Luanda  - A capa da  edição 30  da Revista Rumo é Lília Cunha  Rangel, Directora da Área de Risco do Banco BIC Angola desde Novembro 2015. A entrevistada debruçou sobre a matéria pelo qual domina, risco bancário.

Fonte: RUMO

As lições das crises financeiras e a importância das tecnologias na gestão do risco bancário

As lições das crises financeiras e a importância das tecnologias na gestão do risco bancário,  a relação entre a equipa de gestão de risco e os órgãos de decisão das instituições bancárias são alguns dos temas da entrevista.

 

Sobre o período que a banca angolana atravessa pelo facto do Banco Central Europeu e da Reserva Federal dos EUA considerarem Angola “um país de alto risco”, Lília Rangel revela que tem sido uma preocupação constante da supervisão bancária o desenvolvimento de estruturas definidas e adequadas para gerir riscos, como resultado das exigências da comunidade internacional, que tem como objectivo melhorar a solidez do sistema financeiro mundial.

A banca angolana enfrenta um período bastante desafiante pelo facto do Banco Central Europeu e da Reserva Federal dos EUA considerarem Angola “um país de alto risco”. Como é que a Direcção de Risco de um banco comercial lida com esta situação no dia-a-dia? 

Tem sido uma preocupação constante da supervisão bancária o desenvolvimento de estruturas definidas e adequadas para gerir riscos, como resultado das exigências da comunidade internacional, que tem como objectivo melhorar a solidez do sistema financeiro mundial. 

A actividade bancária pela sua natureza específica implica a exposição da instituição a diversos tipos de riscos, e o ponto de partida para uma gestão eficaz de riscos é a existência de uma estrutura de controlo interno adequada a dimensão e complexidade da actividade do Banco, tendo em consideração a natureza e especificidade dos riscos que a mesma assume ou pretende assumir. É muito importante que a instituição tenha a capacidade e competência de diagnosticar, priorizar, monitorar e gerir os seus riscos, permanecendo sempre atenta às mudanças do ambiente interno e externo, de modos a não ser surpreendida por riscos desconhecidos ou não controlados. Este sistema de controlo interno deve estar de acordo com as disposições legais e regulamentares aplicáveis, sendo no entanto necessário que exista um acompanhamento da implementação destes controlos e respectivo reforço se necessário, pelo próprio regulador.

 

Gestão de riscos no sistema bancário e financeiro pode ser entendido como a probabilidade de perda. Acha que é esse o maior temor da banca hoje, o risco de perda de liquidez e de mercados consolidados, tendo em conta a actual conjuntura?

As crises financeiras alertaram para a importância do risco de liquidez nas instituições Financeiras e ao mesmo tempo para a necessidade de o regular. Uma gestão adequada da liquidez permite às instituições financiarem de forma contínua a sua actividade creditícia e dar cobertura das responsabilidades na data de vencimento.

No âmbito da gestão da liquidez, têm sido elaboradas análises quantitativas e qualitativas que permitem identificar eventuais debilidades e preconizar a tomadas de medidas correctivas que visam o estabelecimento das reservas mínimas de liquidez, a nível dos Bancos comerciais angolanos. O comité de Basileia introduziu um conjunto de novas emendas e alterações ao quadro regulamentar para acomodar o risco de liquidez. É minha convicção ser necessário implementar os requisitos mínimos exigidos na gestão da liquidez de formas a darmos alguma robustez e resistência ao sistema bancário angolano.

 

Como se faz de forma transversal a abordagem de risco que cubra toda uma organização devido o efeito crítico para a saúde das instituições financeiras?

O conceito elementar é: a solução deve ser preventiva e não corretiva. O Conselho de Administração em estrita interacção com o seu quadro directivo, devem garantir a implementação de um sistema válido de gestão de riscos e um sistema de controlo interno completo, abrangente e rigoroso, porque isto é essencial para a continuidade, resiliência e crescimento do negócio do Banco. É crucial que as áreas internas se comuniquem contínua e sistematicamente entre si, para implementação deste processo de controlo. Esta abordagem estruturada de gestão dos riscos deve ser feita sem causar obstáculos no core business das instituições financeiras.  

 

Perceber o impacto potencial de todos os tipos de riscos associados à gestão das negociações e saber como os riscos se encaixam no apetite voraz por risco da empresa é um grande desafio. Como compatibilizar tudo isso? 

A gestão de riscos é um processo dinâmico, contínuo e crucial para a boa governança de qualquer instituição. A existência de um alinhamento estratégico, entre os objectivos da instituição e o impacto do risco, a combinação de prudência na gestão do risco em conjunto com a utilização de técnicas avançadas de gestão, são decisivas na obtenção e criação de valor. A instituição tem que ter a capacidade de prever, prevenir e superar os riscos de maior ou menor envergadura.

