Pretoria - Não há na política conteporânea guineense uma figura com um percurso controverso indêntico ao de Baciro Dabó, o antigo chefe dos Servicos de Inteligência do regime de Nino Vieira, que agora se apresenta como candidato independente às eleições presidenciais de 26 de Junho na Guine Bissau. Era em 1975/76 um ladrão de cabras até ser detido pela policia. Aparentemente reabitilado apareceu, mais tarde, transformado em policia. Ascendeu ao “rank” de Major.
Está em estudo, em meios habilitados, uma pesquisa destinada a averiguar a proveniência dos fundos que Baciro Dabó está a usar para a suportar a sua campanha eleitoral. Ele foi o primeiro a iniciar com a pré-campanha. De todos os candidatos é o que mais gastos está a fazer. Têm surgido grupos de apoiantes expressando manifestações de apoio à sua candidatura. Em círculos atentos não estão a ser tomadas como espontânea esta onda de apoio atendendo ao antecedente ou habilidade que lhe é caracterisco em seduzir monetariamente as pessoas. Foi visto, há poucas semanas, a distribuir dinheiro em Lenox, o bairro de ajuda em Bissau.
Nos “altos e baixo” da sua vida é aplicado a Baciro um famoso provérbio guieense segundo o qual "o poder é algo muito ingrato, porque é fluido como óleo que finamente sai das mãos de quem o possui" que na versão original lê-se “diskunfiado i gato ki limbi nata. sol di kuaresma kumsa kumsa nan, toki i ta firma tchaau riba di bo kabeça.” A razão da aplicação do provérbio deve-se ao facto de Baciro ser uma figura excêntrica que gosta exibir poder (a festa do seu casamento, no ano passado, durou uma semana e foram abatidos muitos bois).
Embora tenha recentemente se demitido do cargo de ministro da Adminitração territorial para se dedicar à sua campanha, a apreciação que se faz a cerca da sua candidatura está voltada para a hipotese de o mesmo pretender medir o seu valor eleitoral para mais tarde fazer troca com o candidato que melhor vantagem eleitoral apresentar. De acordo com, as hipoteses baseadas no seu carácter, Baciro poderá em momento certo, cancelar a sua candidatura para apoiar aquele que no futuro Governo lhe garantir alguma vantagem governamental. É admitido que o Presidente que sair vencedor poderá certamente demitir o Governo de Carlos Gomes Júnior. Ao concretizar-se, o Major Baciro Dabó terá uma posição no Governo que sair das eleições. Esta hipotese é reforcada pelo facto de esta semana ter mandado recados advertindo para que não mexessem nos funcionários nomeados por si, na Administração Territorial.
O Major Baciro Dabó que em Outubro próximo completa 49 anos é também em algumas ocasiões apresentado como homem de várias profissoes. É politico, jornalista (estagiou na estação de rádio portuguesa TSF) e músico (seus últimos espectáculos foram marcados com a distribuição de dinheiro). Tem um CD/ álbum, denominado “Terra Ranca”. Aprecia que o tratem artisticamente por “Bass Dabó - o Major do povo”. Das várias facetas da sua vida destaca-se mais o percurso de operativo de inteligência. Ha quem o atribui uma passagem pela Europa do Leste para formação em Inteligência. De regresso passou a servir o Presidente Nino Vieira como peça-chave da segurança do Estado guineense. Na prática, as operações que constam no seu “profile” distanciam-se da “real intelligence action”. Esta mais relacionada à repressão razão pela qual era bastante temido pelos seus adversários. Chegou admitir publicamente que ja executou pessoas em legítima defesa.
Quando em 1998 um grupo de oficiais militares encabeçados pelo Brigadeiro Ansumane Mané derrubou do poder, o Presidente Nino Vieira, o Major Baciro Dabó foi responsabilizado pelos golpistas como executor das repressões desencadeadas pelo regime. A 7 de Maio daquele ano, um grupo de cinco militares fortemente armados o teriam arrastado pelas ruas. Baciro estava trajado de uma camisa semi-aberta, calcava chinelas que denunciava ter sido tirado de casa à força. Ficou encarcerado por alguns meses até ter sido recuperado por Kumba Yalá que dele fez seu conselheiro da segurança. Baciro tem a fama de ser cobiçaado por todos os presidentes guineenses. Sobreviveu politicamente em vários governos como alto responsavel da segurança de Estado.
