Luanda - Na Quarta-Feira desta semana, o programa «Ecos e Factos» da TPA brindou-nos com um espectáculo insólito: Apesar da sua «fidelidade» à Bíblia – as palavras são da simpatica apresentadora – a Igreja Universal do Reino de Deus  promovia o uso da camisinha. Não só o fazia, como o seu «braço armado», quer dizer uma tal de ABC (Associação de Beneficiência Cristã) tinha organizado uma baita campanha de distribuição de preservativos. Com a habitual cobertura televisiva, está-se já a ver, que depois será certamente reproduzida por anúncios publicitários em todos os jornais que não os «mordem» muito. Na ressaca, uma atraente «bispa» ou «pastora» -- brasileira, está claro – dizia com todas as letras que «o sexo é uma coisa natural, o importante é que as relações sejam protegidas e se exija a(o) parceira(o) que antes faça o teste do o HIV».

 

FORNICAI-VOS UNS AOS OUTROS (COM CAMISINHA) COMO EU VOS...!

 

No círculo onde estava, levantaram-se imediatamente ondas: Uns diziam que isto não tinha nada a ver com a Bíblia; outros que aquele discurso nunca devia ser o de uma pessoa da igreja num país como Angola outros – mwangolés incorrigíveis – diziam brejeiros entre os muxôxos das senhoras presentes que não se importariam nada mesmo de «ir à senhora bispa» com camisinha ou sem, ela que até estava «bala» com umas «ráias à maneiras» e um corpinho de mulata de carnaval...

Defendi na altura e defendo agora que analisar a IURD sob um prisma religioso ou eclesiástico é partir de premissas erradas. Porque ela não é uma igreja, é uma empresa. Não evangeliza, faz negócio. E a sua estratégia não é de propagação da fé, mas de puro marketing comercial. Por isso age como age, e ingénuo é quem não percebeu isso ainda.

A IURD é uma empresa porque o seu objectivo principal é a geração do lucro. Por isso tem toda essa variedade de captação e retenção de dinheiro. A única diferença entre ela e uma empresa convencional é que em vez de vender batatas, laranjas, carros ou computadores... ela vende a dita Salvação. Faz negócio em vez de evangelizar porque, achando-se agente comercial de Jesus Cristo na Terra, estabelece os preços para as bênçãos do Salvador: X para teres marido ou mulher, Y para teres emprego, Z para seres promovido ou para sorte nos negócios e assim por diante. E a sua estratégia é de marketing e não de propagação da fé porque fiel aos princípios mais modernos desta t+ecnica de comunicação faz uma boa mistura dos famosos 4


Ps: O Produto, que são as várias artimanhas usadas para alcançar o acima (exorcismos, bênçãos, fogueiras, etc); O Preço, que é o que se paga para cada um dos «produtos» sem contar o dízimo; A Praça ou Local de Venda são naturalmente as igrejas que surgem como cogumelos, a partir de armazéns, garagens, residências, etc; e a Promoção/Publicidade é a que vemos nos jornais, na Despertar, na LAC, e agora na TPA e RNA em forma de matéria noticiosa. Repare-se que nestas peças publicitárias há um cuidado extremo de incluir figuras do MPLA ou do Governo numa tentativa de sub-reptíciamente passar a mensagem que ela domina os corredores e os detentores do Poder...

Por isso é que não deve surpreender que a IURD não tenha nenhuma da coerência que caracteriza as outras confissões religiosas, e para estar bem com o Governo mande às urtigas os princípios da Bíblia que diz ser a sua base de existência. As pessoas podem não concordar com as igrejas sérias quando desvalorizam o uso da camisinha na luta contra o SIDA, mas todos concordam que a abstinência e a fidelidade que elas defendem são as vias mais morais nessa luta. Como dizia o Cardeal-Arcebispo Emérito de Kampala, Vice Presidente da Comissão Nacional de Luta Contra o SIDA que venceu a doença no Uganda, «enquanto ainda não estás pronto física e psicológicamente para o sexo, espera que o teu tempo chegue; quando esse tempo chegar, escolhe uma parceira para a vida e sê-lhe fiel; mas se por acaso fores ou estúpido ou fraco demais então, por amor de Deus usa a camisinha!». Essa sim, reconhece-se a posição de um líder religioso coerente, assumida depois de uma análise de uma situação de catástrofe e fruto de uma negociação intensa e responsável entre patriotas, no caso ugandeses.

Dali surgiu o famoso triângulo ABC (Abstinência, Fidelidade e Camisinha, do inglês Abstinence, Be Faithful and Comdom) que hoje por hoje é a base universal da congregação de todas as forças vivas na luta contra o HIV. E nesse triângulo, às igrejas cabe o papel tradicional de promover os dois primeiros (por isso mesmo são os primeiros). O acordo de cavalheiros é que, nenhum dos parceiros ataque os outros apenas por não concordar com o que promovem, como fez Bento XVI a bordo do seu avião a caminho de África no mês passado.

Porque apesar da pandemia, todos concordamos que os pilares de qualquer sociedade repousam na fortitude que as famílias adquirem através da prática da abstinência e da fidelidade. E as igrejas são a reserva moral e a fonte de inspiração para que esses valores sejam praticados, até porque não são fáceis. Em linguagem terra a terra, a minha mulher estaria mais agradecida à IURD ou qualquer outra igreja se me ajudasse a abster-me do sexo quando em missão de serviço, que se me oferecesse uma camisinha sob a justificação «que o sexo é natural». A pandemia, se Deus quiser, vai passar. Mas os valores sobre os quais repousam as sociedades ficarão.

Mas isso é para quem é patriota e honesto na razão filosófica do seu ser e estar, o que a IURD definitivamente não é. O que preocupa é que as autoridades competentes não reparem que, depois de institucionalizarem as exportações massivas de dinheiro oriundo de verdadeiras extorções para o Edyr Macedo, agora estão a atacar as fundações da nossa sociedade.

 O que é triste é que os que municiam com o dinheiro do seu suor estes verdadeiros charlatães, não se dêm conta que estão a ser brutalmente enganados. O que é triste é que todos nós fazemos da IURD agora uma anedota à boa maneira mwangolè, mas enquanto isso eles vão se rindo de nós, roubando o nosso dinheiro, enviando-o às suas terras, e no processo destruindo a nossa Nação.

Alguém ainda quer «ir» à «bispa»? Com camisinha ou sem ela?
 
Fonte: SA