ImageLuanda - O ANC venceu as eleições na África do Sul por números que não deixam dúvidas a ninguém. Foi a vitória de um partido que tem sido coerente, desde o momento em que enfrentou o regime de “apartheid”. Mas é também a vitória de Jacob Zuma, um líder que soube transmitir ao eleitorado combatividade e confiança, num momento em que no seio do partido surgiram dissidências e jogadas de baixa política, para denegrirem a imagem do novo líder.

A vitória do ANC surge num quadro que, apesar das “facilidades” das sondagens, não era nada favorável. Os últimos anos correram mal ao Governo do ANC. A mudança de liderança provocou fracturas dolorosas que se revelaram numa dissidência que foi até à ruptura, apresentando-se aos eleitores com a sigla “Cope” (Congresso do Povo). Os “liberais” que se opuseram ao “apartheid” ganharam expressão eleitoral à medida que se alastrava o fenómeno da marginalidade nas grandes cidades.

Jacob Zuma assumiu a liderança do ANC e teve logo a seguir esta prova de fogo da qual se saiu muito bem. Os resultados eleitorais provaram que a escolha do partido foi acertada e sobretudo mostrou que o líder passou com distinção este difícil teste. Outro dado a reter é que depois da legislatura, o ANC teve uma votação muito idêntica à das últimas eleições gerais.

O efeito da dissidência foi nulo e o crescimento da Aliança Democrática (o maior partido da oposição) foi feito à custa de outras forças políticas. O eleitorado do ANC foi fiel ao partido e até a abstenção teve menor expressão nestas eleições, o que deu ainda mais brilho à vitória do partido.

A Aliança Democrática subiu a votação. O aumento de eleitores ajudou a esta subida. Mas é bom que se diga que uma parte significativa da votação da Aliança Democrática foi, uma vez mais, à custa de Buthelezi,que jogou um papel importante no regime do “apartheid” e cujo partido foi, durante muitos anos, uma arma preciosa de Pretória.

O líder do Partido Inkhata da Liberdade está esgotado. Nas últimas eleições não conseguiu mais do que 7 por cento dos votos, nestas perdeu quase metade do eleitorado e ficou pelos 4 por cento. O “chefe” zulu levou o Partido Inkhata ao desastre em próximas eleições corre o risco de desaparecer.

O desgaste destes últimos quatro anos nem sequer teve reflexos na votação do ANC. O que ainda dá maior expressão ao partido e ao seu líder, Jacob Zuma. No momento de cantarem vitória, os dirigentes, militantes e votantes do ANC vão seguramente recordar que valeu a pena a coerência, continuar a lutar por princípios e sobretudo valeu a pena ignorar todos os que tentaram levar a direcção do ANC para um caminho que não estava de acordo com os seus compromissos históricos com o povo sul-africano.

 A dissidência do ANC, o Cope, neste momento está a avaliar a dimensão do desastre eleitoral, que revela um indesmentível desaire político. Se valiam tão pouco, não se percebe que tenham prometido tanto e sobretudo ninguém compreende que se tenham apresentado como alternativa à direcção de Jacob Zuma. Um equívoco que em política se paga muito caro. Para conseguirem uns magros lugares no Parlamento não precisavam de dilacerar o partido e protagonizar a tentativa de assassinato moral do líder.

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Fonte: JA