Luanda  - Em tempos difíceis e de constantes apelos do Executivo para iniciativas que visam contribuir para a diversificação da economia, há que destacar a visão estratégica de cidadãos que fazem do empresariado um exemplo de sucesso.

Fonte: RNA

ENTREVISTA COM AGOSTINHO KAPAIA, PRESIDENTE DO GRUPO OPAIA

E, diga-se, nesse aspecto, a figura do jovem empresário Agostinho Kapaia serve de provas inequívocas de que se pode ter êxitos investindo seriamente em negócios.

Depois de ter criado em 2002 o Grupo Opaia, Agostinho Kapaia deu um passo importante no mundo dos negócios.

O mentor do mega-projecto empresarial espelha, em entrevista, ser um homem extremamente ambicioso.

Mostra-se confiante em relação ao futuro, pois acredita que o "céu é o limite" na busca incessante pela concretização de objectivos. Aborda a questão da internacionalização das empresas do Grupo Opaia com satisfação, ao mesmo tempo em que defende a união das empresas em comunidade, como modelo de elevação e prestígio da marca "Made in Angola". Atente, pois, caro leitor, à conversa.

Como está o grupo Opaia neste momento?
Muito obrigado pela oportunidade que me concede, para falar sobre o grupo Opaia. Para dizer que o grupo está muito sólido, tivemos nos anos de 2015-2016 a oportunidade de fazermos algumas restruturações em função daquilo que vivemos no mundo, e, também em particular em Angola, que tem a ver com tudo aquilo que do ponto de vista económico o mundo atravessa, razão pela qual acreditamos nas medidas que o próprio Executivo tomou, para fazer frente à crise económica.

Enquanto empresários também tivemos a mesma racionalização, o mesmo pensamento, na medida em que tivemos que fazer uma série de restruturações, para que o nosso grupo pudesse ficar mais sólido e com mais coesão.

Em que consistiu esta restruturação?
Esta restruturação passou, essencialmente, pela racionalização dos recursos em tempos de crise e choque económico. Tivemos também que pensar em maximizar aquilo que foram os próprios recursos; tomamos decisões estratégicas muito focadas também na redução de custos operacionais; na dinamização de um capacidade de controlo interno muito importante, para que as nossas empresas internamente pudessem ser eficientes. Isso para dizer que tirando a questão de controlo do próprio grupo, também foi um ano em que tivemos a necessidade de reinventarmos do ponto de vista de oportunidades.

Ainda assim considera ter sido um ano positivo?
Posso dizer que foi o ano em que conseguimos encontrar novas oportunidades e conseguimos descobrir que há de facto outros caminhos e não apenas aqueles que nós podíamos seguir e, de facto, foi um ano positivo. Estamos mais coesos, mais unidos e sólido e é isso que nós acreditamos e vamos continuar a fazer.

Neste momento, em Angola, o que é que o Grupo Opaia desenvolve?
O nosso grupo tem várias empresas: temos o sector da construção, onde continuamos a desenvolver vários projectos, temos outros projectos no sector das águas, energia, continuamos a fazer escolas e hospitais, cujos projectos temos conseguido executar fruto de algumas linhas de crédito concedido pelo Executivo angolano.

Temos empresas ligadas ao sector das tecnologias de informação, trabalhámos nomeadamente com o sector da banca e das telecomunicações e temos, também, empresas ligadas a hotelaria e turismo.

Os projectos continuam a aumentar...
Continuamos a fazer investimentos. Temos, de facto, hoje uma área do sector petrolífero ligada aos serviços, que também está muito sólida e continuamos a fazer outros investimentos, sobretudo naquilo que de facto tem sido um apelo do Executivo angolano, que é a aposta na diversificação da economia. Nesta vertente, decidimos fazer investimentos na agricultura, que é a área em que temos vindo a apostar.

Temos dedicado muito esforço e muito do nosso tempo, para podermos dar a nossa contribuição para aquilo que, de facto, representa a preocupação do nosso Executivo. Também encaramos isso como uma grande oportunidade para podermos nos impor e darmos o nosso contributo aos país.

Que balanço faz em termos de compromissos traçados?
O balanço é positivo, na medida em que conseguimos atingir os nossos objectivos. Tudo aquilo que estava preconizado foi realizado. O resultado de 2016 teve muito a ver com aquilo que fizemos em 2015. Ou seja, o ano de 2015 foi o ano em que tivemos que fazer muitos cortes naquilo que eram acções que não estavam a dar rendimento e apostar naquelas áreas que eram mais rentáveis.