 

É certo pensar que os riscos financeiros ou clássicos são as maiores preocupações da banca? 

Os riscos hoje são os mais variados, e a cada dia poderemos ser surpreendidos por eventos incertos. Sabemos que a fragilidade do sistema bancário interfere e ameaça a estabilidade financeira e temos vários exemplos na história sobre falhas no sistema financeiros que originaram crises financeiras com proporções mundiais. Existe uma grande preocupação em garantir a estabilidade e solidez do sistema bancário a nível internacional. As instituições quando definem a sua estratégia e plano de negócios têm que garantir que têm todos mecanismos desenvolvidos para se defenderem dos efeitos hostis dos riscos intrínsecos ao seu negócio. 

 

O que é o mais desafiante entre gerir risco de liquidez, gerir desempenho, gerir componentes regulatórias, gerir capital, gerir risco operacional ou gerir  risco de crédito? E porquê? 

A eliminação total dos riscos é uma meta improvável e todos os riscos são relevantes. O mais desafiante para a Banca continua a ser o risco de crédito, porque encontrar um equilíbrio entre a qualidade do crédito e o crescimento da carteira, complementado com uma resposta eficiente às exigências acrescidas e crescentes da regulamentação e supervisão, têm sido desafiantes para os Bancos.

De referir ainda que as instituições nem sempre dispõem de controlos operacionais adequados, gerando muitas vezes retornos de má qualidade e acções judiciais dispendiosas.

 

Entre os riscos clássicos no sector financeiro, concorda que o de liquidez é dos maiores com que se deparam as instituições bancárias?

A necessidade de regular o risco de liquidez foi talvez uma das mais importantes lições da crise financeira. Temos que começar a criar alguma dinâmica no sistema financeiro angolano, no sentido de instituirmos práticas necessárias que permitam avaliar efectivamente a sustentabilidade dos Bancos em função da sua propensão ao risco como por exemplo o stress test e planos de contingência na gestão de risco de liquidez.

 

Face a sua experiência na Banca qual é a cartilha de soluções de risco de crédito e de mercado que deve ser seguida e aplicada pela banca? Pode enumerar pelo menos três tópicos cruciais?

Para ambos os riscos e outros, o elementar é a adopção e cumprimento do acordo de Basileia II,  assente em 3 pilares: i) Exigência mínima de capital ( determinação dos requisitos mínimos de fundos próprios); ii) Supervisão (participação e o papel do regulador no processo de supervisão bancária e de avaliação da governança de risco das instituições ) e iii) disciplina de mercado (consistência e transparência). Para o Basileia III cujo prazo é até 2019, ainda temos que repensar nos modelos quantitativos a serem introduzidos.

 Esta abordagem torna-se possível com, investimentos em tecnologia da informação, desenvolvimento de ferramentas de gestão, governança corporativa, cultura de risco e ajustes nas práticas de gestão. 

 

Que tipos de infraestruturas tecnológicas dão suporte à gestão da carteira de riscos?

Hoje temos acesso a várias tecnologias, a níveis muito sofisticados que podem servir estrategicamente como forma de fazer mais, com menos e em menor tempo. Tudo depende do quanto a instituição está disposta a investir para evoluir e melhorar os sistemas e processos. Ainda dispomos de tecnologias para gestão do risco pouco maduras comparativamente aos modelos implementados em sistema financeiros internacionais, mas estamos a caminhar para esta transformação. Mais do que citar as infraestruturas, esta deve essencialmente permitir, identificar, avaliar, mensurar, monitorar, mitigar os riscos, sendo continuamente aprimorada, interactiva e integrada ao processo estratégico da organização/instituição sem divergir com a regulação em vigor.

 

Com  a nova era das Fintech, até pela aplicação da tecnologia de última geração, julga que será mais fácil gerir os riscos?

Toda instituição que tiver este binómio (financial e technology) obviamente criará metodologias, processos e ferramentas que facilitam a gestão de riscos, as Fintech cobrem lacunas ou criam espaços onde parecia não haver nada. Como se diz na gíria, ‘’ajudam a construir estradas para chegar a novos territórios’’, entretanto a introdução de uma inovação não deve trazer riscos maiores do que os benefícios pretendidos. Ainda temos muitos segmentos carentes de serviços financeiros aliados a tecnologia e falhas na implementação de novas tecnologias, tornando-se urgente entendermos e implementarmos no mercado tecnologia que permita criar modelos de negócios sustentáveis, potencializadores de benefícios na mitigação do risco.

