Luanda - “As utopias consolam, porque se não dispõem de um tempo real, se disseminam, no entanto, num espaço maravilhoso abrem cidades e vastas avenidas, jardins bem cultivados, países fáceis, mesmo que o acesso a eles seja quimérico” (in Michel Foucault, 1991, 49).   

Os termos, situação e local, não são sinónimos. A situação é a posição da cidade em relação aos grandes conjuntos (regiões ou vias de comunicação) que fixam as relações necessárias à realização das funções. Como prisma ilustrativo temos a cidade de Luanda, que é iniludivelmente à base de referência em termos desenvolvimento infraestrutural do país, pelo que a designaríamos por “rota óbvia” sem desprimor para as cidades ribeirinhas. 
 

Em termos Urbanísticos, “O local é o lugar onde a cidade assenta, a localização exacta do espaço construído nas suas relações com a topografia local”.
 

Existem como é obvio, relações entre a situação e o local, impondo-se, e por vezes o local, que pode ser fixado com uma certa liberdade no quadro flexível criado pela situação. Acontece porém que a mesma pode ser explorada por duas cidades, onde a fortuna escolhe entre fazer desenvolver uma ou fazer declinar à outra.
Allix, deu a este fenómeno o nome de «doublets» de cidades. Assim e como marco ilustrativo, escolheríamos a periferia noroeste do planalto Iraniano, nas proximidades de Elburz, duas cidades que teriam podido desenvolver-se com oportunidades iguais: Veramin, foi destruída pela invasão timúrida do século XIV e não era mais do que um modesto aglomerado, enquanto Teerão ultrapassa os dois milhões de habitantes.
 

As casas de habitação e a área sobre a qual persistem, tornam-se no seu fluir sinais da vida quotidiana, onde as secções horizontais das cidades que os arqueólogos nos oferecem, são como uma trama primordial e eterna de viver, como que um esquema imutável.
 

Quem procurar recordar exemplos como, as imagens das cidades que foram alvo de grandes guerras de bombardeamentos, terá diante de si imagens daquelas casas desventradas, em que os escombros permaneciam fixos, os cortes das habitações familiares, com cores desbotadas das tapeçarias, os lavatórios suspensos no vazio, o emaranhado das canalizações, a intimidade dos lugares, as casas de infância no fluir da cidade.
 

As imagens, gravuras e fotografias do desvirtuamento oferecem-nos esta visão de destruição, expropriação e transformação brusca no uso do solo assim como à especulação e obsolescência são alguns dos domínios da dinâmica urbana.
 

Estes sinais de vontades colectivas, expressos mediante os princípios da arquitectura, parecem colocar-se como elementos primários dentre os próprios pontos fixos da dinâmica urbana, que em nosso entender são os princípios e modificações do real que constituem a estrutura da criação humana.
 

O nexo destes problemas e as suas implicações, repartem a ciência urbana ao conjunto das ciências humanas que neste quadro tem uma autonomia própria, mas na linearidade desta analise surge a seguinte questão, quais são então as características da autonomia da ciência urbana?
 

Podemos entender que o estudo da cidade sob muitos pontos de vista apresenta-se porem automaticamente, quando a consideramos como dado último, a construção, à arquitectura. Por outras palavras quando analisamos os factos urbanos por aquilo que eles são como construção última de uma elaboração complexa, tendo em conta todos os dados desta mesma elaboração não podem ser abrangidos pela história da arquitectura, nem pela sociologia ou das outras ciências.
 

Pelo que acreditamos que a ciência urbana entendida deste modo, passa a constituir a história da cultura e, pelo seu carácter global é um dos capítulos principais, só a partir de um método comparativo, da análise metódica da sucessão regular das diferenças crescentes, seria quanto a nós, o guia mais seguro para esclarecer as questões até aos seus últimos elementos.
 

Quanto ao método histórico, sobressai o facto de que não podemos considerar o estudo da cidade como sendo simplesmente um estudo histórico, uma atenção particular deve ser dada ao estudo da permanência, e sobre isso aquilo que alguns autores chamam de elementos permanentes.
 

Em relação ao significado de elementos permanentes no estudo da cidade, pode ser comparado com aquele que eles possuem na língua e é particularmente evidente, que o estudo da cidade apresenta algumas analogias como a linguística sobretudo no que respeita a complexidade dos processos de modificação e as permanências.
 

A historia das ideias das cidades, ou das cidades ideais é a historias das utopias urbanas, tal como a historia da arquitectura e dos factos urbanos, é sempre a historia da arquitectura das classes dominantes, levando-nos ao entendimento e, no âmbito do projecto de requalificação urbana de Luanda, dever-se acautelar os limites para se verificar o sucesso das chamadas “épocas da revolução” compondo assim um modo próprio e concreto de organizar a cidade.
 

Numa perspectiva mais generalista, e sob o ponto vista do estudo de outras cidades pelo mundo a fora, deparamo-nos com duas posições muito diferentes, tendo como base inicial do estudo destas posições, bastará compulsar a historia da cidade grega e a partir da composição e da contraposição da analise aristotélica do concreto urbano, e da Republica platónica dentre outras.
 

Numa perspectiva mais metódica, abriríamos aqui uma via para o estudo da cidade, da geografia e arquitectura urbanas, contudo é indubitável que não nos podemos aperceber, do valor concreto de certas experiências se não agirmos, tendo em consideração estes dois planos de estudos, de facto algumas ideias do tipo puramente espacial modificaram de modo notável e em formas de intervenções directas ou indirectas os tempos e os modos da dinâmica urbana.
 

Algumas ideias do tipo puramente espacial, podem modificar o modo notável e em formas, e com intervenções directas ou indirectas os tempos e os modos da dinâmica urbana, na elaboração de uma teoria urbana podemo-nos referir a uma mole importante de estudos, mais devemos tê-los em conta nas mais diversas maneiras e valermo-nos deles, no que tange à construção de um quadro geral de uma especifica teoria urbana, que em nosso entendimento e sobre a matéria em análise, é possível perscrutar, pelo menos dois grandes sistemas:
 

O primeiro é o que considera a cidade como uma estrutura espacial, nascendo da análise dos sistemas, político, económico e social, e é tratado sob o ponto de vista destas disciplinas.
 

O segundo ponto de vista pertence à preferência da arquitectura e da geografia, numa tentativa de se evitar o mais possível as “ heterotopias” tanto as de crise como as de desvio e até mesmo as de colocação.
  

Em suma, apraz-nos verberar, que o processo de urbanização traduz-se numa progressiva diferenciação resultante da mobilidade quotidiana, dos espaços de habitação, trabalho e lazer, na medida em que as várias funções estão instaladas em bairros especializados, e que já não é possível para a população satisfazer o conjunto das suas necessidades ficando apenas no memo lugar.   
 
 
 

Cláudio Ramos Fortuna


Urbanista


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Fonte: Club-k.net