E os resultados de 2015 surgiram em 2016, porque mesmo neste mês que está a terminar, estamos a fazer o encerramento do balanço das empresas, que naturalmente poderemos divulgar e já tivemos relatórios positivos do ponto de vista de rentabilidade.

Está satisfeito com os níveis de facturaçao das empresas afectas ao Grupo?
Algumas empresas tiveram um volume de facturação menor, mas a rentabilidade é positiva e, quer dizer, que nem sempre que a facturação é alta as empresas são rentáveis. Para dizer que de uma maneira geral, as várias empresas do grupo tiveram resultados positivos, num momento particularmente difícil.

Isso tudo passa, essencialmente, pela estratégia que tivemos no princípio do ano, na redução de custos operacionais e, naturalmente, no aumento de procura de mais oportunidades de negócios.

Quais foram os sectores que o Grupo Opaia privilegiou para o seu investimento durante o ano prestes a encerrar?
Como disse, em 2016, tivemos a área do sector agrícola foi dos quais mais investimos. Ou seja, particularmente temos três grandes empresas multinacionais que estão a trabalhar com o grupo no sentido de podermos encontrar capacidade e tecnologia para produzir e para encontrar mecanismos que nos possam ajudar a desenvolver os sectores da agricultura e indústria.

A agricultura é das áreas de investimento em que mais apostamos, mas é evidente que os resultados não serão vistos no curto prazo, pois como sabe o sector da agricultura leva algum tempo para se obter resultados, mas podemos sentir o que está sendo feito em termos de investimento nessa área.

Para dizer que para além desta vertente de produção agrícola, também apostamos muito na formação de quadros, porque acreditamos que são estas pessoas que poderão naturalmente dar seguimento a todo o investimento que está a ser feito hoje.

Que províncias pensam direccionar o vosso raio de acção em 2017?
Nós já estamos em várias províncias. O nosso grupo teve a sorte e oportunidade de ganhar vários projectos no âmbito do programa de investimento público dos últimos quatro anos. Estou a falar especificamente do período 2012-2013/2014-2015. O nosso grupo é das empresas com maior volume de negócios que é a Opaia Construções, que teve a oportunidade de fazer várias estradas em todo o país.

Montamos centenas de escolas, desde o Moxico, Cuando Cubango, Huila, Bié, tivemos a oportunidade de construir hospitais e continuamos a fazer mais hospitais. Em Malanje estamos a terminar o Instituto Amílcar Cabaral e temos no Luquembe projectos ligados a sistemas de água. Fizemos 29 aldeias de sistemas de água no Moxico, no Cunene, Curoca, Huambo, Bié, Cuanza Norte, estamos a linha de distribuição também no Cuanza Norte de escolas, portanto ao nível de Luanda estamos a desenvolver também vários projectos no âmbito do investimentos públicos.

Os projectos da Opaia visam também as acções sociais junto das comunidades. Certo?
Tivemos projectos que fomos desenvolvendo e estamos a desenvolver no âmbito também de construção de escolas e hospitais, em várias outras províncias. Para dizer que no âmbito de outros programas de sistemas de abastecimento de água, o nosso projecto envolve nove municípios a nível do país.

Estamos em dez províncias com sistemas de água. Temos estaleiros em dez províncias, estamos a falar de um movimento diário de muita gente nestas províncias todas. São projectos estratégicos que estão a ser executados de abastecimento de água. Vamos arrancar agora com o projecto do Huambo.

Quais são os objectivos com a implementação destes projectos?
Tudo isso permitiu que o grupo durante estes anos tivesse um contacto permanente com as administrações municipais, com as comunas, com os sobas, com as populações. Fizemos acções sociais também, e estamos numa relação diária e permanente com as comunidades, nestas comunas e nestes municípios por conhecermos bem Angola de Cabinda ao Cunene, porque estes todos projectos tem-nos permitido lidar com a comunidade, com as pessoas e com os administradores municipais.