 

Até que ponto programas como o Angola Investe aumentam e ou diminuem o risco de crédito das instituições bancárias, considerando a diferença da realidade económica do momento de lançamento do programa e a actual?

O Angola Investe é uma iniciativa do Governo Angolano, surgindo como um incentivo a concessão de crédito as micro, pequenas e médias empresas em sectores prioritários da economia, com um único objectivo: fortalecer e diversificar a economia do País. Os financiamentos no âmbito do Angola Investe comportam algum risco reduzido; têm linhas de crédito bonificadas e garantias públicas de crédito. Nas garantias públicas, o estado cobre até 70% do valor financiado, e existem financiamentos em que o estado garante até 50% ou 35%, sendo que os Bancos garantem a parte não coberta pelo Fundo de Garantia de Crédito do Estado, assumindo o Banco este risco. 

Quando o programa começou a ter alguma dinâmica, surge o problema de aquisição de divisas para importação de produtos e máquinas que o programa contempla, e face a desvalorização contínua da moeda, tem sido cada vez mais dispendioso a aquisição de matéria-prima importada, para funcionamento da área de produção de algumas empresas. A par de tudo isto, os projectos falham devido a capacidade de implantação e gestão dos promotores. Estes factores na actual conjuntura económica, dificultarão a aprovação dos mesmos pelos Bancos, devido a probabilidade de incumprimento impulsionado pelos dois factores já mencionados.

 

Num estudo recente, a Moody’s considerou que o ambiente das operações, o risco dos activos, o lucro, o financiamento, a liquidez e o apoio à economia da banca angolana vai degradar-se em 2016. Qual é a opinião que tem sobre estes itens do estudo? 

As famílias, as empresas e o Estado têm um papel fundamental na economia, quando um destes agentes económicos passa por dificuldades, o risco de contágio aos outros é elevado. Os indicadores económicos têm revelado um clima desfavorável e temos dados suficientes para sermos cautelosos quanto ao regresso de ventos favoráveis a breve trecho. Estamos a registar um abrandamento e reajustamento da economia, mas esta constatação deve inspirar em nós, a criação de sinergias e parcerias robustas de modos a mantermos a dinâmica da diversificação, ainda que de modo gradual e consistente, com medidas acertadas e oportunas.

 

Como avalia em termos de riscos os mercados internacionais onde bancos angolanos  têm investimentos?  

Poderá existir um risco de contágio, risco de mercado, mas isto depende da exposição que os Bancos têm entre si, da interdependência, do molde em que as operações negociadas estão contratadas, e nisto é determinante a resiliência do Banco.

 

Até que ponto a medida do Comité de Política Monetária do BNA, no sentido de elevar as taxas básica de Juro, agrava o risco de incumprimento de reembolso de créditos?    

Ao longo de 2015 ocorreram cinco alterações na taxa básica de juro, que foi aumentando gradualmente até Junho de 2016, ocorrendo em 2016, três oscilações da taxa, que passou de 12% em Fevereiro para 16% em Junho. A título de exemplo, se tenho um empréstimo indexado a Luibor a 12 meses, contraído em 2015 e ainda em vigor em 2016, a minha taxa de esforço (valor da prestação bancária/Rendimento do agregado familiar) já não será a mesma de 2015, sofrerá um aumento em 2016, em detrimento do aumento da taxa básica de juro. Se não ocorrer algum acréscimo no meu rendimento familiar, poderá gerar custos de empréstimos elevados para as famílias endividadas e consequentemente aumento de incumprimentos. 

 

Entre os créditos concedidos às famílias e às empresas, no actual contexto, qual regista maior risco de incumprimento?

Isto está muito dependente do peso destes dois agregados na carteira de crédito de cada Banco, bem como do negócio do Banco se é corporate ou se é Banca de retalho. A baixa dos preços do petróleo forçou o Estado a reduzir consideravelmente os projectos de investimento público, que se repercutiram no licenciamento de muita mão- de – obra, para além dos atrasos nos pagamentos de serviços prestados pelas empresas, gerando actualmente incumprimentos nos pagamentos de dívidas aos Bancos, pelos mais diversos sectores da economia. 

Os cortes de despesas das empresas de petróleo e do Estado aumentaram o incumprimento entre os agregados familiares visto que grande parte da força de trabalho é empregada pelo Estado ou pelo sector do petróleo. À medida que o kwanza se desvaloriza, alguns mutuários têm tido também dificuldades em assegurar o serviço da dívida em dólares, sobretudo aqueles que não têm receitas nesta moeda, originando também incumprimentos. 

