Luanda - A eurodeputada portuguesa Ana Gomes manifesta-se preocupada com a situação pós-eleitoral em Angola e teme que o processo em curso possa vir a ser uma mancha no caminho democrático do país.

Fonte: VOA

Em entrevista à VOA via Skype, Gomes lamenta o facto de o Governo não ter permitido à União Europeia (UE) enviar observadores às eleições porque, segundo ela, não pretendia ver fiscalizada a contagem dos votos.


“Estou convencida de que esta é a razão porque o MPLA não aceitou as condições que a União Europeia pede a todos os países onde vai observar eleições”, adianta Gomes, justificando a sua posição com o facto de que a UE“exige sempre ter acesso a todos os locais e à contagem e tabulação de votos”.


A eurodeputada pelo Partido Socialista português mostra-se também preocupada com as críticas da oposição e de activistas aos resultados apresentados pela Comissão Nacional de Eleições e teme que estas desconfianças coloquem em perigo todo o processo, no qual, segundo ela, registou-se “uma grande e tranquila participação dos angolanos”.

Falta de transparência

Sem transparência, diz, a imagem do país fica muito afectada porque, para Ana Gomes, “não servirá de nada a Angola que o partido no poder declare vitória se as forças da oposição não aceitarem esses resultados nem o processo pelo qual esses resultados foram conseguidos”.

 

A este propósito, a deputada socialista lembra que o Governo angolano também rejeitou a presença de observadores da UE em 2012, altura em que, diz, "o doutor Durão Barroso (presidente da Comissão Europeia na altura) fez um favor grande jeito ao Governo angolano", ao dizer que "Angola não precisava de observação eleitoral".

 

Questionada sobre comentários de alguns observadores políticos que destacam o facto de, ao contrário de muitos outros países africanos, onde os partidos no poder ganham eleições com mais de 90 por cento, em Angola o MPLA ficar em torno dos 61 por cento, Ana Gomes refuta essa leitura e afirma que os angolanos merecem uma democracia de alto padrão.

 

“Não sou racista, nem sou colonialista, defendo para África aquilo que defendo para Europa em termos de transparência, de processos eleitorais e respeito pelos direitos democráticos”, revela a eurodeputada socialista, que reitera não alinhar em teses que “pretendem sugerir que há padrões abaixo dos padrões europeus e internacionais para eleições democráticas e credíveis em África”.

 

Para Gomes “Angola e os angolanos merecem muito mais”.