Já estamos nestas zonas e provinciais e é o que estamos a fazer hoje em função do que possuímos e, sobretudo o investimento que fizemos ao nível de estaleiros nestas províncias estamos a utilizar esta capacidade de equipamentos para desenvolvermos a agricultura nestas regiões, para desenvolvermos o agro-negócio e inclusive também pequenas indústrias para, digamos, de uma maneira geral, lidarmos com estas populações e desenvolvermos negócios para ajudar estas comunidades.

Qual é o apoio social que o grupo presta nas comunidades onde tem investimentos?
Desenvolvemos muitos projectos com as comunidades. Apoiamos desde o fornecimento de equipamentos agrícolas a algumas comunidades e sobas e unicpuiosa, apostamos também na formação de alguns jovens, fizemos uma corporação de pessoas da comunidade destes municípios, nos nossos projectos.

Esta é uma das áreas em que estamos muito focados. Formamos estas pessoas, demos oportunidades, para que possam desenvolver a actividade. Por outro lado, há o aspecto ligado ao apoio no sector da saúde e educação e muitas vezes aproveitamos a posição de estarmos a desenvolver um determinado projecto para realibilitarmos um hospital ou equipamento social. Já fizemos muitas doações de equipamentos solar nos municípios, aos sobas e jangos dos sobas, colocamos equipamentos solar com televisão, de forma a permitirmos a inclusão social destas comunidades também.

Esta intervenção estendeu-se a mais províncias...
Estamos no Zaire, Cabinda, Huambo, Cunene e temos um relatório deste trabalho social que fazemos. Foi muito desafiante e tivemos a oportunidade de aprender muito com as pessoas também nestas comunidades e no próximo ano vamos fazer algo diferente, que não vou anunciar ainda, pois temos um projecto muito interessante ligado às comunidades, de apoio às comunidades, que terão a oportunidade depois de conhecer o projecto.

Estamos a desenvolver o projecto com o conhecimento de alguns sobas e estamos a pensar lançar este projecto em Fevereiro de 2017.

Em que vai consistir este projecto?
É um projecto que nós acreditamos terá maior sustentabilidade, porque durante estes anos todos fizemos várias acções, mas nós muitas das vezes deixamos as responsabilidades para as comunidades, mas depois voltamos e encontramos os mesmos apoios que deixamos de forma sustentada.

Portanto, as pessoas deram seguimento ao projecto, então, estamos a pensar em apoiar as pessoas de uma forma que teremos equipas permanentes a fazerem o acompanhamento de forma a que os resultados possam ser mais positivos em relação ao que já fizemos durante este ano. Portanto, vamos poder lançar este projecto sem sombra de dúvidas em Fevereiro.

Como está o Grupo Opaia em termos de investimento no exterior do país?
Desde a alguns anos que o grupo tem apostado na intenacionalização do projecto e razão pela qual temos vindo a trabalhar a partir também de Portugal. Temos um escritório em Portugal, porque é a porta para Europa e para formar também os nossos quadros angolanos.

Temos, inclusive, um todo o apoio ligado ao suporte de gestão em algumas áreas e temos uma relação com o Dubai e com a China muito boa, mas também investimentos no Brasil e uma Bussines School, através da Universidade da Nova Lisboa, em São Paulo. Temos investimentos imobiliários em São Paulo e estamos a fazer outros investimentos em outros países, razão pela qual acreditamos que os investimentos serão fundamentais para podermos ganhar conhecimentos, mas sobretudo para podermos buscar parceiros em pessoas que já dominam.

Esperam adquirir mais parceiros nos próximos tempos?
Nós acreditamos que a roda já está inventada e não vale a pena inventarmos aquilo que já existe. A nossa estratégia será encontrar os melhores parceiros e aqueles que nos podem ajudar.

Temos parceiros com mais de 100 anos experiência em vários sectores e então temos de ter a humildade de perceber que o mundo de negócios é uma concorrência permanente, pelo que, precisamos estar sempre na linha-da-frente e aperfeiçoar sempre os nossos mecanismos de relacionamento, gestão e de controlo. Às vezes não vale a pena tentar inventar, porque há grupos e multinacionais que já o fazem com a melhor qualidade e perfeição .

Estas pessoas têm gabinetes onde estão permanentemente a pensar e a inovar, e a fazer investigação, para sermos os melhores do mundo e nós achamos que é a maneira mais lógica de ganharmos experiência, trabalhando com aqueles que já sabem.

