegações de que há um amplo apoio de que goza. Muitos dos  membros do ANC e do COPE nasceram nesta província. Dai se percebe que nestas eleições, o ANC esta a lutar “consigo próprio”

PREFERENCIA DA  MEDIA

Na tarde de Domingo (19), quando saiamos de Bruma Lake a caminho do Museu do Apartheid, havia  um mar de gente trajadas com camisolas com o rosto de Jacob Zuma. A policia tinha bloqueado algumas ruas que davam para ao Estádio “Elles Park”. O Presidente do ANC estava a fazer o seu ultimo comício de campanha eleitoral, no estádio. Houve muita afluência. O ANC anunciou, dias antes, que passariam no comício,  uma mensagem gravada de Nelson Mandela mas para grande surpresa, o líder histórico  apareceu no comício. Na segunda feira, todos os jornais traziam como manchete de capa, a aparição de Mandela no comício. Os jornais vendem quando o assunto tem haver com Mandela.

As manchetes dos jornais demostrou, por outro lado,  preferencia dos jornais ao ANC. No dia das eleições, o “Sowetan” trouxe um longo artigo de opinião alegadamente assinado por pessoas anónimas cujo titulo era:  “Why voting for the ANC is the right thing to do”.

O efeito do papel  tendencioso da media  teve efeito nas populações. Na noite antes das eleições, a senhora que trabalha em nossa casa, dizia-me “ANC is already Win” (O ANC já ganhou). Quando, na manha do dia seguinte  regressou da Assembleia do voto argumentou que Mandela ficou 27 anos na cadeia e que de lá trabalhou para todos. Disse me que antes de Mandela chegar ao poder não  havia electricidade, nem agua em alguns bairros por isso o seu voto não seria para aqueles que nunca fizeram nada.

Fonte: Club-k.net