 

Na prática como funciona o envio de informação dos bancos comerciais a Central de Informação e Risco de Crédito (CIRC), tendo em conta os diferentes níveis de classificação de risco?

A Central de Informação e Risco de Crédito (CIRC) do Banco Nacional de Angola (BNA), actualmente abrange empresas e particulares permitindo que cada instituição financeira afira o risco individual de cada cliente para obtenção de crédito, tendo por base a avaliação e respectivo histórico de cumprimento e incumprimento. Com esta informação pretende-se reduzir a exposição ao risco de crédito do sistema financeiro e ainda, facilitar o acesso ao crédito a clientes que apresentem um nível de risco reduzido, tornando-o ágil e encurtando os tempos de aprovação dos pedidos. Por outro lado, a informação disponibilizada pela CIRC terá reflexos sobre a evolução do crédito malparado e a constituição de provisões, uma vez que facilita a fixação, pelas instituições financeiras, do nível de risco dos clientes e permite aferir melhor a qualidade do crédito.

 

Tendo em conta o conhecimento que tem do mercado considera que CIRC já tem dado os resultados esperados? 

O CIRC apenas reporta a informação que é carregada na plataforma pelas instituições financeiras. Tem permitido aferir com alguma qualidade o nível de exposição e responsabilidades de uma determinada entidade no sistema financeiro e minimizando os riscos inerentes a concessão de crédito. 

 

Durante muitos anos dizia-se que os clientes/credores angolanos encaravam o crédito cedido como oferta. Como avalia este cenário actualmente? 

Hoje em dia existe maior literacia financeira. O cliente angolano actualmente está cada vez mais e melhor informado sobre os produtos financeiros existentes, sendo de encorajar este procedimento de modos a saber gerir a sua carteira de responsabilidades para também melhor consumir. Já existiu maior permeabilidade na concessão garantias reais, em detrimento das garantias pessoais. 

 

Entre os grandes e os pequenos credores quais são os que exigem mais esforços dos bancos para honrar com o pagamento dos créditos?

São realidades distintas e as Instituições Financeiras usam modelos e critérios diferenciados para cada tipo de cliente. As empresas com menor dimensão em situação de recessão são as primeiras a falharem com os seus compromissos, porque estão mais vulneráveis. Para as grandes empresas o que constatamos são cada vez mais, os pedidos de reestruturações dos créditos, tendo em conta o contexto actual. Os particulares em função do seu peso representativo em cada carteira, poderão também exigir algum esforço e são analisados também com critérios diferenciados. Não faz sentido o Banco tratar um financiamento de 5 milhões de kwanzas, da mesma forma que trata um financiamento de 50 milhões de kwanzas.

 

Perante vários mecanismos jurídicos e procedimentos que regem o sector financeiro bancário, como avalia o grau de responsabilidade dos gestores bancários face às crises bancárias derivadas essencialmente do incumprimento dos créditos? 

É necessário que as instituições apostem na formação contínua e dirigida dos seus colaboradores, porque é disto que depende o sucesso ou insucesso da instituição. A responsabilidade é de todos os intervenientes no processo de decisão para concessão do crédito. No ano em curso, temos uma nova dinâmica, materializada na formação dirigida pelo BNA, via e-learning com varias abordagens, desde a ética e dever de segredo até a capacitação das Instituições Financeiras. Verifica-se um grande interesse do regulador em corrigir pequenas fragilidades e rotinas pouco elegantes vivenciadas no sector bancário, e induzindo o começo para se instituírem as boas práticas, necessárias ao funcionamento adequado do nosso sistema financeiro.

 

Mas casos de falência dos bancos Lehman Brothers, Barings Bank e ainda Laiki Bank são exemplos mundiais do risco bancário. Concorda que a falência de um banco se deve, essencialmente, a falha da equipa de gestão de risco?

A instituição deve ser vista como um todo, e existem órgãos decisivos, nas tomadas de decisões. A equipa de gestão de risco dá o seu parecer, emite recomendações, mas não decide. E as falhas de um modo geral ocorrem quando há incumprimento nos controlos internos existentes ou inexistência de controlos internos.

 

Segundo a última edição do relatório Banca em Análise da Deloitte, o crédito líquido a clientes do sector bancário foi de 2.930 mil milhões de Kwanzas em 2014 e o peso do crédito sobre clientes na estrutura global de activos dos bancos nacionais foi de 41% em 2014. Que análise faz destes números? 

