Lisboa -Ontem de manhã, um dia após a infundada tentativa de golpe de Estado que vitimou 4 cidadãos guineenses, entre eles Hélder Proença, ex- Ministro da Defesa, Deputado da Nação e dirigente do PAIGC, Baciro Dabó, candidato presidencial, Ministro da Administração Territorial (com pedido de suspensão de funções devido à candidatura presidencial), deputado e dirigente do PAIGC, falei com Bissau para tentar desvendar o porquê de o Comunicado dos Serviços de Informação do Estado que deu a conhecer uma alegada tentativa de golpe de Estado na Guiné-Bissau, ter sido assinado pelo Director-Geral Adjunto dos referidos serviços, o Coronel Samba Djaló e não pelo Director-Geral, o Coronel Antero João Correia.

Prontamente fui informado de que o Coronel Antero João Correia estaria supostamente detido na Base Aérea, sem que se soubessem os motivos.
À tarde, estive com um amigo e manifestei-lhe essa preocupação, tendo o meu amigo dito o seguinte: Olha, ainda há poucos dias vi o Coronel Antero João Correia no Centro Comercial de Massamá (Portugal), estava ele de calções e chinelos, todo descontraído...No entanto, se me dizes que ele pode estar detido, vou falar com alguém para confirmar se ainda está cá em Portugal ou se já regressou a Bissau.

O certo é que confirmou-se depois que o Coronel Antero João Correia tinha regressado a Bissau, tendo sido detido por recusar emitir e assinar um Comunicado dos Serviços de Informação do Estado acusando diversas pessoas de estarem envolvidas numa tentativa de golpe de Estado.

Reapreciando o Comunicado emitido pelos Serviços de Informação do Estado apenas umas horas após as mortes de Baciro Dabó, Hélder Proença, um seu guarda-costas e o seu motorista, fiquei certo de que o referido Comunicado teria sido elaborado antes dessas mortes, senão vejamos:

O Comunicado apresentou uma lista detalhada de diversas figuras, acusando-as de envolvimento numa tentativa de golpe de Estado.
Questiona-se como podem os Serviços de Informação de Estado, no espaço de 4/5 horas, ter a certeza absoluta do envolvimento de todas essas figuras acusadas e, num momento de apreensão por uma suposta tentativa de golpe de Estado, conseguir emitir um Comunicado acusatório contra políticos, entre eles alguns deputados da nação e militares que se encontram no estrangeiro e que, há muito não têm estado ao serviço das Forças Armadas da Guiné-Bissau?

Se o Comunicado não tivesse sido redigido antes das mortes ocorridas, o mesmo deveria mencionar os nomes das pessoas mortas, neste caso, Baciro Dabó, Hélder Proença, o seu guarda-costas e o seu motorista;

Se o Comunicado não tivesse sido redigido antes das mortes ocorridas, não teria sido justificada resistência das pessoas assassinadas, pois confirmou-se que Baciro Dabó foi morto em sua casa, depois de ter jantado com várias pessoas, entre as quais, o seu Director de campanha, que com ele esteve até às duas da madrugada.
Os únicos disparos em casa de Baciro Dabó foram os que o mataram, posto isto, não houve nenhuma resistência do assassinado!

Igual argumento serve para o assassinato de Hélder Proença, seu guarda-costas e o seu motorista. Não há dúvida de que o Comunicado foi redigido antes, o que quer dizer que, já havia intenção de matar, pelo menos Baciro Dabó e Hélder Proença!
Por outro lado, há uma referência explicativa muito intrigante sobre as motivações da tentativa do golpe de Estado " (...) que visava entre outras:

1 - A liquidação física do actual Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Capitão de-Mar-e-Guerra, José Zamora Induta e do Primeiro-Ministro Senhor Carlos Gomes Júnior, que infelizmente se encontra no exterior do país;"
Porquê o termo  infelizmente em relação à ausência do Primeiro-Ministro Carlos Gomes Jr.?
Será que o Primeiro-Ministro poderia, eventualmente, ser uma das vítimas caso estivesse na Guiné, para melhor se justificar uma alegada tentativa de Golpe de Estado, permitindo inclusive uma acção militar concertada que pudesse colocar Zamora Induta como Homem forte de um regime militar que forjaria provas de toda a espécie contra este alegado Comité, alegadamente liderado por Hélder Proença, para não ser condenado pela Comunidade Internacional?

