Brasil - Há duas semanas para cá que venho acompanhando o debate aberto e proposto pelo Semanário Angolense, e devemos reconhecer que é mais um êxito da imprensa livre angolana, privada e independente, fenômeno que só se consegue nas grandes democracias. Como a própria publicação diz, não se trata de estar a favor ou contra o Presidente da República, mas, sim, de incentivar às pessoas a pensar numa questão que pode definir a cultura de governação e os próprios destinos do país. E assim pôr travas naquilo que se transformou num vício para o êxito e a sobrevivência do cidadão angolano, a bajulação, o culto de personalidade, o enaltecimento da mediocridade e a convivência sem medida e despercebida com aquilo que é sujo e imundo.
O País das Aranhas
Entendemos que na última edição do SA o debate termina com um artigo resposta e contestatório do Advogado, Jurista, Cientista Político e parlamentar João Pinto. E como não podia deixar de ser, talvez pela posição que ocupa, o mesmo não podia, e com toda razão, deixar de cair em elogios a favor de JES ou do que uns chamam de Eduardismo. Nosso Jurista e parlamentar evocou a até a incansável tradição Bantu, não faltando trechos em línguas nacionais, quase sempre comovedoras e que em geral constitui uma boa habilidade para enaltecer as almas nativas, um remédio carismático que até o diabólico e “patriota” Jonas Savimbi usava e sabia usar quando lhe convinha.
A verdade é que ficamos sem entender o porquê da evocação de tais delírios tradicionais para se defender JES e os seus “ideólogos”. Se tradição fosse a única via de salvação desse povo hoje não estaríamos nadando no subdesenvolvimento, no atraso e num mundo ( ou país) de corrupção que nem o JES pode e deve contestar, se verdadeiramente tem todas aquelas qualidades traçadas pelo nosso Jurista . E não que este ( o JES) não mereça ser defendido. Merece, sim, como Presidente da República, como alguém a quem a nação até hoje, feliz ou infelizmente, ainda tem depositado a confiança. Mesmo porque alguns são de opinião de que ele é um bem ou mal necessário que o destino, cheio de tradições e crenças, pregou a esse povo.
É, precisamente, nestas crenças e nestas tradições onde moram as nossas desgraças. É no medo, no oportunismo, no africanismo débil, algo estranho e irrisório, de assustar qualquer visitante que reside a perdição de todos nós. O africano quando velho, e até burro ( desculpem-me), evita ser contestado em nome de uma tradição que nem ele mesmo tem estruturas para defender, em nome de uma tradição que o mundo e o além África não se cansa de rir.
De que JES tem todas as glorias possíveis e até mais -como se vivesse sozinho nesse mundo- ninguém nega; ninguém incluindo aquelas pessoas que rodeiam o próprio JES, ou todos aqueles de que dependem, diga-se economicamente ( poder e riqueza), direta ou indiretamente do mesmo, e que não é pouca gente num país sacrificado pela guerra e a miséria; num país onde só a bajulação, o favoritismo, a promoção da ineficiência e a gratidão eterna ao mesmo ( só invejada pelos deuses) constituem formas e maneiras de distribuição de riqueza. O Dr. João Pinto quase nos convenceu que JES não tem inimigos nesse mundo e é bem possível ( o convencimento fica por conta própria, de cada um de nós), mesmo na posição de Presidente e pelos seus atos políticos, o que tem sim é pessoas e cidadãos que invejam a JES. E uma boa pergunta, a que não deve calar nunca, quem são essas pessoas que inveja o JES? O povo miserável, seus colegas de trabalho, aqueles que rodeiam o presidente, aqueles que igualmente combateram durante os 14 anos contra o colonialismo, os políticos da oposição? Os últimos têm mais motivos e razões que qualquer um de nós. Mas eu diria todos, sem excepção! Como não invejar um homem que a desgraça e a providência de um povo ( e até a ignorância e a cegueira) transformou o mesmo no centro de todas as coisas? É claro que JES não é o típico sujeito arrogante que vive de bravatas e muito menos um ditador como se tem propalado por aí. JES é mesmo bonzinho, tão bom que noutro hora de baixo da raiva de uma nação perdoava os terroristas da UNITA, evitando até ações na arena militar que ajudou a dar fôlego aos homens de Jonas Savimbi, todas às vezes que esses precisavam, prolongando assim uma guerra que poderia ser ganha num tempo muito mais curto, algo que beira a incompetência se a análise vir de um especialista, mas deixemos isso para os historiadores . -Eu não sou militar e não vou me meter nisso, mas os militares sobreviventes e que muitos deles estão na reserva saberiam contar melhor a história das guerras que levou esse país à miséria. Ele é tão bom que hoje, depois da paz ser conquistada e o país atravessar a sua melhor fase de calmaria, os corruptos e aqueles que são subornados para defendem interesses estrangeiros em suas posições ( devido aos cargos que ocupam) como funcionários do governo que ele comanda e dirige desfilam de baixo do seu nariz como anjos que toda sorte trazem para esse povo. A sorte que só ele teve de ser presidente desse país, quando nunca jamais ninguém esperava! É a essa sorte que todos, estupidamente, invejam!