Os bancos angolanos continuam a ser muito cautelosos na concessão do crédito ao sector privado e a manter cerca de metade dos seus activos internos no Banco Nacional de Angola (BNA) ou em títulos públicos, e em períodos de recessão os bancos são levados a restringir as suas linhas de créditos pois o risco de perda por inadimplência é maior e esta restrição pode vir a retardar a fase de retomada do crescimento económico.

 

Segundo ainda o mesmo estudo, o rácio de crédito vencido é de 14,5%, tendo registando um aumento quando comparado com o valor do período anterior de 11,2%. É um rácio que provoca alguma preocupação?

É um rácio que tem vindo a crescer, contudo existe uma pressão do regulador no reforço das provisões, e é necessário uma análise rigorosa para este tipo de informação, de modos a evitar que as instituições venham a suportar mais custos para o crédito mal parado.

 

Por que razão os bancos não incorporam simultaneamente especialistas agrónomos e financeiros nas suas estruturas de crédito à agricultura, prevalecendo mais a segunda opção? 

Os Bancos em Angola têm características específicas e exigem considerações próprias. Os bancos que não são possuem uma equipa especializa no sector agro-pecuário, contratam consultores externos, independentes, que são pagos pelo mutuário, que emite um relatório que é crucial no processo decisão para a concessão do crédito.

 

Que sentimento será mais frustrante para o departamento de risco perante a falência do Banco: "Nós alertamos para este risco" ou "Como podemos não ter previsto este risco"?

A gestão do risco está normalmente associada a uma unidade dentro da organização com reporte direto à administração, tornando esta responsabilidade e tarefa uma função da própria administração. Em casos de falências na primeira hipótese, será responsabilidade directa dos órgãos de decisão por terem aprovado operações com recomendações negativas pela área de risco, sendo que a decisão de acatar ou não as recomendações, depende exclusivamente da comissão executiva, representadas por administradores nomeados pelos seus accionistas. 

A gestão de riscos é um processo de melhoria contínua, os sistemas e os processos muitas vezes não contemplam todos os riscos inerentes a actividade. Os bancos que gerem melhor os seus riscos têm uma vantagem competitiva, que lhes permite incorrer em riscos conscientemente e antecipar mudanças que tenham um impacto adverso na sua atividade. 

 

Podemos considerar o caso BESA/BES um  típico exemplo de falência por risco de crédito?

De acordo com comunicado do Banco Nacional de Angola, houve uma degradação da carteira de crédito do Banco BESA que afetou os níveis de liquidez e de solvabilidade da instituição, de modos que podemos depreender que houve falhas nos métodos de avaliação do risco de crédito.

É um caso que remete-nos para que sejam tomadas medidas de consolidação, reformas regulatórias que ameacem a integridade, o equilíbrio do sistema financeiro angolano, com o objectivo de transmitirmos a confiança de que as instituições possuem sustentabilidade para sobreviver a futuras crises. 

Considera um risco as lideranças prolongadas em instituições bancárias?

Toda mudança deve ter em consideração os riscos envolvidos. Se esta liderança, difundir as “melhores práticas”, estiver altamente comprometida com o código de ética e governação, não considero que seja um risco liderar pelo tempo que os órgãos decisores acharem necessário. 

 

O facto de a economia angolana ser excessivamente dependente do petróleo representa um risco de mercado. Que outras situações destacaria na avaliação do risco mercado angolano? 

Uma economia altamente dependente de uma única commodity, deve ser urgentemente reconfigurada, pois está em causa a vulnerabilidade e capacidade de resposta, face a volatilidade desta matéria-prima. É visível o choque que o petróleo tem originado no nosso País, impulsionando à decisões internas cautelosas na política monetária, fiscal e orçamental,  afetando directamente as variáveis macroeconómicas, nomeadamente desvalorização da moeda, aumentos dos preços dos produtos por via da dependência das importações, consequência da não especialização em outros sectores, aumento das taxas de juro de referência, dificuldades de pagamentos ao exterior, reformas fiscais, cortes nas despesas, desaceleração do investimento, desemprego, entre outros efeitos. 

Temos uma outra perspectiva, que são as decisões das políticas monetárias dos Estados Unidos pelo FED, cuja subida das taxas de juro prejudica os mercados emergentes, em particular o nosso, desvalorizando mais a nossa moeda, exigindo mais alterações, com cortes nas despesas e subida das taxas de juro para travar a queda das divisas. Por outro lado, sempre que ocorre uma alteração a nível do FED, os Bancos Europeus também são afectados com taxas de juro negativas, que impactam directamente sobre as nossas reservas nestes Bancos. É este um dos efeitos da globalização, que muitas vezes envolve um risco sistémico.