Bem, isto é só um aparte nesta análise, até porque o Senhor Carlos Gomes Jr. dá-se muito bem com o seu Protector José Zamora Induta, pelo menos, até ver...
Para lá de um Comunicado assente na Mentira, hoje foi realizado o funeral de Baciro Dabó. Vejamos as contradições que se seguem:

O Governo da Guiné-Bissau não desmentiu a existência de uma tentativa de golpe de Estado, atribuída, segundo o Comunicado dos Serviços de Informação do Estado, a Hélder Proença, como líder da intentona e aos demais elementos constantes na lista divulgada. Lamentou as mortes e pediu um inquérito ao Ministério Público, como se o Ministério Público funcionasse com base em pedidos do Governo para fazer o que lhe compete...
Ficou-se a saber que o mesmo Governo que não desmentiu a intentona, queria realizar um Funeral de Estado a Baciro Dabó...Isto é ridículo!

Como fazer Funeral de Estado a um suposto golpista?
É que se o Governo não desmentiu a participação de Baciro Dabó na alegada tentativa de Golpe, confirma estar de acordo com o Comunicado dos Serviços de Informação do Estado.
Por outro lado, se o Governo decide por um Funeral de Estado de um suposto golpista, está a contrariar o Comunicado dos Serviços de Informação do Estado.
Só não houve Funeral de Estado porque a família de Baciro Dabó recusou e muito bem, tamanha hipocrisia! Que vergonha Sr. Primeiro-Ministro Carlos Gomes Jr.!
Está o Governo a par desta contradição que coloca em causa a sua credibilidade?!
Classifica-se Baciro Dabó como golpista ou como vítima de uma acção criminosa das Forças Armadas?!

A mesma questão se coloca em relação a Hélder Proença!
Ainda há Governo na Guiné-Bissau?
É que a haver Governo, numa situação de tentativa de golpe de Estado ou outra, jamais seria a Direcção-Geral dos Serviços de Segurança do Estado a comunicar essa ocorrência, até porque esses Serviços estão sob tutela do Ministério do Interior e se o dito Comunicado não tivesse sido feito antes da ocorrência das mortes, a situação deveria ser apresentada ao Governo que depois de avaliar todos os dados emitiria o Comunicado oficial que não poderia ser assinado por um Director-Geral ou seu Adjunto, mas sim, pelo Ministro do Interior, ou por alguém de elevado estatuto no Governo.

No Comunicado não foi referenciado o nome das Forças Armadas, mas sim a Polícia Militar...No entanto, depois das primeiras reacções, fruto de análises ao Comunicado, que consideravam uma Mentira a tese de tentativa de golpe de Estado, eis que surge o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas interino, José Zamora Induta a dizer que as Forças Armadas é que tinham abortado uma tentativa de golpe de Estado... Então, afinal quem se apressou a redigir o Comunicado de todas as contradições e uma vez que uma tentativa de golpe de Estado é um assunto sério, porque foi assinado por um Director-Geral Adjunto, ou porque deveria ter sido assinado pelo Director-Geral dos Serviços de Informação do Estado, mesmo sabendo-se agora que o próprio Director-Geral dos Serviços de Informação do Estado está detido porque recusou elaborar e assinar um Comunicado forjado contra diversas personalidades?!

Há ou não Governo na Guiné-Bissau, Senhor Presidente da República interino?!
É ou não o Senhor Carlos Gomes Jr. Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau que, estando ausente, em Portugal, dá a entender que a situação na Guiné-Bissau não é grave, ao ponto de calmamente dizer que só regressa a Bissau no próximo dia 12 de Junho?!

Isto é ser responsável?
Isto é estar comprometido com o país?

Senhor Primeiro-Ministro Carlos Gomes Jr.; Senhor Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, José Zamora Induta ... os guineenses já viram o suficiente para não terem dúvidas que os senhores estão muito bem sintonizados nesta " Nova Pacificação" da Guiné-Bissau...
Fiquem cientes de que: Não permitiremos mais matanças na Guiné-Bissau!
Vamos continuar a trabalhar!

Fonte: Didinho.org