A principal aposta do grupo em 2017 será a captação de parceiros?
O importante é continuarmos a fazê-lo. Estamos na Europa, nos Estados Unidos, no Brasil e no Dubai, enfim, tudo com objectivo claro de melhorar a nossa forma de estar e de gerir em busca dos melhores parceiros que possam ser fundamentais na captação de investimentos para o nosso país.

Portanto, temos a responsabilidade de captarmos investimento para o nossos país, porque angola continua a ser um país de grande apetência internacional. Há muitos parceiros internacionais que falam com o nosso grupo e ligam para nós a manifestarem desejo de entrar em Angola.

Temos de aproveitar esta oportunidade para trabalhar e ajudar o nosso Executivo, para que de facto a nossa participação e desempenho e contribuição possa ser uma mais-valia para podermos melhorar a nossa produção, aumentar a nossa capacidade interna e de produzir maior oferta no mercado internacional e, naturalmente, também para as nossas exportações.

Qual é o papel do Grupo junto da CEEIA?
Na verdade, em função de toda esta nossa estratégia de internacionalização e também de apoio às exportações, o Grupo Opaia foi eleito para presidir esta Comunidade das Empresas Exportadoras e Internacionalizadas de Angola.

Portanto, já estamos há três anos e a CEEIA representa esta comunidade com apenas três anos, mas é de facto um bebé com muita força, muita garra e temos a certeza de que nos últimos três anos a CEEIA foi determinante, porque tivemos a oportunidade de discutir com o Executivo angolano aquilo que tem sido os constrangimentos do processo de exportação. Colocamos várias vezes e tivemos abertura suficiente e apoio do executivo angolano para melhorar todo este processo para as exportações.

Como tem sido esta liderança?
O Grupo Opaia está, de facto, a presidir esta comunidade que tem hoje 30 membros ligados a exportações, temos quatro bancos também ligado ao processo de exportação, nomeadamente o BAI, Caixa Tota, Banco Sol, Atlântico, BIC e são bancos que fazem parte da nossa comunidade e que têm um papel muito importante também, de levar o nome de Angola além fronteiras e, isso tem sido uma realidade.

Temos vindo a criar este espírito entre as empresas de partilha de informação e de conhecimento, de oportunidade de negócios. Estamos a aprender a trabalhar em comunidade. É isso que os grandes países desenvolvem e há grandes empresas no mundo que deram avanços muito grande no processo de internacionalização, porque estão sempre a trabalhar em comunidade.

Acha que esta deve ser a principal estratégia das empresas em Angola?
Se olharmos hoje para o mundo, vimos que a China trabalha em comunidade e são os grandes grupos que trabalham juntos na Europa, no Brasil, nos Estados Unidos. Precisamos de trabalhar sempre com espírito de partilha de informações.

Tenho dito sempre que uma multinacional como a Sonangol ou um Banco BAI, que está em Cabo Verde e podemos ter dentro do banco a água pura que é angolana e podemos desenvolver que as nossas empresas internacionalizadas, como a Sonangol que está em Londres, Singapura, pode ter água angolana, café Ginga, as nossa embaixadas a nível internacional ao invés de servirem água, café e bebidas dos países em que actuam, podem obviamente distribuir as marcas de Angola.

É um grande processo que temos vindo a desenvolver para que, de facto, o nome de Angola possa cada vez mais ser ouvido além fronteiras, com maior intensidade e força, mas tudo passa essencialmente por discutirmos qual será a melhor forma de o fazermos.

O objectivo é promover Angola e as suas marcas...
Com certeza. Mas, achamos que só com união e de forma coesa e programada, discutindo os processos ligados aos incentivos e as formas que as empresas podem fazer, chegámos aos objectivos.

Aqui há um trabalho muito importante de defesa da nossa marca, da nossa soberania e dos nossos serviços, que temos de fazer em conjunto. Acho que esta é a forma mais eficiente de podermos ter sucesso, porque sozinhos não vamos a lado nenhum. Se cada empresa trabalhar sozinho no processo de internacionalização, terá maiores dificuldades de o fazer. Portanto, esta é a forma que nos comprometemos ao longo do grupo, para liderarmos a CEEIA.

Estamos a fazer o melhor, tivemos muitos proveitos durante o ano de 2016, pois criámos estas sinergias, casámos com aquilo que é, de facto, a estratégia do alinhamento do Executivo angolano, para podermos levar a marca "Made in Angola" além fronteiras.