Luanda - A FLEC/FAC, um grupo que reclama a independência de Cabinda, perdeu o seu “secretário de Estado para o Interior e Segurança”, Carlos António Moisés, também conhecido por “Rótula”, que se apresentou às autoridades angolanas em Dezembro do ano passado.

Fonte: Jornal de Angola

Rótula, 59 anos, mais de 40 dos quais nas fileiras da FLEC, e mais três colaboradores chegaram a Luanda no dia 17 de Dezembro do ano passado, vindos de Kinshasa, depois de contactos com as autoridades angolanas. Em Novembro do ano passado, o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, terá acusado a recepção de uma carta em que os dissidentes manifestam o desejo de se deslocar a Luanda para contactos com as autoridades. O Chefe de Estado anuiu ao pedido.

 

Carlos Moisés ocupava desde 1995 o cargo de secretário de Estado para o Interior e Segurança da FLEC/FAC, o terceiro mais importante na hierarquia da organização, depois do presidente, exercido actualmente por Alexandre Tati, e do chefe do estado-maior-geral, por Estanislau Miguel Boma. Rótula, que tem uma esposa e seis filhos em Cabinda, e uma outra companheira com dois filhos em Kinshasa, declarou ter abandonado a organização após concluir que não é o conflito que vai solucionar o problema do enclave. Carlos Moisés fez-se acompanhar do seu secretário, Donato Matuto, e dos seus conselheiros jurídico e militar, Pascoal Puaty e Carlos André Massanga. “Depois de uma profunda reflexão, concluímos que era melhor abandonarmos a via militar ou armada e procuramos uma solução através do dialogo com o Governo, para podermos estabelecer a paz total na província de Cabinda e trabalharmos para o seu desenvolvimento”, disse Carlos Moisés.

 

Rótula acusou Alexandre Tati e Estanislau Boma de privilegiarem o conflito, ao invés do diálogo, para alcançarem os seus intentos, instigando o então líder, Nzita Tiago, a enveredar pelo caminho da violência.

 

A FLEC/FAC não tem condições para realizar acções de grande impacto, por falta de meios bélicos e da ajuda externa, disse Carlos Moisés, que a título de exemplo revelou que a maior parte do armamento usado pela organização de Alexandre Tati está obsoleto, uma vez que foi adquirido em 1975. “Se fomos resistindo, foi graças àquilo que fomos recuperando ou desenrascando”, contou.

 

As informações que têm sido veiculadas sobre supostos ataques da organização, disse, não passam de simulações, para dar a entender que a FLEC ainda está viva. “Essas notícias são montagens”, declarou.

 

Carlos Moisés disse que o conflito armado não é a solução para o que a FLEC/FAC pretende, razão pela qual preferiu vir a Luanda para, junto do Executivo, prestar a sua contribuição, no quadro do Memorando de Entendimento para a Paz e Reconciliação de Cabinda, assinado entre o Governo angolano e o Fórum Cabindês para o Diálogo (FCD), em Agosto de 2006. “Estou à disposição do Governo”, afirmou.

 

O antigo dirigente da FLEC/FAC realçou a recepção com que ele e os quatro companheiros foram brindados à sua chegada a Luanda. “Fomos muito bem recebidos, como irmãos. Estamos a ser bem tratados”, afirmou. “Não somos alvo de vigilância, como alguns podem pensar. Somos pessoas livres”, assegurou.


A família, segundo o antigo dirigente da FLEC/FAC, está muito feliz por saber que, depois de longos anos, Carlos Moisés abandonou, finalmente, as matas. “Este sempre foi o desejo da minha família. Sobretudo da minha mãe, que agora está ansiosa em ver-me de novo no convívio familiar, em Cabinda”, contou.

 

Além dos três companheiros que o acompanham, Carlos Moisés mantém contactos com dois sobrinhos, que residem em Luanda. “Converso regularmente com eles”, disse.

 

Rótula disse não temer qualquer retaliação por parte dos seus antigos companheiros de luta, na eventualidade de regressar a Cabinda.

 

“Seria retaliado talvez por incompreensões”, admitiu, para mais adiante anunciar uma espécie de profecia: “Por tanto que resistirem, um dia hão-de enveredar pela mesma via que tomei.” O antigo dirigente da FLEC/FAC aproveitou a ocasião para lançar um apelo aos que ainda seguem os ideias de Alexandre Tati e Estanislau Boma.

 

“Abandonem essa ideia. Não tenham ilusões, só com o diálogo vai ser possível alcançarem os vossos objectivos. Continuarem a via armada é aumentarem o vosso sofrimento”.