Eduardismo é uma teia cheio de vícios, corrupção, prostituição (...)
Não era para menos, o próprio JES deve ser o homem mais assustado e surpreso na fase da terra, já que tamanha inveja sugere tamanha sorte. A sorte pode ser visto como o produto (ou resposta) não esperado diante de um esforço pessoal ou até coletivo. Não se trata aqui de pôr em cheque a trajetória política e militar de alguém que bem cedo aprendeu a sacrificar a vida e os momentos felizes em benefício da pátria -até parece que era o único que andou sacrificando-se sozinho ao longo de tanto tempo. Trata-se, sim, da cultura do Eduardismo que existe e infestou o Estado e a Nação angolana que o próprio JES e a miséria ajudaram a implantar num gesto e olhar silencioso de enganar qualquer cego e surdo. E que fique bem claro, para alguns adeptos e pretensiosos, o Eduardismo é com certeza a cultura da corrupção que se implantou em toda nação. Não há o que elogiar ou enaltecer nessa maneira de proceder.O Eduardismo não é uma filosofia protagonizada por algum desses pensadores que perderam o seu tempo queimando pupilas e gastando saliva para convencer seus adeptos e discípulos -JES nem perto disso chega; não é uma ideologia inspirada em sacrifícios e valores humanos que possam glorificar uma nação –em nossa análise o atual presidente não está ao nível do falecido Presidente Agostinho Neto, esse, sim, passou perto de uma ideologia que possa inspirar a milhões de Angolanos.O Eduardismo é uma teia cheio de vícios, corrupção, prostituição que o próprio JES, sendo bonzinho como é devia ou deve querer estar se livrando do mesmo; o Eduardismo é uma teia de aranhas. É mesmo isso, vivemos num país de aranhas ou no país das aranhas, onde tudo se adapta a malandragem, a mentira ou de sermos aquilo que nunca fomos, não somos e possivelmente nunca seremos: simples, mas com o sonho de querermos progredir de verdade, trabalhar e trabalhar com sinceridade sem a vaidade, instrumento de que está composto está teia de aranha edificada na era pós-Agostinho Neto .
Esta teia em que todos pensam em se agarrar ou serem agarrados pela mesma, por isso é que nela surgem os defensores ou os “ideólogos” que têm habilidade de forçar a explicação de todo tipo de aberração, coisa muito bem feita pelo Dr. João Pinto.
O Senhor João Pinto como bom jurista e político põe JES a desfilar na galeria dos imortais, ou, minimamente, que ele merece a imortalidade de Ghandhi, Kennedy, Rooselvet, De Gaule, Churchil, etc –talvez eu seja um exagerado pessimista e exigente de mais, mas se a humanidade depender da inspiração provocada por essa galeria de imortais (ou de alguns deles) o fruto a ser recolhido será seco e amargo- que pena e falta de sorte, para os seis bilhões de habitantes! Já sabemos que a maldade tem sido adotada como a outra versão da história a ser contada e ser aceita como ponto de referência e de verdade. Não só pelos derrotados que a história por necessidade evolutiva infringe a esses, mas também por gente cínica, que hoje, mais do que nunca, conseguem substituir a bandeira de uma classe, tida por consenso científico como revolucionária, mas que o neo-liberalismo e os novos ventos que sopram insistem em fazer zumbir no ouvido de milhões de pessoas que é tudo ao contrário do que se tentou descobrir há mais 150 anos atrás, e que quem está com a bola da vez é a nova burguesia.
Assim, o produto nacional não precisa ser tão descartado assim, JES é mesmo um imortal, e melhor do que ninguém ele sabe como se imortalizar. É bem possível que o mesmo há essas horas, e é o que temos visto, tenha começado a redigir já o seu testamento. O exemplo disso, são as TPAs que ninguém consegue entender a que proprietários pertencem, as cabeleireiras de puro sangue transformadas em banqueiras, compradoras de bancos e princesas do dia para a noite num país que tem motivos suficientes para odiar qualquer monarquia, e, enfim, os adolescentes empreendedores e acionistas de bancos, protagonistas de eventos nacionais que nenhum mortal nessas terras teria condições de organizar. São mesmo coisas de imortais!
Não é exagero e segredo dizer para um estrangeiro que o Estado Angolano e o sistema de governação em Angola vive e existe para o seu Presidente , solucionando problemas para agradar a esse, mesmo quando esse, sabe-se, e com razão, não precisa e nem faz questão de tais agrado. Mesmo quando se sabe que este de preferência preocupa-se com resultados gerais que possam beneficiar a nação. E ao longo dos trinta anos de agrado, para lá e para cá, contaminado na sua bondade, o presidente caiu nos vícios indesejáveis que em qualquer nação civilizada do mundo daria em escândalos, renuncias presidências ou impechament.
* Nelo de Carvalho,Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.
Fonte: WWW.blog.comunidades.net/nelo