Luanda – Encontrou o Cofre de Previdência da PN com três milhões de kwanzas e 400 mil dólares e hoje ascendem aos 75 mil milhões de Kz. Enumera vários projectos, sobretudo habitacionais, que dão outras condições sociais aos efectivos da corporação. Mas não está conformado. Luís Alexandre tem novos desafios para o seu último mandato.

Fonte: Revista Providência 
Tomou posse para o terceiro mandato à frente do Cofre de Previdência da Polícia Nacional (CPPN). O que ainda falta fazer à frente do organismo?
Vamos continuar a priorizar aquilo que mais toca na vida dos associados, que é o problema habitacional. Atacaremos igualmente o ramo da saúde, por forma a proporcionarmos um melhor serviço aos nossos associados. Aliás, enquanto associação ‘mutualista’ (dar e receber), que tem como finalidade garantir a reforma complementar dos associados, procuramos participar na elevação do nível social dos policiais. Está no bom caminho o lançamento do seguro de saúde. Continuaremos a trabalhar no sentido de garantir aos nossos associados alguns créditos pontuais, daí estarmos engajados no sentido de estruturarmos uma instituição de microcrédito; temos instalações já concluídas e estamos na fase de selecção de pessoal e de formação. Acredito que, dentro de mais quatro meses, teremos estas instituições todas a funcionar.

Se forem apenas estas as suas frentes, parece-nos que se trata da consolidação dos projectos que vêm de mandatos anteriores…
Apesar de os termos, não podemos pensar em projectos novos quando há projectos antigos para consolidar. Estamos preocupados com a logística doméstica dos nossos associados, daí termos montado um projecto que está no Camama, o ANGOCHI, onde esperamos dar resposta às condições de mobiliário dos polícias, como garantir-lhes geleiras, fogões e outros artigos de casa. Também estamos engajados em promover as férias interprovinciais, porque pensamos que, depois de meses de trabalho árduo e exigente, o polícia também deve desfrutar na companhia da família.

O ANGOCHI é um programa só para Luanda?
Começámos por Luanda e depois estenderemos às demais províncias. Mas temos dificuldades em alargar o programa, devido à actual crise financeira. Muitas das acções programadas poderão ter alguns constrangimentos em função da actual conjuntura financeira. Mas a intenção é levar os projectos a todo o país. Os projectos habitacionais, por exemplo, serão executados em todas as províncias. Temos terrenos conseguidos legalmente. Temos projectos concebidos para as restantes províncias que esperam apenas financiamento para arrancarem.

A parte habitacional apresenta-se como uma das principais apostas da instituição. Quantas casas o Cofre já construiu?
Cerca de mil casas construídas, a nível do país. Luanda, por ter maior concentração de pessoas, tem o maior número de casas. Temos projectos em Saurimo, que pararam face às dificuldades financeiras; construímos algumas casas em Benguela e temos condições para começar a construir em Malanje, Kwanza-Sul e Moxico. A meta é chegar a todas as províncias.

Falemos em termos de valores. Só em Luanda, quanto é que foi investido em projectos habitacionais?
Na capital do país, investimos mais de 100 milhões de dólares em projectos realizados e outros em curso. Estamos a falar da Vila Azul, um projecto que já contempla cerca de 800 casas. Neste momento, temos cerca de oito edifícios, dos mais de 50 que pretendemos construir aqui mesmo em Luanda. Temos ainda um projecto no Zango para a classe mais baixa, com mais de 200 casas. Há um outro projecto que vai começar no Zango 0, com mais de mil fogos.

Estes investimentos são para reembolsar ou rentabilizar?
A nossa perspectiva, em termos de casas, é mais para o reembolso. Agora, naturalmente, que poderá haver alguma possibilidade, ainda que mínima, de rentabilização. Mas a nossa filosofia é trabalhar mais na perspectiva de dar casas aos nossos associados e evitar que as comprem a preços exorbitantes.

O projecto imobiliário está aberto a cidadãos comuns?
Sim. Mas o nosso foco são os associados. Contudo, todos podem fazer a inscrição e concorrer. Esta medida é fruto de decisões tomadas a nível da Assembleia, que decidiu vender parte desses imóveis ao público, em geral. Obviamente, que há algum critério diferenciado entre associados e público, em geral. Quem vem de fora, naturalmente, paga um pouquinho mais.

Garantir uma reforma tranquila

Falou em dificuldades financeiras, que, aliás, são extensivas a outras instituições do país. Ainda assim, perspectiva bons resultados no programa de cedência de créditos, através de estruturas criadas com licenças do BNA?
Não temos muitas saídas. Vamos recorrer aos bancos para encontrarmos financiamento que atenda às necessidades dos nossos associados. Porque o bocado que é descontado ao associado para o Cofre não chega para a quantidade de projectos que temos.

Enquanto decorre esse processo junto de bancos, quais são as alternativas para responder aos pedidos de microcrédito?
Temos dado empréstimos internos aos associados. São empréstimos que não podemos continuar a dar porque a demanda é muito grande. Fomos forçados a pedir uma licença ao BNA.

Já agora, como tem sido o contributo dos associados para o Cofre?
Controlamos cerca de 115 mil associados, que voluntariamente se inscrevem para terem acesso aos nossos serviços. É o retorno do trabalho de ‘marketing’ que temos vindo a fazer e que resulta nesse interesse de as pessoas aderirem aos nossos serviços.