É também conhecido pela habilidade de fazer intrigas. Em 2003, três meses após a queda de Kumba Yalá do poder, Baciro procurou vender a sua lealdade ao “Comité Militar” dos golpistas liderado pelo General Verissimo Correia Seabra. Certo dia, Baciro Dabo recebeu em sua casa, um ex-subordinado seu, Pefna Djata que pretendia fazer um “breafing” de carácter privado relacionado a algumas previsões. O agente Pefna Djata que é sobrinho do deposto presidente Kumba Yala revelava-se desapontado com a destituição do tio. Nos seus desabafos, disse a Baciro que o General Verissimo Seabra estava a cometer os mesmos erros na qual se apoiou para derrubar Kumba Yala. Pefna Djata confidenciou a Baciro Dabó sobre a compra de mansões que os generais, Verissimo Seabra, Emílio Costa e Bitchofula na Fafé estariam a fazer em favor das suas amantes, não obstante a arrecadações financeiras ilegais provenientes das alfandegas de Bissau destinadas ao Comité Militar.
Nas apreciações, de Pefna Djata, o General Verissimo Seabra estava a incorrer a um erro que poderia induzir o Estado Maior das Forças Armadas a pegar em fogo contra si, à semelhanca do Brigadeiro Amsumane Mané. Baciro Dabó gravou toda conversa e fez chegar ao “Comité Militar” provocando instabilidade nas chefias militares. Passado um ano, o General Veríssimo Correa Seabra seria assassinado, em razão de descontentamento, no seio de militares que reivindicavam atraso no pagamento de salarios.
Baciro Dabó goza de pouco aceitação no seios dos militares.Demarcam-se dele diferenciando-o como “Major da Policia”, uma forma de alertar que a sua patente não vem das fileiras militares. O ponto sublime do sentimento que nutrem contra si, foi observado num episódio de mau estar envolvendo o falecido general Tagme Na Waie. Ao tempo Baciro desempenhava, as funções de conselheiro para os assuntos da segurança do Presidente Nino Vieira. O General Tagme Na Waie esforçou o seu afastamento da Presidência, dando 24 horas a Nino para que o demitisse.
Em paralelo à demisão Tagme colocou em casa de Nino um oficial fiel a si, o Major Zé Preto, para chefiar o Batalhão da Guarda Presidencial. Zé Preto, ja falecido, foi orientando por Tagme para não permitir a entrada de Baciro nas instalações da Presidência da República. Baciro Dabó fazia insinuações segundo a qual o grupo do General Tagme eram “barões da droga e lacaios dos colombianos”.
No seio da classe intelectual, o Major Baciro Dabó é também pouco desejado. Há ainda quem apontem as suas operações “grosseiras” dos tempos da segurança. À época ministro da Adminitração Interna conduziu a 31 de Maio de 2007 uma reunião “conspiradora” na qual aventou que Fernando Casimiro “Didinho”, um reconhecido activista civico-político guineense radicado em Portugal e crítico do regime de Nino Vieira, era “um alvo fácil a abater”. Baciro viu as intenções abortadas ao ser traído pelo “bom senso” de um dos seus colaboradores que teria vazado para fora as suas intenções.
A seguir a este episodio, Baciro voltou a ter um novo incidente. Desta vez envolvendo o correspondente da Reuters em Bissau, Albert Dabó. O governante convocou o jornalista no seu gabinete para interrogatórios. Em causa estava uma notícia mal interpretada por Baciro consubstanciada numa declaração feita pelo presidente da Liga dos Direitos Humanos guineense, que denunciava altas patentes das forças armadas da Guiné-Bissau de estarem envolvidas no tráfico de droga. A RDP/África teria citado mal a notícia feita pelo correspondente, o que deu origem ao incidente.
Nos últimos anos submeteu-se num nível baixo ao envolver-se em trocas de acusações públicas com alguns dirigentes políticos. Em finais de 2007 acusou o seu sucessor da Administração Interna, Certório Biote, de querer assassiná-lo em "conluio" com alta patente do Exército. Teve conflitos públicos com Francisco Fadul. Teve divergencias com o PM Carlos Gomes Júnior. Entenderam-se e mais tarde aderiu ao PAIGC de onde teria sido expulso no passado. Passou apelidar-se de Zidane da política guineense ou seja “Zidane Dabo” como se apresentou na campanha das eleições legislativas.
Quando Nino Vieira foi assassinado, o Major Baciro Dabó entrou em desespero metendo-se em fuga para um local desconhecido. Apareceu dias depois a denunciar que vários militares teriam ido à sua residência. Estavam foragidos cerca de 10 elementos todos eles militantes do “inner circle” do falecido Presidente. A sua fuga estava a ser assoaciada a receios de que também seria alvo de atentado.
Em finais de Abril do corrente ano, Baciro Dabó apareceu publicamente a dizer que iria candaditar-se à Presidência da República. Antecipou-se em responder que estava a dar resposta a manifestos de sectores da sociedade que o queriam ver a dirigir os destinos do país. O PAIGV escolheu Bacai Sanhá como seu candidato. Baciro passou apresentar-se como candidato independente. É o numero 1 nos botelins de voto.
* José Gama
Fonte: Club-k