Image"Nandó" e Manuel Vicente
fora da corrida de sucessão

Lisboa - José Eduardo dos Santos (JES) tenciona fazer do congresso do MPLA, em Dez, e das eleições presidenciais, previstas para 2010, “oportunidades” para lançar o processo da sua substituição, a finalizar num de 2 cenários: por renúncia, no decurso do mandato a iniciar em 2010; por não recandidatura para novo mandato, em 2015.

A intenção de JES de “abrir” o processo da sua substituição (o desígnio imediato consiste em conferir-lhe forma e sentido), é considerada decorrente da noção que o próprio tem de que o vácuo que de envolve o assunto se vem tornando inconveniente por razões como as seguintes:
- É um factor de imprevisibilidade política, agravada pela natureza pessoal que, de facto, o poder tem em Angola; a imprevisibilidade não gera confiança.

- Dá azo a movimentos internos de pressão e influência, propiciados pela acumulação privada da elite do regime e pelo descontentamento social.

Um intelligence estimate sobre o assunto refere que JES está agora mais preocupado com a sua sucessão (e o seu futuro), até por entender que faz assim demonstração de sentido de responsabilidade. Particulariza, porém, que não há indicações plausíveis acerca de quem JES tem em mente para o substituir.

2 . A nova constituição, a entrar em vigor ainda em 2009, vai consagrar a figura do vice-PR. A personalidade que JES indicará como candidato a vice-PR nas eleições de 2010, será o novo PR, caso se confirme o cenário de renúncia no decurso do respectivo mandato. Mas não é certo que o seja em caso de conclusão normal do mandato.

Há desencontrados rumores acerca de quem JES escolherá como candidato a vice-PR, admitindo-se mesmo que poderá ser uma personalidade não conotada com o MPLA. À luz de tais conjecturas a importância do congresso consistiria especialmente em aprovar e apoiar a linha de JES.

A hipótese de JES se retirar da vida pública por efeito de uma não apresentação da sua candidatura às eleições de 2010 está excluída, a não ser por razões de força maior. O
próprio acha que “merece” ser eleito. Também vê isso como “corolário” da acção política de alguém que ficou ligado ao fim da guerra civil e à recuperação do país.

3 . JES exterioriza escassamente, mesmo em ambientes de recato, os seus sentimentos íntimos – sobre quase tudo, em geral; em particular sobre questões-chave da sua retirada política e sobre a sua saúde. O único desabafo que se lhe conhece sobre o modo que prefere para sua substituição é o de que “a solução de Putin foi uma boa solução”.

De acordo com uma abalizada interpretação do desabafo JES tem inclinação por uma figura relativamente desconhecida ou em afirmação, sem créditos políticos ou mediáticos, mas com potencial para adquirir prestígio em razão de predicados como boa formação técnica, integridade, juventude e capacidade de renovação

A afirmação de uma figura politicamente desconhecida, embora dotada de méritos pessoais, dependeria do patrocínio do próprio JES – o que lhe conferiria uma posição de ascendência susceptível de projectar as suas influências para além do momento da sua retirada.

Nos últimos meses JES tem estado empenhado em iniciativas destinadas a elevar o seu prestígio interno e internacional – propósito também ligado à criação de ambiente benigno à sua retirada futura e à criação de condições gerais destinadas a garantir o seu futuro. Uma melhoria da sua reputação no plano interno é a principal preocupação de JES.  O crescimento do país foi irregular; gerou desigualdades e fomentou descontentamentos. A riqueza do país está concentrada numa minoria inexpressiva; 68% da população vive em estado de pobreza, agravada por ausência de condições básicas de vida.

O banco de investimento a criar entre a CGD e a Sonangol destina-se essencialmente a financiar projectos de carácter social; a sua criação foi anunciada por ocasião da visita de JES a Portugal. O seu nome ficou também ligado a um plano recente para a construção em larga escala de habitação social.

4 . A opção por uma figura neutra apresenta para a JES a vantagem adicional de não ter de não identificar a sua escolha com tendências ou facções internas, evitando e/ou escapando assim a movimentos de pressão alimentados preferência de uma figura em detrimento de outra.
A vontade de JES de se retirar, agora mais notória que antes, tem estado condicionada por focos internos de pressão, em geral animados por figuras do seu círculo próximo e também por membros da sua família – aparentemente movidos por pressentimentos negativos de perda de estatuto e vantagens.

Há cerca 10 anos, numa conversa privada com Collin Powel, JES manifestou-lhe ostensivamente vontade de se retirar, mas ressalvando que as circunstâncias de então, agravadas entretanto, não o aconselhavam a fazê-lo: abrir-se-ia um processo de lutas intestinas capaz de fragilizar a coesão do regime.

5 . O tema da sucessão de JES é objecto de cíclicos rumores internos – por vezes sob a forma de cálculos ardilosos. Comenta-se que alguns dos rumores são “inspirados” pelo próprio JES ou pelo seu círculo, em obediência a uma habilidade conhecida como “método do Golungo Alto”, que consiste em anular figuras por meio da sua exposição.

São consideradas reflexos de tal fenómeno informações anteriores (AM 371) segundo as quais JES estaria inclinado por Fernando da Piedade Dias dos Santos ou por Manuel Vicente como seus eventuais substitutos. Ambos consubstanciam exemplos de activa ligação ao passado que JES não quer.

6 . A presente aplicação de JES em começar a abrir o processo da sua sucessão é igualmente considerada decorrente de factores adicionais como o estado de fadiga que denota e a sua própria saúde – esta obrigando-o a regulares sessões de controlo médico (AM 362), nos últimos dois anos rodeadas de apertado sigilo.

O cansaço de JES é visto como causa natural de realidades como uma estrutura de poder muito concentrada em si próprio e dele dependente, no essencial. Até ao fim da guerra os assuntos que mereciam a sua atenção eram de natureza militar e de segurança; ou política, quando relacionada com aqueles.

Nos últimos anos o poder económico e financeiro cresceu desmesuradamente. O controlo do centro de poder económico-financeiro está em larga escala concentrado na PR e no seu círculo. A parte remanescente dispersou-se e deu lugar a novos fulcros de poder, com capacidade de acção própria e por isso merecendo também atenção.

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Fonte: AM