Como o associado participa na quota?
Os descontos são feitos nos salários via banco. O valor varia em função da idade. Por exemplo, para alguém com 20 anos, os descontos andam entre os 800 e os 900 kwanzas. Para ter acesso às nossas ofertas, o associado deve concorrer. A pessoa deve manifestar o interesse em beneficiar dos nossos produtos. Aliás, é isso que justifica os descontos que lhes são feitos mensalmente. Mas, no fundo, o nosso objectivo principal é o de garantir a reforma complementar dos associados. Sempre na perspectiva de motivar os nossos efectivos, criámos, este ano, o Prémio Azul, que visa reconhecer efectivos que se distinguem pela dedicação e empenho ao serviço do nosso sector. Serve também para a descoberta de cérebros policiais, sobretudo nas zonas mais recônditas do país.

Há membros que alegam nunca terem beneficiado do Cofre?
O nosso desejo é fornecer serviços a todos. É para isso que trabalhamos. Como disse, a demanda é enorme. Mas temos procurado dar tratamento igual a todos os associados. Contudo, repito, o benefício puramente dito para o nosso membro é no futuro alcançar uma reforma tranquila.

Revitalizado há dez anos, já há pessoas a beneficiar da reforma do Cofre?
Há sim, mas em número ainda reduzido. Estamos a falar em cento e poucos reformados beneficiários. Até porque a nossa polícia ainda é jovem.

“Encontrei três milhões de kwanzas e 400 mil dólares”

Muitos dos associados ouvidos mostram-se satisfeitos com a evolução dos trabalhos no Cofre. Como é que encontrou a instituição?
Estou no terceiro mandato. Em 2007, encontrámos o Cofre com muitas dificuldades, o que nos obrigou a um empenho significativo para melhorar a “vida” da instituição. Hoje, de facto, o nosso organismo tem o prestígio que todos lhe reconhecem. Inclusive, estamos a ser consultados por quase todos os ministérios.

Quer citar quais os ministérios?
Já montámos, por exemplo, o Cofre do Ministério da Educação e da Justiça e temos quase todos os ministérios a trabalhar connosco, no sentido de ajudarmos a montar estruturas idênticas. Temos defendido um novo modelo de previdência social, que é o de se adequar à realidade angolana; somos povos africanos e temos a nossa própria forma de ser e de estar. Privilegiamos o mutualismo, que é o descontar hoje e começar a beneficiar logo. Por isso, temos estes projectos todos, desde a casa, o crédito, seguro, creche, agência de viagem, onde a pessoa pode adquirir o bilhete e ir pagando a crédito.

Como está a saúde financeira do Cofre?
Ela não está mal, mas também não está muito boa, tendo em conta a crise financeira. Temos sabido direccionar as nossas aplicações em coisas que nos têm dado algum conforto.

Fale-nos de valores concretos?
Nos activos do Cofre, temos 75 mil milhões, 952 milhões, 228 mil e 138 kwanzas. Importa referir que, na altura em que entrámos para aqui, encontrámos três milhões de kwanzas e 400 mil dólares. Os números estão aí e falam por si.

Em 2014, ao Cofre foi atribuída a categoria de instituição de utilidade pública. Quanto recebem do OGE?
Infelizmente, ainda não começámos a beneficiar do orçamento estatal. Esperamos que isso se faça em breve.

“A nossa gestão é fiscalizada por instâncias superiores”

Apesar dos elogios, o senhor é alvo de algumas acusações. É ou não sócio maioritário do Grupo C (empresas que prestam serviços ao Cofre), com cerca de 46% das suas acções?
Não é verdade. Trata-se de um grupo empresarial que surgiu por iniciativa nossa, enquanto direcção do Cofre, porque sentimos que não iríamos conseguir continuar a atender à demanda dos nossos associados naquele figurino de departamentos internos. Então, vimos uma oportunidade de aliar o útil ao agradável e criámos o Grupo C, para que cada associado que tivesse um tipo específico de problema ou carência - desde empréstimo, carro, casa, viagem, doenças e outros - visse resolvidas as suas preocupações. O Grupo C é uma empresa independente. A única diferença é que, neste momento, o Cofre também participa (em 30%) nas suas acções. Achamos que é uma mais-valia, por isso, o reforço do seu capital está aberto a qualquer cidadão, seja polícia ou não.

As contas do Cofre são auditadas?
Temos auditoria interna e externa. A auditoria interna é permanente. As nossas contas são auditadas todos os anos pela consultora norte-americana Crowe HorwathInternational, de grande credibilidade a nível mundial. O problema é que há muita gente que não se vê feliz onde há trabalho. Aqui há trabalho e estas realizações estão a fazer confusão a muita gente.

Qual é a herança que espera deixar?
Quero ver o polícia mais dignificado, com esperança de uma vida melhor. Esforço-me no sentido de conseguir montar estas estruturas para depois da minha saída ver realizado o atendimento personalizado ao polícia e este ver parte dos seus problemas resolvidos. Agora, com mais precisão, estou a preparar um grupo que possa dar continuidade aos trabalhos que estamos a desenvolver. Estou a passar a minha modesta experiência e conhecimento a um grupo que espero vir a ser a base do Cofre, independentemente da direcção que vier a assumir os destinos da instituição.

PERFIL

De 54 anos, nascido em Cabinda, Luís Alexandre é comissário da Polícia Nacional e preside, há cerca de 10 anos, ao Cofre de Previdência da corporação. Entre as várias formações que possui, é licenciado em Economia pela Universidade Agostinho Neto (UAN), tem uma pós-graduação em Previdência Social pela Faculdade de Direito da UAN e é mestrando em governação e gestão pública pela Faculdade de Direito, além da especialidade que possui em fundos imobiliários. Foi durante 16 anos chefe do departamento nacional de informática do Comando Geral da PN.