Luanda - Quando esteve em Luanda, o primeiro-ministro José Sócrates foi ouvir música ao Chill-Out. O bar é de um jovem português que trocou Lisboa por Angola e se saiu bem.

Como eles ganham dinheiro em Luanda

Foi há dois anos que António Chaves passou a sua primeira noite em Luanda. Aos 34 anos, este advogado madeirense desistiu de exercer a sua profissão para juntar-se aos milhares de portugueses que, nos últimos anos, decidiram embarcar na conquista do país que é já classificado como "o novo Eldorado". Sócio de uma empresa de construção civil com mais três irmãos, no Funchal, António juntou-se a uma empresa angolana para criar a Vilangola.

"Decidimos manter-nos no ramo de negócio que tínhamos em Portugal e aplicar os conhecimentos e o know-how em Angola", explicou ao 24horas o empresário. Dois anos e 2,4 milhões de euros em investimentos depois, António é já um construtor de qualidade reconhecida na cidade de Luanda e, particularmente, em Talafonas, uma zona que está para a capital angolana "como a Expo está para Lisboa".

Com 300 operários a seu cargo, entre angolanos e chineses, António faz questão de lembrar que o investimento em Angola é tudo menos um passeio: "As coisas nem sempre correm bem, há muita lentidão e muitas vezes é preciso recuar três passos para dar um em frente", sublinhou. Mais que a lentidão dos processos formais, é a dificuldade de aprovisionamento para as suas obras que mais dores de cabeça lhe tem dado.

António Chaves, contudo, fez questão de sublinhar que nos últimos dois anos assistiu a uma verdadeira revolução com a crescente presença lusa no território: "Os portugueses vieram imprimir um ritmo diferente, aportuguesaram os processos".

O barman de Lisboa

Ao contrário do que aconteceu com António Chaves, Luís Castilho sabia o que iria encontrar em Angola. Filho de um português radicado há 15 anos em Luanda, Luís, hoje com 27 anos e proprietário do Chill-Out, um dos mais badalados clubes nocturnos angolanos, estava habituado ao ritmo da vida em Luanda.

"O meu pai tinha aqui um restaurante, uma empresa de construção e um stand de automóveis. E desafiou-me", recordou ao 24horas o jovem que se fixou na capital angolana em 2005. Para a decisão final pesou a sua situação em Lisboa: "Tinha acabado o curso de Gestão Hoteleira e, tirando alguns trabalhos em bares, não tinha um emprego fixo."

Com o apoio do pai, Luís acabou por embarcar para Luanda, onde planeava montar um restaurante/bar "com música e comida sofisticadas". E assim nasceu o Chill-Out, que se transformou num clube de culto, por onde já passaram figuras como Bárbara Guimarães, Maria de Medeiros, Marcelo Rebelo de Sousa, João Rolo e até o primeiro-ministro José Sócrates.

Se o principal elemento de aliciamento de quem vai trabalhar para Angola são os salários elevados, o grande problema é, de acordo com António Chaves, o elevado custo de vida. "Quem tem o mínimo de instrução não vem para cá ganhar menos de cinco mil euros, mas uma casa para arrendar não custa menos de quatro mil euros", sublinhou o madeirense. Isto fora os custos com a alimentação: Pelo menos mil euros por mês.

E até sem contar com as refeições em restaurantes, que "custam pelo menos 120 euros por pessoa". E com os colégios particulares para os filhos, que rondam "os 20 mil euros por ano". Menos pessimista é Luís Castilho, que até já levou a namorada para Luanda. Vânia Vilela é uma das estrelas na nova W Zimbro, onde apresenta o programa "Chocolate". "Estou completamente estabelecido cá e não penso nos próximos anos voltar a Portugal", afirmou Luís Castilho,*

Portugueses a quadriplicar

Nos últimos anos, o número de portugueses que optaram por tentar a sua sorte em Angola quadruplicou. De acordo com as últimas estatísticas, calcula-se que no país presidido por José Eduardo dos Santos trabalhem actualmente cerca de 100 mil portugueses. Um número que contrasta muito com os 20 mil existentes naquele território há apenas cinco anos.

Se fizermos as contas e compararmos estes dados com os números do Instituto Nacional de Estatística (INE), facilmente chegamos à conclusão que o número de portugueses em Angola representa já quase o triplo do número de angolanos registados em Portugal, e que são apenas 34 mil. As contas desta proporção são apenas abaladas pelo número de imigrantes angolanos que se encontram no nosso país ilegalmente, e que devem chegar facilmente aos 200 mil indivíduos.

* Joao Baptista
Fonte: Portugal 24 horas